Rafaela, a deusa negra do tatame olímpico, de sobrenome Silva
Publicado
emLuis Carlos Alcoforado
O mundo de Rafaela Silva é mais do que onírico. É real e rico de experiências em decorrência das quais a judoca ganhou Medalha de Ouro nos Jogos Olímpicos do Rio/2016.
No Brasil, a uma menina pobre nega-se o direito até de sonhar, principalmente se morar em comunidade abandonada pelo Estado e, ainda mais, se for negra.
Viver e sobreviver à violência e à pobreza são prêmios de Deus, em represália aos homens egoístas e aos políticos indiferentes ao destino das pessoas.
Rafaela é de Deus, e da Cidade de Deus, onde vivem mais demônios para castigar os pobres e os desassistidos.
Por vontade de Deus, Rafaela fugiu do roteiro traçado para quem nasce em condições impróprias à dignidade humana.
Abandonada pelo Estado, Rafaela superou vicissitudes e venceu a luta da vida, para, agora, vencer no tatame como guerreira. Participou de várias guerras particulares, sob a censura da sociedade preconceituosa que fez de tudo para que hoje a festejada judoca não vencesse os degraus íngremes da pobreza e da raça.
Mas, Rafaela, forte e aguerrida desde criança, subiu ao pódio mais alto, sobre cujo patamar olhou o passado como recompensa de sua coragem e avistou o futuro como uma heroína, uma deusa negra, com fibra inquebrantável, como se dialogasse no silêncio de suas dores com os oráculos que lhe ensinaram o caminho da conquista.
Tornou-se símbolo de uma nacionalidade carente de vitoriosos, que geralmente vêm das camadas mais humildes da população, capazes de resistirem aos desafios desumanos que se põem na caminhada da superação.
Antes ninguém queria ser a Rafaela Silva, negra e pobre moradora da cidade dos infernos dos homens, mas hoje nós queremos ser essa Rafaela, iluminada e clareada pelos holofotes do sucesso e da fama, conquistados pela sua força interior.