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Ritual da festa

Quando Ulysses fechou os olhos aos ditadores latinos

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José Escarlate

15 de março 1974 – O repórter sempre vê coisas além daquilo que imagina e descreve. Tem que estar sempre com olhos e ouvidos bem apurados. No dia da posse do general Ernesto Geisel na presidência da República, vi o deputado Ulysses Guimarães recusar-se a cumprimentar três ditadores que estavam em plenário, convidados para a solenidade em que foi prestado o compromisso constitucional.

Eram eles Augusto Pinochet, do Chile, Hugo Banzer, da Bolívia, e Juan Maria Bordaberry, do Chile. Como notou que estava sendo observado, ele piscou o olho para mim e, adiantando-se, caminhou em direção à senhora Pat Nixon, também convidada. Voltou-se em minha direção e, piscando novamente o olho, sorriu e sussurrou: “Ela eu vou cumprimentar”.

A cerimônia tinha ares de uma festa democrática, com o Congresso Nacional lotado. Lembrei-me então do que comentava Tancredo Neves sobre a presença maciça de parlamentares. “O ritual da democracia é muito bonito. O difícil, mesmo, é praticá-lo”. E complementava: “Poucos resistem aos atrativos desse ritual”.

Horas antes, na Base Aérea de Brasília, estacionados lado a lado, o minúsculo Beechcraft, de Hugo Banzer, e o gigantesco Boeing Air Force One, azul e branco, tendo ao pé de sua escada um Cadillac com dispositivos de segurança.

PV

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