Auto exorcismo
Dores de amores, mas os fantasmas dóem mais
Publicado
emAndrea Pavlovitsch
E essa dor? E será que um dia para? Tem sempre uma coisa que ainda dói dentro da gente. Uma saudade, um amor perdido, uma situação não resolvida em qualquer área.
Uma briga de casal, uma bronca do pai, uma calça que não entrou. Um eu não te amo mais! Um dia ruim. Uma certeza de que não vai voltar a ser como antes. A falta da paixão avassaladora da adolescência.
A morte de alguém ou de alguma coisa dentro da gente. Um animal de estimação que nunca tivemos, um brinquedo que nunca compramos, uma conta que ainda não conseguimos pagar. Barriga demais, fosfato de menos.
Uma gripe mal curada, uma dor de cabeça, um bico! Um pneu furado, uma vida que deveria, só deveria, ser diferente.
Mas o que dói, o que mais dói dentro da gente são os nossos fantasmas. As vozes fantasmas dessas e de todas as outras coisas que ainda carregamos como se ainda tivessem voz, corpo, espírito. O passado, um passado que não existe mais. Um ontem que simplesmente não tem vida. A falta de vida que carregamos dentro de nós mesmo.
Uma grande fogueira. Um grande lixão. Nada disso funciona se decidirmos que queremos continuar carregando. Se não quisermos é só jogar fora. No mato, na água, na terra. Mandar ir embora com a mesma facilidade com que entraram. Não deixar mais criar vulto, assustar a gente de novo, nos causar pesadelos, doenças. Esses são os verdadeiros fantasmas. Esses são os fantasmas que a igreja deveria tratar de exorcizar. E o nosso exorcista é a gente mesmo!
O que mais dói dentro da gente são nossos fantasmas.
Então, ao trabalho! Arrume uma cruz, uma garrafa de água benta, uma réstia de alho e mande-os embora. Todos para o lugar deles. A tumba, o cemitério. Porque estão todos mortos, fazem todos parte de um passado morto.
Morto mas ainda não enterrado. Enterre seus mortos antes que eles enterrem você. Eles sabem que não querem sair porque sabem que vão morrer se você esquecê-los. Então, seja ruim, mate os fantasmas e não cultive novos.
Isso é dor ainda. É funeral. Mas ninguém disse que a dor não faria parte. Ela ainda faz, só que mais consciente e mais amena.
É tempo de findar!