Acabou a velha desculpa, e os sedentários já podem pedalar e perder barriguinha
Publicado
emGretchen Reynolds
No Tour de France, equipar sua bicicleta com um pequeno motor elétrico é chamado doping mecânico e considerado trapaça. Mas, para o resto de nós, pedalar uma bicicleta elétrica pode ser uma maneira tranquila e prática de fazer exercício, segundo um novo estudo encorajador sobre seu uso como meio de transporte.
Os exercícios físicos são necessários em nossa vida, como já sabemos. As pessoas ativas fisicamente têm muito menos probabilidade do que as sedentárias de desenvolver doenças cardíacas, diabetes, câncer, ataque do coração, depressão, deficiências na velhice ou morte prematura.
Mas as estatísticas mostram que, apesar dos benefícios, a maioria nunca faz exercícios. Quando os pesquisadores perguntam a razão, grande parte das pessoas dá as mesmas duas desculpas –não tem tempo para colocar os exercícios em suas vidas ou não estão suficientemente em forma para começar a se exercitar.
A bicicleta elétrica pode solucionar esses problemas. O motor reforça as pedaladas sempre que necessário –ou, como acontece com algumas bicicletas elétricas, pedala para você– fazendo com que as subidas e as longas distâncias sejam menos desgastantes e assustadoras do que com uma bicicleta normal.
No processo, elas podem tornar o ciclismo uma boa alternativa ao transporte de carro, permitindo que pessoas com a agenda cheia consigam fazer exercício físico indo e voltando do trabalho.
Mas até agora o valor das bicicletas elétricas tem sido conceitual. Poucas pessoas já viram, e muito menos usaram uma e há pouca evidência científica para provar –ou refutar– os potenciais benefícios de sua utilização.
Assim, para uma nova experiência, que foi publicada no mês passado no European Journal of Applied Physiology, pesquisadores da Universidade do Colorado em Boulder decidiram ver o que aconteceria se dessem bicicletas elétricas para um grupo de homens e mulheres fora de forma e sugerissem que eles começassem a ir pedalando para o trabalho.
Os pesquisadores ofereceram apenas bicicletas motorizadas que ajudam os ciclistas, mas não fazem todo o trabalho para eles, como um ciclomotor. Eles usaram bicicletas elétricas que exigem que o ciclista pedale para receber ajuda do motor.
Os pesquisadores queriam determinar se essas bicicletas – mesmo com a ajuda do motor – poderiam oferecer exercícios significativos para pessoas que antes não estavam se exercitando muito. Eles também queriam ver se essas bicicletas eram fundamentalmente seguras, já que permitem, mesmo a ciclistas novatos, atingir velocidades de 30 quilômetros por hora ou até mais. (A prefeitura de Boulder financiou parcialmente os estudos como parte de uma avaliação sobre se deve ou não permitir bicicletas elétricas em ciclovias municipais. O financiamento adicional veio de lojas de bicicletas locais e da Skratch Labs, empresa de nutrição para o esporte sediada em Boulder).
Primeiro, os pesquisadores levaram 20 voluntários sedentários ao laboratório para checar sua composição corporal, seu condicionamento aeróbico, controle de açúcar no sangue, pressão arterial e colesterol. Então, forneceram uma bicicleta elétrica para cada um, com monitor de batimentos cardíacos, GPS e instruções de uso de todos os equipamentos. Depois, pediram aos voluntários para usar os monitores e a bicicleta para ir ao trabalho pelo menos três vezes por semana durante um mês, passando no mínimo 40 minutos pedalando em cada um desses dias.
Os voluntários podiam escolher a velocidade e o nível de esforço com os quais se sentissem confortáveis.
Então, os pesquisadores soltaram os ciclistas novatos nas ruas e ciclovias de Boulder.
Um mês depois, os voluntários voltaram ao laboratório para repetir os testes originais e entregar o monitor cardíaco e os dados do GPS. Todos eles pedalaram pelo menos o mínimo prescrito de 40 minutos três vezes por semana e, na verdade, segundo o monitor de dados, a maioria extrapolou o tempo pedido, vários cerca de 50 por cento a mais.
Os voluntários também pedalaram com alguma intensidade. Seus batimentos cardíacos chegaram, em média, a 75 por cento do máximo de cada pessoa, o que significa que mesmo com a ajuda do motor, eles estavam fazendo exercícios físicos moderados, comparáveis a uma caminhada rápida ou uma corrida tranquila.
E, felizmente, nenhum havia caído ou se machucado (ou machucado alguém). Na verdade, “descobrimos que os participantes pedalaram a uma velocidade razoável de 20 quilômetros por hora”, afirma James Peterman, aluno de pós-graduação da UC Boulder que chefiou o estudo.
Talvez mais importante, os ciclistas estavam mais saudáveis e em forma agora, com melhor condicionamento aeróbico, mais controle do açúcar no sangue e, em geral, com uma tendência a ter menos gordura corporal.
Eles também afirmaram que descobriram que pedalar “é uma delícia”, conta William Byrnes, autor sênior do estudo e diretor do Laboratório de Ciências Aplicadas ao Exercício Físico. “É um exercício divertido”.
Vários participantes compraram bicicletas elétricas desde que o estudo acabou, afirma ele, que também usa uma para ir para a universidade.
Bicicletas elétricas, no entanto, não são a solução para todas as pessoas que não têm tempo ou relutam em fazer exercícios físicos.
Além de mais caras do que as convencionais, elas também exigem menos esforço do que as bicicletas normais. Peterman, piloto de corrida de bicicleta que ficou em quinto lugar no Campeonato Nacional de Ciclismo dos Estados Unidos neste mês, admite que as bicicletas motorizadas provavelmente não vão ajudar no condicionamento de atletas bem treinados.
Mas para muitas outras pessoas que não se exercitam ou que nunca pensaram em usar uma bicicleta como meio de transporte, é muito bom saber que, se necessário, é possível conseguir ajuda para pedalar colina acima.