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Velhos tempos da Cidade Livre, do filé e do Clube da Imprensa

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José Escarlate

Começo de Brasília. Sábado era dia de ir aos mercados da cidade. Dávamos um tempo no trabalho e partíamos para as compras. Afinal, a despensa estava quase vazia. Primeiro, uma circulada no Serve-Bem, que acabou, sempre muito cheio.

Vez por outra, o Zé Augusto Costa e a Luiza, sua mulher, nos chamavam para dividir às compras mais pesadas que eram feitas na grande feira da Cidade Livre, o atual Núcleo Bandeirante. Laranja, cenoura e batata, comprávamos em caixas, e uma carne da melhor qualidade. Brasília tinha o filet mignon mais barato do Brasil.

Depois, seguíamos para o Slaviero, o mais caro e sofisticado. Na parte de cima, roupas de grife para homens e senhoras e a revenda de carros Ford. No andar inferior, com entrada pela W-2, o supermercado. Depois de levarmos as compras em casa e do refrescante banho, juntávamos os meninos e íamos almoçar fora.

No domingo pela manhã, era obrigatória a ida ao Clube da Imprensa, onde Aurora jogava o seu voleibol sagrado de cada fim-de-semana e eu, que não jogava, fazia o churrasco. O Clube da Imprensa foi a grande paixão do jornalista Arnaldo Ramos, presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal e fundador do clube, curtindo intensamente as 24 horas do dia. E sempre com os bolsos do paletó cheios de papel, sua marca registrada.

Foi lá que formamos uma nova turma. A do vôlei, onde estavam a Conceição Moreira Salles, a Glorinha e o maridão Flávio, o Nizio Tostes, a Nelcí Stein e o então namorado, João Ricardo, hoje seu marido e irmão do saudoso e sempre querido José William Garcia Annoni, o Flamarion Mossri e o Jair Cardoso, os três, meus amigos enquanto viveram, e a Dona Marlene, companheira e anjo da guarda do Jair Cardoso, apaixonado pelo vôlei e pelo clube.

Aquele recanto do Clube era a catedral do vôlei. Não faltavam alguma discussões por conta do bola dentro ou fora e, muitas vezes, a bola era isolada para a pista de carros pelo João Ricardo, indignado com jogadas ou decisões tomadas. Depois do mergulho na piscina, ele retornava e à quadra e à calma, e o jogo continuava. Mas era tudo muito bom, com gente amiga que gostava de ajudar aos outros.

Aliás, aquele início de Brasília era incomparável. Todos gostavam de estender as mãos dando apoio ao companheiro que ainda não não havia se acertado. Quem veio tentar a vida em Brasília sabe do que estou falando. Presidente do Clube da Imprensa e do Sindicato, Arnaldo Ramos era um velho jornalista que trabalhava na Asapress. Quando participava de entrevistas coletivas, ele utilizava a taquigrafia.

Certo dia, coisa que raramente acontecia, cheguei atrasado a uma entrevista porque fora avisado fora de hora. Havia um lugar vago ao lado do Arnaldo Ramos. Sentei ao seu lado e mandei um olho bem comprido nas suas anotações, para tentar captar alguma coisa. E foi aí que caí do cavalo. Tudo estava anotado, só que com caracteres de taquigrafia. A solução foi esperar a entrevista acabar para depois tentar recuperar a parte perdida.

PV

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