Desabafos das mágoas de Itamar com FHC sobre a paternidade do Plano Real
Publicado
emJosé Escarlate
Conversando mineiramente, Itamar Franco contava que o Plano Real nada tinha de original, baseado que foi no Plano Schacht, da Alemanha dos anos 20. Lembrava que só o aprovou depois de conferir os seus números, trabalhando várias horas nisso. Como engenheiro, e bom conhecedor de matemática, corrigiu alguns de seus itens, antes de aprová-lo e correr todos os riscos políticos da decisão.
Desabafa suas mágoas: “De repente até parece que foi o doutor Cardoso – que nem ministro mais era – que lançou o Plano Real. Ele havia deixado o cargo em março, e nós lançamos o Real em 1º de julho. Parece até que foi o doutor Cardoso que assinou a medida provisória do Plano Real” – explicou Itamar, anos depois. “Ele entende menos de matemática do que eu e entende tanto de economia quanto eu. Talvez eu até entenda mais do que ele”, desabafou.
Itamar recebeu um país traumatizado ao assumir a presidência interinamente entre outubro e dezembro de 92, e em caráter definitivo, em 29 de dezembro de 1992. Ao deixar o governo, seu índice de popularidade estava entre os mais altos da República. Recorda ainda que os medicamentos genéricos foram adotados pelo seu ministro da Saúde, o médico Jamil Haddad, com sua aprovação, apesar da resistência dos laboratórios. Embora fosse reivindicação de médicos brasileiros, o SUS começou a ser implantado pelo médico Carlos Mosconi, presidente do Inamps em seu governo. Hoje essas medidas são atribuídas ao governo de seu sucessor.
Itamar Franco expressa sua mágoa por Fernando Henrique insistir em dizer-se autor do plano Real. Não podia ter assinado a cédula. Mas foi eleito duas vezes insistindo nisso. Itamar acabou conformando-se: “Se ele quiser ficar com o plano Real pra ele, que fique”. Quando o governo Fernando Henrique começou a vender as joias da Coroa, com as privatizações da Vale do Rio Doce e das teles, Itamar não se conteve e assinalou: “Do jeito que as coisas vão, FHC vende até a Bandeira Nacional”.