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Virose

Uma conversa pra lá de imaginária com o Raul

Publicado

Autor/Imagem:
Eduardo Martínez - Foto Produção Irene Araújo

Acordei para vomitar. Peguei um balde e chamei o Raul até onde não podia mais. Certamente a minha mulher ouviu, mas seria indelicado pedir para que ela enfiasse o dedo na minha goela. Na manhã seguinte, tivemos a seguinte conversa:

— Vomitei.

— Eu ouvi. Bebeu?

— Não bebo. Você sabe que não bebo.

— Sei disso… Mas bebeu?

— Você só deve estar de brincadeira, Maria Lúcia.

Minha esposa sabe que só a chamo pelo nome composto quando estou enfezado.

— Sabe o Joaquim?

— Que Joaquim?

— O marido da Anelise.

— Sei. O que tem ele?

— Ele também não bebe.

— E daí?

— Daí que bebeu e vomitou durante toda a noite de sábado.

— Mas eu não bebo!

— Ele também não bebia.

— Já vi que você tirou o dia pra me torrar a paciência.

— Teve diarreia?

Quando já ia responder que não, eis que me deu um revertere na barriga e corri para o banheiro a tempo de salvar o resquício da minha dignidade.

Após provocar todos os sons inimagináveis, finalmente me senti aliviado. Aproveitei e tomei uma ducha. Voltei para o quarto, e a minha esposa, com aqueles olhos repletos de pena de mim, profetizou.

— Virose!

*Eduardo Martínez é autor do livro “57 Contos e Crônicas por um Autor muito Velho”.

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