Virose
Uma conversa pra lá de imaginária com o Raul
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emAcordei para vomitar. Peguei um balde e chamei o Raul até onde não podia mais. Certamente a minha mulher ouviu, mas seria indelicado pedir para que ela enfiasse o dedo na minha goela. Na manhã seguinte, tivemos a seguinte conversa:
— Vomitei.
— Eu ouvi. Bebeu?
— Não bebo. Você sabe que não bebo.
— Sei disso… Mas bebeu?
— Você só deve estar de brincadeira, Maria Lúcia.
Minha esposa sabe que só a chamo pelo nome composto quando estou enfezado.
— Sabe o Joaquim?
— Que Joaquim?
— O marido da Anelise.
— Sei. O que tem ele?
— Ele também não bebe.
— E daí?
— Daí que bebeu e vomitou durante toda a noite de sábado.
— Mas eu não bebo!
— Ele também não bebia.
— Já vi que você tirou o dia pra me torrar a paciência.
— Teve diarreia?
Quando já ia responder que não, eis que me deu um revertere na barriga e corri para o banheiro a tempo de salvar o resquício da minha dignidade.
Após provocar todos os sons inimagináveis, finalmente me senti aliviado. Aproveitei e tomei uma ducha. Voltei para o quarto, e a minha esposa, com aqueles olhos repletos de pena de mim, profetizou.
— Virose!
*Eduardo Martínez é autor do livro “57 Contos e Crônicas por um Autor muito Velho”.
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