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O dia em que São Pedro deu uma pausa para Brasília assistir desfile de fantasias

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José Escarlate

Fevereiro de 1968. O diretor de Turismo do Detur era Mauro Valverde, colunista social do Diário Carioca, que se assinava Jean Pouchard. Tïdo como “porra louca”, as loucuras do Pouchard volta e meia emplacavam.

Um dia bolou trazer para Brasília o desfile de fantasias premiadas do Municipal e do Copacabana Palace, sucesso no Rio. Tanto buzinou nos ouvidos do João Gualberto, diretor de Recreação, e do Sebastião Medeiros, diretor-geral do Detur que, mesmo achando difícil, apoiaram a loucura. Contatos foram feitos, em relação a custos. O prefeito, Wadjô Gomide, deu o sinal verde.

Aí começou a luta. Buscamos um local amplo onde coubesse bastante gente. Do povo, nada seria cobrado. O espaço ideal era entre a torre de tevê e a Fonte Luminosa, onde seria construída uma passarela, elevada, para dar melhor visão ao público. Novo obstáculo. As fantasias eram muito pesadas. A coisa emperrou. O produtor de arte do Detur, o seu Branco, foi chamado para dar vida e cor às loucuras do Pouchard. Afinal, foi batido o martelo.

Enquanto a carpintaria do seu Branco funcionava a toque de caixa para montar o palco elevado, com passarela superior ao redor da torre, na parte baixa ficavam os camarins, amplos, para satisfazer o ego dos artistas desfilantes. Foi decidida então a instalação de um elevador, para aliviar o peso das fantasias.

Dia 25 de fevereiro de 1968, pela manhã, os concorrentes ao desfile de Brasília chegavam do Rio. Entre eles estavam o friburguense Clovis Bornay, o costureiro baiano Evandro de Castro Lima, Jésus Henriques, Mauro Rosas, Flávio Rocha, Marcos Varella e as estrelíssimas Marlene Paiva e Wilza Carla, além de Violeta Botelho, Nucia Miranda e Guilherme Guimarães, A chuva que caía em Brasília naquela época era desanimadora, levando a crer que o espetáculo seria um fracasso, tecnicamente e de público. No local, não havia onde o povo pudesse se proteger.

Se Deus é brasileiro, naquela noite ele ajudou Brasília. Duas horas antes do início do desfile a chuva passou, trazendo alívio. O povo se aglomerava no imenso gramado. Estrelas, salientes, iluminaram o céu de Brasília. No palanque oficial o prefeito Wadjô Gomide, secretários e até ministros de Estado, com suas esposas.

A festa foi inesquecível, com orquestra e iluminação funcionando de maneira perfeita, bem como todo o trabalho de cenografia. O show foi deslumbrante, com as fantasias agrupadas por categoria: luxo e originalidade. As peças eram verdadeiras obras de arte. Clóvis Bornay, um dos grandes astros do desfile, apresentou a fantasia ‘Príncipe Hindu’.

O público, que lotou toda a área da torre de televisão e da fonte luminosa, aplaudia. Sebastião Medeiros e João Gualberto e Pouchard agradeceram a Deus o milagre que premiou a ainda menina Brasília com o belo espetáculo.

Uma hora depois de encerrado desfile, a chuva desabou. Algumas das fantasias apresentadas naquela noite, verdadeiras jóias, hoje integram parte do acervo de varios museus nos Estados Unidos e da Europa.

PV

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