Juan Jensen
8 de julho de 2014. 17h, Mineirão lotado e vibrando de forma diferente. O Brasil começou o jogo de igual para a igual com a poderosa Alemanha. Afinal, a Copa era no Brasil! 10 minutos, gol da Alemanha! “Ainda dá”, pensavam os mais de 50 mil torcedores no estádio e os 200 milhões fora de lá. 22 minutos, gol da Alemanha! 24 minutos, gol da Alemanha! 25 minutos, gol da Alemanha! 4×0, ou seja, já não dava mais. 28 minutos, gol da Alemanha! Isso tudo apenas no primeiro tempo. O resultado do jogo todos sabem: 7×1, com o gol de honra aos 45 minutos do segundo tempo. E ainda podia ter sido pior, se a Argentina tivesse vencido a Copa em pleno Rio de Janeiro.
2 de janeiro de 2015. Novo governo, mesma presidente e nova equipe econômica. Expectativas positivas com relação ao novo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, apesar de muitos torcerem contra ele e contra o país (assim como ocorre na Copa do Mundo). Pesquisa Focus do Banco Central apontava inflação de 6,56% e crescimento do PIB de 0,50% para 2015, o que na época gerou piadas de que este seria o nosso 7×1 econômico.
Antes fosse! Ao longo do ano, o ministro foi perdendo importantes batalhas e, diferentemente da Copa, no campo econômico, o resultado foi bem pior, com inflação perto de 11% e crescimento negativo em quase 4%. De lambuja, perdemos o ministro Levy e a esperança de voltar a crescer com inflação estabilizada no curto prazo, algo ainda imaginável no início de 2015, caso fossem feitos os ajustes necessários.
4 de janeiro de 2016. Mesmo governo, mesma presidente e novo ministro da Fazenda. Muita desconfiança com relação a Nelson Barbosa. Pesquisa Focus aponta inflação de 6,87% e crescimento negativo do PIB de 2,95% para este ano. Novamente temos saudades do 7×1. Como seria bom ver o país crescer, mesmo que somente 1%. Mas como será 2016? Quais são os principais fatores de risco associados para este ano?
Um primeiro ponto a analisar é qual será a política econômica do novo ministro. Muitos economistas respeitados têm dito que ele voltará a adotar os princípios da “Nova Matriz Econômica”, que tem em um de seus fundamentos a expansão fiscal. Ou seja, Nelson Barbosa interromperia o ajuste fiscal iniciado por Levy e daria um giro de 180 graus, passando a gastar e a expandir o crédito com taxas de juros subsidiadas via bancos públicos.
Se houver um giro, achamos que será de 360 graus. Nelson Barbosa é desenvolvimentista sim, mas tem defendido já há bastante tempo a necessidade do ajuste fiscal. Ou seja, a direção da política econômica deve seguir exatamente igual. A diferença será mais na velocidade do ajuste fiscal e não em sua direção. Assim, a meta de 0,5% do PIB para o superávit primário de 2016 não deve ser atingida. A verdade é que não seria atingida mesmo com o ministro Levy.
Desta forma, devemos caminhar para o terceiro ano consecutivo de deficit primário e com dívida bruta chegando a 74,7% do PIB. Perderemos o grau de investimento pela última agência importante de classificação de risco e teremos novas reduções de nota naquelas pelas quais já perdemos o selo de bom pagador.
Adicionalmente, a desconfiança do mercado com relação à atuação do novo ministro cobrará seu preço, em termos de prêmio de risco mais elevado, taxa de câmbio mais depreciada, inflação mais alta e menor crescimento. Essa desconfiança vem justamente de suas ações na própria Fazenda em 2011 e 2012, sendo um dos principais formuladores da política econômica do primeiro mandato de Dilma. Neste sentido, mais pela desconfiança de mercado que pelas ações do novo ministro, a 4E Consultoria revisou recentemente as suas projeções para 2016.
Em termos de atividade econômica, teremos certamente nova retração em 2016. Só o efeito carry-over que vem da trajetória negativa ao longo do ano passado é de 2,1 pontos percentuais. Isto é, se a economia brasileira ficasse estagnada a partir de agora no nível de produto do 4º trimestre de 2015 observaríamos uma retração de 2,1% no ano de 2016. Entretanto, antes de a economia andar de lado, deveremos observar novas quedas de atividade, dadas a queda de renda e a confiança ainda baixa, como também em função dos ajustes fiscais e monetários ainda em curso. Assim, projetamos uma retração de 3,4% para o PIB deste ano.
Já que citei o aperto monetário, todas as sinalizações do Banco Central indicam que ainda neste mês terá início um novo ciclo de alta dos juros. Acreditamos que este ciclo seja bastante breve, de apenas 1 ponto percentual, e que a taxa de juros já entre em redução nos últimos meses do ano. Essa redução não vem dos preceitos da “Nova Matriz Econômica”, mas vem porque o quadro de inflação ao final de 2016, com vistas a 2017, estará um pouco mais tranquilo.
Na inflação, após os quase 11% do ano passado, provavelmente teremos novo rompimento da banda em 2016. Projetamos alta de 7,4% para este ano, com impacto importante vindo da depreciação do câmbio, que não só fechou ano passado perto de R$ 4/US$, mas que deve caminhar para perto de R$ 5 ao longo deste ano (projetamos taxa de R$ 4,75/US$ ao final de 2016).
Em resumo, o ano de 2016 será tão difícil como foi 2015. Inflação ainda alta e economia em retração. Ainda, eventuais novas descobertas sobre escândalos de corrupção e esqueletos a pagar de gestões anteriores podem levar a um quadro econômico ainda pior do que o inicialmente previsto. Se tivéssemos 7% de inflação e 1% de crescimento seria uma grande vitória, daquelas de soltar rojões. Esperamos que novas surpresas negativas não apareçam, nem na economia e nem na Olimpíada do Rio.