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No meu não

03 promete dar 10 a quem for usar a máscara no rabo

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Autor/Imagem:
Mathuzalém Junior*

Após dias, semanas de recordes, o Brasil, em 48 horas, somou mais de 4,5 mil mortos vítimas da Covid. Desde o início da pandemia em solo nacional, o quantitativo de pessoas que viraram números é superior a 270 mil. Seria uma triste estatística para governantes ou autoridades sérias de qualquer parte do mundo. Para nós, serviçais ou incrédulos, restou o rabo para enfiarmos a máscara, o atestado de óbito de entes queridos, a vontade de ser vacinado e, sobretudo, o antigo orgulho de ser brasileiro. Foi essa a determinação vulgar do deputado federal Eduardo Bolsonaro, o filhinho 03 do presidente da República. Nada de anormal. Afinal, tal pai, tal filho. Como diz um querido amigo, na brinquedoteca dos Bolsonaro não tem tédio. Todo dia temos uma novidade ou um brinquedo diferente para ser apresentado à parcela que ainda acredita em duendes.

Como cachorro correndo atrás do rabo (não o de 03), o presidente determina o que os subordinados chamados de seus devem dizer. O pior é que eles aceitam às gargalhadas. Foi assim lá atrás, quando o ministro Eduardo Pazuello teve de desmentir publicamente o acordo com o laboratório chinês Sinovac para compra da CoronaVac, a mesma vacina adquirida pelo governo de São Paulo e atualmente utilizada em rede nacional. O capitão até hoje não admite que ali começou seu calvário vacinal (não confundam) e a sinuca de bico que nem a máscara fora do rabo consegue solucionar. Remunerados ou não, seus bonecos de repetição são ainda piores. Despreocupados com a imagem que um dia imaginaram ter, veiculam mentiras grotescas e, graças à grossa maquiagem, não demonstram nenhum rubor.

Não vi, mas fui informado pela verve atenta do jornalista Paulo Cotta sobre um comentário fantasioso e bajulador de Alexandre Garcia na CNN Brasil. Segundo Garcia, basta ver a liderança do Brasil na vacinação para se perceber que Pazuello está indo muito bem no comando da pasta da Saúde. Ou habitamos países diferentes ou o rapaz está tentando algum contrato naquela importante rede de televisão saudita: a Al-Jazzira, que pode agregar quem tem alzheimer. Enquanto não se confirma a contratação, contento-me com a resposta de Paulo Cotta no Facebook: “Delírio, insanidade ou má fé”. Talvez as três coisas juntas. Como Garcia deu uma opinião, ninguém da emissora o contestou. Entretanto, é contestado diariamente pelos números. A exemplo do governo, Alexandre Garcia, apesar do peso nas costas, esquece que a sabedoria não é uma decorrência de eventuais acertos, mas do aprendizado com os constantes erros.

Assumi-los é tarefa complicada para quem sempre chamou ou chama de seu o que é de todos, a começar pelo país, pelo Exército, eleitorado e o Palácio do Planalto. Uma das poucas coisas de que eles fogem a qualquer espirro é a saúde da população. Ainda ontem, em nova ameaça velada, Jair Bolsonaro anunciou que, como chefe das Forças Armadas, fará o que povo quiser. O recado carregado de ódio era para os governadores e prefeitos que, para preservar vidas, insistem em fazer o que o governo federal não faz: sugerir medidas de restrição social contra a pandemia. Sobre essa nova ameaça, os brasileiros sensatos, corretos e com os neurônios nos devidos lugares entendem que, antes de efetivá-la, serão necessárias longas negociações com os russos, na medida em que não contamos mais com o apoio dolarizado e amazonizado dos Estados Unidos.

Em síntese, passado o torpor (não o pavor) pelo retorno de Lula à disputa eleitoral, o presidente da República voltou à normalidade. Esse novo velho Bolsonaro deveria ouvir o ensinamento de “subordinados” ou “ex-subordinados” de patente superior sobre a sociedade. Relativamente ao efeito Luiz Inácio, o vice-presidente general Hamilton Mourão, reconhece que o povo é soberano e, caso queira Lula, “paciência”. Ex-ministro chefe da Secretaria de Governo da Presidência, o também general Santos Cruz vai além. Ele afirma que a situação atual é diferente daquela vivida no período pré-prisão do ex-presidente que gerou uma manifestação do general Eduardo Villas Bôas, jogando pressão sobre o Supremo Tribunal. Infinitamente mais sábios, ambos sabem que, unida, a sociedade realmente é soberana e capaz de desmontar mentiras, romper barreiras, devolver ameaças e acabar com bandalheiras.

Como integrante dessa gente denominada popularmente (às vezes jocosamente) de povo, admito que o brasileiro está igual a um elefante: não sabe a força que tem. Estamos no olho do furacão, mas, certamente a pedido do presidente, o ministro da Saúde concede entrevista assegurando que os governadores mentem ao dizer que não dispõem de mais leitos. Na outra ponta, médicos afirmam que hospitais públicos e privados estão saturados. Não é razoável que alguém em sã consciência não perceba a situação de calamidade. Parece – e é – outro tipo de brincadeira para esconder a inércia e a incapacidade de buscar soluções para o colapso que não consegue mais ser escondido. A situação é insustentável, na mesma medida em que é inconcebível o 03 determinar o rabo como esconderijo para a inoperância e os desvarios do governo.

Ouvindo a história do rabo, lembrei-me de um meme alusivo ao ex-juiz Sérgio Moro, que deve ter brochado ao ouvir que sua vara não tinha competência para determinado julgamento. Membro feliz da imprensa mequetrefe, entendi a ordem de mão única (sem direito de resposta) do deputado como mais um ensinamento do bolsonarismo. Como vulgarizam os dados da pandemia, devem ter encontrado o lugar ideal para o uso da máscara. Definitivamente, Oscar Niemeyer tinha razão ao cunhar, no aniversário de 102 anos, uma célebre frase para homenagear a capital federal. “Projetar Brasília para os políticos que vocês colocaram lá foi como criar um lindo vaso de flores para vocês usarem como penico. Hoje, vejo tristemente que Brasília nunca deveria ter sido projetada em forma de avião, mas sim de camburão”. Tudo a ver.

*Mathuzalém Junior é jornalista profissional desde 1978

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