Masaomi, o japonesinho brasileiro que fez Ernesto Geisel sorrir
Publicado
emJosé Escarlate
Dias antes da viagem ao Japão do presidente Geisel ao Japão, setembro de 1976, apareceu na sala de imprensa do Planalto um jovem fotógrafo, que parecia ser nissei. Levado pelo Adão Nascimento, “queria “falar com o Geisel”. Simpático e risonho, Masaomi, esse o seu nome, conquistou a turma, que passou a torcer por ele. Queria pedir ao presidente para ir também ao Japão, na comitiva.
Alberto Homsi era o presidente do Comitê de Imprensa e resolveu patrocinar o encontro do Masaomi com Humberto Barreto, que o levou até Geisel.
No gabinete, o presidente perguntou a razão do seu pleito. E o rapaz abriu o jogo: ”Eu nascí no Japão mas vim cedo para o Brasil. A minha família está toda lá, inclusive as minhas irmãs. Tenho o Brasil como minha pátria e posso afirmar que sou mais brasileiro do que o senhor”- enfatizou.
De pé, tendo a seu lado o Humberto e o Homsi, Geisel ficou espantado com a história do jovem, e indagou o por quê. Masaomi não se fez de rogado.
“Presidente – disse -, o senhor nasceu aqui por acaso, mas eu, não. Eu escolhí o Brasil como minha terra. Então, sou mais brasileiro do que o senhor”.
Geisel deu um sorriso meio encabulado, virou-se para o Humberto e indagou:”Dá para encaixar o rapaz na viagem?”
“ Difícil – respondeu. A comitiva já está formada. Só se o senhor quiser tirar alguém.
Sem contar dúvidas, o presidente determinou:
”Tira o fotógrafo. Eu não preciso de fotógrafo na viagem”.
João Pinheiro de Carvalho, irmão do Renato, que era o fotógrafo oficial do presidente, gelou. Entrou na maior fria. Perdeu a viagem, abrindo vaga para o Masaomi.
Já em Tóquio, a comitiva visitava um templo budista. Massaomi, que acompanhava tudo, sentiu aquela mão enorme, pesada, puxando-o pelo ombro. Virou-se espantado e viu que era a mão do presidente, que lhe indagou: “Como o senhor veio até aqui ?” Geisel tratava todos os jornalistas por senhor ou senhora. Educado, mas sem abrir brechas.
Sorrindo muito, Masaomi respondeu: ”De avião”. O presidente riu e seguiu em frente.
A verdade é que o Masaomi passou a ser o mascote dos jornalistas brasileiros em Tóquio. E mascote útil, pois apesar de não conhecer o Japão, falava bem tanto o japonês como o português, meio arrastado mas que dava para quebrar o galho. Era o nosso tradutor de plantão nas bibocas e restaurantes da capital japonesa, e também na sala de imprensa.
Dias antes de retornarmos, ele nos apresentou às suas irmãs e a tia, que moravam lá. Na minha vez ele disse para as irmãs, no seu linguajar atravessado: “Esse, é o pessoa idoso, meu amigo”, por causa dos meus cabelos brancos, uma marca que trago comigo desde os tempos de rapaz.
E o Pinheiro, coitado, ficou na saudade ! Ele até já havia feito uma listinha de compras no Japão, pedidos dos filhos e presentes para os netos.
Mas não chiou. Absorveu o golpe e tocou a vida para a frente. Outras viagens viriam.
E o presidente ficou sem o registro fotográfico de sua passagem pela capital japonesa. O máximo que conseguiu foram fotos feitas pelo Monteiro, da Agência Nacional, que por sinal estavam ótimas. Em Brasília, outras fotos foram doadas pelos fotógrafos que viajaram. Além do Monteiro, Jader Neves, da Manchete, Adão Nascimento, O Estado de S. Paulo, Orlando Brito, de O Globo, Cláudio Alves, do Jornal de Brasilia, Roberto Stuckert, da Folha de S. Paulo, Walmir Ribeiro e o Normando Parente, cinegrafistas da Agência Nacional e da TV Globo, e até fotos do Masaomi.