Minho, o pequeno gênio de Casa Forte no final da década de 50 do século passado, era o tipo de garoto que transformava qualquer quintal em um laboratório de ideias. Entre as mangueiras do grande terreno, ele reunia irmãos, primos e vizinhos para sessões improvisadas de perguntas e respostas.
A brincadeira, embora simples, já revelava o espírito inquieto e curioso que o acompanharia por toda a vida. Uma estrada que o levou do Recife para Brasília, fazendo dele um candango com sangue pernambucano.
“Por que a lagartixa anda no teto das casas?” — disparou Minho em certa tarde, olhos brilhando de expectativa.
O grupo, perplexo, se entreolhou. Não era a primeira vez que ele lançava um desafio aparentemente trivial, mas que escondia uma lógica desconcertante. O silêncio reinava.
Minho, com a paciência de quem espera a eclosão de uma ideia, deu tempo aos amigos. Mas, percebendo que ninguém ousaria arriscar, ergueu-se como um pequeno professor e, com a solenidade de um cientista, anunciou:
“É porque o teto é o chão da lagartixa!”
A gargalhada coletiva foi inevitável, mas também de pura admiração. A simplicidade da resposta, tão óbvia e ao mesmo tempo tão genial, era o retrato fiel de Minho.
Hoje, já aposentado de uma carreira brilhante como engenheiro florestal, Minho ainda relembra essa e outras passagens da infância. Para ele, a capacidade de ver o mundo de cabeça para baixo — ou de aceitar que, às vezes, o chão muda de lugar — foi o que o fez crescer.
“É tudo uma questão de perspectiva”, costuma dizer. E quem o conhece sabe que ele aprendeu isso muito antes de estudar física ou biologia. Afinal, Minho era o tipo de menino que, mesmo embaixo de uma mangueira, já sonhava com as alturas — ou com os tetos.