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Impeachment de Dilma afundará esquerda e dará lugar à direita com Temer

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Marta Nobre, Edição

A saída de Dilma Rousseff da Presidência da República, fato cada vez mais evidenciado nos meios políticos, econômicos e sociais, vai colocar sentado na cadeira o vice Michel Temer. Porém, fica uma pergunta no ar: para onde seguiria o novo governo? Se, por um lado, há certo consenso de que uma eventual queda de Dilma será uma dura derrota das esquerdas, por outro, restam algumas dúvidas sobre quais direções e “cores” um governo de Michel Temer pode vir a ter.

Economistas e cientistas políticos avaliam que a tendência é uma guinada para a direita, segundo demonstra reportagem do Uol, assinada por Leandro Prazeres. Os principais pontos de partida para a análise são o programa “Uma Ponte para o Futuro”, lançado em outubro de 2015 pela Fundação Ulysses Guimarães, braço do PMDB comandado por Moreira Franco, “homem forte” de Temer, e as alianças e apoios políticos já anunciados em torno do vice.

O programa “Uma Ponte para o Futuro” prevê medidas como a implementação de uma idade mínima para a aposentadoria, a redução da ação do Estado na economia, a desvinculação das receitas constitucionalmente previstas para gastos em áreas como saúde e educação, a flexibilização de normas trabalhistas e a retomada do processo de concessões. As medidas são criticadas por partidos de esquerda, que as classificam como “neoliberais” e como sendo “de direita”.

No campo político, partidos como PSDB, PSB e legendas do conhecido “centrão” (PP, PR, PTB, entre outras) já manifestaram apoio, ainda que de forma tímida, a um governo Temer. Na última quarta-feira (27), por exemplo, Temer se reuniu com o presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG), que anunciou o apoio sinalizando para a participação do partido no governo do PMDB. Nos últimos dias, líderes das bancadas evangélica, da bala e ruralista cobraram apoio de Temer às suas pautas após terem votado, em peso, pelo impeachment de Dilma Rousseff.

“Do ponto de vista eminentemente econômico, esse programa [Ponte para o Futuro] traz, sim, uma agenda de cunho mais liberal, que quer reavaliar políticas públicas, avançar em temas como concessão e repensar a ação do Estado na economia pra desfazer esse intervencionismo estatal”, declara Zeina Latiff, economista-chefe da XP Investimentos.

“No campo econômico, o programa do PMDB é liberal, sim. Ele põe o setor privado, e não mais o Estado, como centro de gravidade da economia. Veja que a presidente Dilma defendia o papel do Estado como indutor do crescimento econômico. Essa agenda faz o contrário e põe a iniciativa privada como protagonista”, afirma Carlos Alberto Ramos, professor titular da Faculdade de Economia da UnB (Universidade Nacional de Brasília).

“Se restringirmos a discussão apenas ao plano econômico, podemos classificar esse programa como liberal, mas acho que essa é uma agenda que está além de ser de esquerda ou de direita. É uma agenda que países europeus adotam independentemente dos campos ideológicos”, diz Antônio Carlos Alves dos Santos, economista e professor da PUC-SP.

“A julgar pelas figuras apresentadas até agora como José Serra (PSDB-SP) e Henrique Meirelles (ex-presidente do Banco Central), eu colocaria como centro-direita. O aporte do PSDB, que ainda não é garantido, não seria suficiente para dar a esse novo governo um perfil mais à esquerda. Ao mesmo tempo, ele terá o apoio de partidos que têm uma abertura mais à direita”, diz Roberto Romano, professor de ética e filosofia da Unicamp.

“Existem duas possibilidades. A primeira é o governo Temer fazer uma aliança política e programática em torno da antiga oposição (PSDB, DEM, PPS e PSB) complementada pela adesão do chamado ‘centrão’. Aí, teríamos um governo de centro-direita. A outra possibilidade é o PSDB continuar boicotando o eventual governo Temer. Isso levará a uma aliança do governo apenas com o ‘centrão’, que tem partidos mais alinhados à direita. Se isso acontecer, aí poderíamos dizer que teríamos um governo de direita”, afirma José Augusto Guilhon Albuquerque, professor de Ciência Política da USP

“É difícil rotular um possível governo do Temer ideologicamente, mas acho que será de centro-direita. Essa centro-direita vai representar o setor privado, na medida em que ele [Temer] tentará atrair a confiança para os investimentos e isso quer dizer que ele terá que fazer reformas que a esquerda, certamente, vai combater. Essa centro-direita também terá o apoio de segmentos religiosos como a bancada evangélica, embora eu não saiba dizer se o Temer vai atender às demandas dela”, declara David Fleischer, cientista político e professor titular da UnB.

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