Censura com a ‘Redentora’ vetou até decreto de D. Pedro I
Publicado
emJosé Escarlate
A Censura Federal era a maior zorra nos tempos da chamada Redentora. Não estava subordinada ao Dops, como muita gente pensava. Era um órgão autônomo chamado Divisão de Censura de Diversões Públicas, a quem cabia apenas censurar ou liberar letras de música, cinema e teatro. Depois, deram a ela a incumbência de fazer censura do noticiário de jornais e televisões, passando a ser regida, por baixo do pano, pelo SNI, o Serviço Nacional de Informações, criado pelo general Golbery do Couto Silva.
Uma historinha incrivel da criatividade da censura nos anos de chumbo. A censura, que não hesitava em fazer proibições ridículas resolveu, exatamente no dia 6 setembro de 1972 – segundo jornais da época – censurar um decreto do imperador D. Pedro I. A ordem partiu do Departamento de Polícia Federal, dirigida a todos os veículos de comunicação do país: “Está proibida a publicação do decreto de D. Pedro I, datado do século passado, abolindo a Censura no Brasil. Também está proibido qualquer comentário a respeito”.
Foram 21 anos de ditadura militar, com o órgão atuando com maior ou menor intensidade, de acordo com grau de autoritarismo da época. O período mais complicado e duro foi em dezembro de 1968, com a edição do AI-5, no governo Costa e Silva, até o fim do governo Médici.
Na era Costa e Silva, a Divisão de Censura foi chefiada por um certo Antônio Romero Lago, que passou incólume pelo crivo do SNI. Anos mais tarde descobriu-se que o tal de Romero Lago era um impostor, enganando a todos. Tanto o SNI quanto a Polícia Federal. Não só impostor, mas também um foragido da Justiça, condenado que fora como mandante de um assassinato, no Rio Grande do Sul.
A história conta que Romero Lago era na realidade Hermelindo Ramirez Godoy, que havia sido preso em 1944. Depois de falsificar documento de identidade no Paraguai, iniciou uma trajetória vitoriosa nos escalões do Ministério da Justiça. Milhares de filmes foram liberados e vetados por ele, ao longo dos anos em que esteve à frente da censura.