Os desmandos
Brasília desmente Ulysses. Rouba-se e deixa-se roubar
Publicado
emLuis Carlos Alcoforado
No Brasil, vende-se de tudo e compra-se de tudo. Não há limite para a traficância, principalmente quando a compra e venda se alimenta de princípios que se comunicam com a soberania de um povo.
Não há novidade quando se fala que, no âmbito dos poderes da República, os negócios prosperam à sombra da volúpia dos senhores que comandam o Brasil do nascimento ao seu desterro.
Juízes vendem decisões judiciais, burocratas negociam atos administrativos e legisladores vendem consciências para receber propinas, o que agrava a identidade do sistema normativo de um país, em cujas casas legislativas se escolhem os modelos jurídicos.
Vender leis é a degradação maior de uma nação.
Trata-se de uma patologia sem cura, sob a confluência de interesses que se sobrepõem às premissas que podem justificar a existência de um povo, como nação soberana.
Quem vende lei vende a soberania. É justamente no regime jurídico que conciliamos culturas e costumes.
Experimenta-se a mais perturbadora sensação de infinitude das nossas mazelas políticas, quando o encarregado de fazer a lei como reflexo e identidade de um povo se transforma no mais perigoso algoz da nacionalidade.
Nada mais patológico, nada mais torpe, nada mais cruel, nada mais grotesco do que encontrar no mercado da perdição homens que se vendem e vendem a soberania de uma nação.
Agora, justifica-se a aplicação do castigo para os vendilhões da pátria: o desterro.
A exceção pela excepcionalidade.