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Alimente os cães

Para onde iremos amanhã, se vivemos nos repetindo?

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Kleber Galvêas

Há 9 dias o Espírito Santo vive momentos de tensão. Situação que na casa dos militares é experimentada 365 dias ao ano, enquanto enfrentam principalmente traficantes, que lutam por seus territórios e, capitalizados, impõem suas vontades. Sem policia nas ruas a população está presa em casa, e todos os setores da economia, inclusive o governo, acumulam prejuízos e enorme desconforto.

Imaginem-se as consequências deste cenário em qualquer tempo e lugar: o Estado está em recessão, perdeu o FUNDAP, e muito dinheiro, com a nova divisão dos royalties do petróleo; tem nível elevado de desemprego e alta taxa de criminalidade, quase exclusivamente ligada ao tráfico. Policiais convivem em quartéis onde treinam o uso de armas, explosivos, ordem unida, e estão insatisfeitos e solidários.

Qual a reação esperada ao serem ameaçados de punição e dispensa, com o castigo atingindo diretamente seus familiares, que assumiram a vanguarda desta luta, que se arrasta há 2 anos?

O protesto é ilegal na letra da lei, terrível para todos, mas compreensível, quando visto pela perspectiva humana: da injustiça, erro político e imperícia administrativa. A responsabilidade o governo procura encobrir com bravatas arrogantes, colocando como culpado quem apontou a infração.

O Estado gasta 5 mil com um preso e paga a metade ao policial. O ambiente de trabalho do policial oferece alto risco. As deficiências crônicas o tornam ainda mais estressante, provocando desarmonia no círculo familiar de alguns soldados e desequilíbrio emocional em muitos. Enquanto isso, o mundo do crime tem proteção legal para sua reserva de mercado e monopólio altamente lucrativo (drogas). Bandidos estão capitalizados, bem armados, bem assessorados…

Seguramente, algo cai quanto o equilíbrio instável se torna insuportável. Se o lado que está mais alto na balança não perder peso, e o mais baixo não recuperar parte do peso perdido, não se retorna ao equilíbrio. Entretanto retomar o equilíbrio é resolver o problema pontual e ele não se manterá, se a oportunidade não for aproveitada para se experimentarem novos caminhos, fugindo da trilha repetitiva que sempre leva ao mesmo lugar: troca de comando, construção de presídios, aumento do efetivo, dos salários e do armamento.

Se não houver aprendizagem, isto é, mudança de comportamento de quem opera o equilíbrio com as ações de governo, e ele não agir olhando para frente, uma hora o caldo entornará de vez.

Quando, na Pérsia (700 a. C.), o cão de guarda era importante para segurança do cidadão e do rebanho, Zaratustra ensinava: “Quando comer alimente os cães, ainda que o mordam”.

Se o Estado tiver crédito, deve recorrer a ele, como faz o seu policial quando falta salário no fim do mês. Se há prestigio político faça-o valer. Com imaginação e interesse por nossa identidade e vocação, promova projetos que tragam dividendos financeiros, e seja parcimonioso ao conceder isenções fiscais (R$ 4,3 bilhões).

A tarefa primária do administrador é identificar prioridades na aplicação dos recursos e equilibrar as contas; investigar para ficar bem informado, prevenindo acidentes de percurso; constituir reserva emergencial, evitando a surpresa da desorganização generalizada, porta de entrada para o caos.

Aflição de todos é estado de guerra. Isso não pode acontecer. Se houver persistência na falta de imaginação de quem decide, e o incômodo generalizado continuar para a população, corre-se o risco de a corda arrebentar do lado aparentemente mais forte. Na França, onde se inventou a guilhotina, a corda arrebentou desse lado. Não foi a primeira, nem a única vez, que isso aconteceu.

Não há chantagem. As mulheres dos nossos soldados buscam paz e harmonia no lar. Fazem História!

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