Os endividados
Olhai por nós, Edwiges, ora o povo endividado
Publicado
emBartô Granja, Edição
Edwiges, a santa protetora dos pobres e endividados, nunca foi tão lembrada pelos brasileiros como nos dias atuais. Também, pudera: a carestia, que aperta o bolso a cada piscar de olhos, tem piorado com o sucessivo aumento na taxa do cheque especial e, para piorar, a inadimplência vem crescendo a passos assustadores.
O certo é que os bancos continuam a elevar juros cobrados dos clientes. Quatro das linhas de crédito mais populares entre famílias e empresas e que envolvem o cheque especial e o cartão de crédito tiveram alta das taxas e atingiram em agosto o maior juro na série histórica do Banco Central.
Dados oficiais mostram que duas das linhas mais populares entre os brasileiros bateram um novo recorde de juro alto no mês passado. O juro médio cobrado no crédito rotativo do cartão subiu de 471,7% em julho para 475,2% em agosto – o maior patamar da série iniciada em março de 2011. Um ano atrás, o juro dessa linha de crédito estava, na média, em 403,5% ao ano.
Outro juro médio que bateu recorde é o cheque especial, cuja taxa subiu de 318,4% para 312,1% ao ano. Nesse caso, é o maior patamar da série iniciada em julho de 1994.
O mesmo fenômeno também é visto no crédito para as empresas. Pessoas jurídicas que tentam antecipar cheques pré-datados pagavam juro de 47,3% em julho e o custo passou para 47,6% em agosto – maior valor da série histórica. Também cresceu o custo para o recebimento antecipado de recebíveis de cartão de crédito, cuja taxa aumentou de 45,1% para 45,8% ao ano – novamente, maior valor da série.
Endividamento – Com todo esse quadro, as famílias estão mais endividadas em setembro que no mês anterior. A Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), realizada pela Confederação Nacional do Comércio (CNC), mostra que 58,2% das famílias brasileiras estão endividadas, resultado superior ao de agosto (58%), porém, inferior ao registrado em igual mês de 2015, de 63,5%.
“A retração do consumo, em virtude da persistência da inflação e da contração da renda, além do elevado custo do crédito, explica essa redução na comparação anual”, avalia o economista da CNC Bruno Fernandes.
Segundo a confederação, a manutenção das altas taxas de juros e a instabilidade do mercado de trabalho ampliaram o porcentual das famílias com contas ou dívidas em atraso, tanto na comparação mensal como na anual. Em setembro de 2015, o porcentual era de 23,1% e agora, de 24,6%. Em julho, foi de 24,4%.
Em setembro, 9,6% das famílias afirmaram à CNC que não têm como pagar suas dívidas de cheque pré-datado, cartão de crédito, cheque especial, carnê de loja, empréstimo pessoal, prestação de carro e seguro. O resultado é maior do que o de agosto, de 9,4%, e que o de igual mês de 2015, de 8,6%.
A proporção dos que afirmaram estar muito endividados diminuiu de agosto para setembro, de 14,6% para 14,4% do total. Na comparação anual, no entanto, houve aumento de 0,5 ponto porcentual. O tempo médio das contas atrasadas ficou em 63,2 dias, sendo que o tempo médio de comprometimento com dívidas ficou em 7,1 meses.
Do total das famílias brasileiras, 21% estão com mais da metade da sua renda comprometida com o pagamento de dívidas. O cartão de crédito permanece no topo da lista do tipo de dívida, com 76,3%, seguido do carnê (14,8%) e do financiamento de carro (10,9%).