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Outro golpe

Dias quentes em Brasília, e Videla entra no clima

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José Escarlate

A nossa vida em casa era tranquila. Trabalhava-se muito, mas eu e Aurora vivíamos um clima de muito amor, respeito e amizade, além do carinho pelos filhos. A febre da garotada da quadra onde morávamos, a mesma 104 Norte, eram o futebol e o carrinho de rolimã. Eles estudavam no Colégio Dom Bosco, dos padres salesianos, cujo ensino era considerado um dos melhores de Brasília.

Na Embaixada Americana, o trabalho só fazia crescer, principalmente depois da posse de Geisel. O governo americano acompanhava a constituição da binacional Itaipu, com a presença de Geisel e Stroessner, em Foz do Iguaçu. Os gringos estavam de olho atento no reatamento das relações diplomáticas com a China. A censura à imprensa era abrandada e já sabíamos que a partir daí teríamos o direito de voltar para casa após escrever as matérias que iriam para os jornais.

Ano movimentado com a realização das eleições legislativas, dentro das normas estabelecidas pelo presidente: distenção lenta, gradual e segura. Em tempo de ditadura, eleições sempre transformavam as duas Casas do Congresso e o Planalto. Nesses dias, eu trabalhava até de madrugada.

Para surpresa geral, o partido de oposição ao governo, o então Movimento Democrático Brasileiro, o MDB, esmagava a Aliança Renovadora Nacional – ARENA.

O Brasil da época não era só política e futebol. Émerson Fittipaldi se sagrava, pela segunda vez, campeão mundial de Fórmula 1. A festa dos meninos, em casa, estava completa, se bem que o Luiz Felipe fosse um “tifosi”, torcedor apaixonado pela Ferrari. Como até hoje.

Geisel sanciona a fusão dos estados da Guanabara e do Rio de Janeiro e, na teoria, estava extinta a censura à imprensa, mas com um lado negativo. O assassinato do jornalista Wladimir Herzog, da TV Cultura, nas dependências do DOI-Codi. O teórico fim da censura (?) foi marcado pela proibição de veicular a notícia. Também o livro de Rubem Fonseca, “Feliz Ano Novo” e a telenovela “Roque Santeiro” foram proibidos

O novo ano de 1976 começa quente e a Embaixada Americana, em Brasília, está em polvorosa. Tudo por conta da visita oficial do Secretário de Estado, Henry Kissinger. Com isso o trabalho da Aurora aumenta e eu tenho que levar e buscar as crianças no colégio. E depois voltar para o batente. Na esfera internacional, o general Jorge Rafael Videla dá um golpe de estado na Argentina e depõe a presidente Isabelita Perón.

PV

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