Delação contida
Colegas de cela, Funaro e Estevão sorriem na Papuda
Publicado
emBartô Granja
Quem tem boca nem sempre vai a Roma, mas pode ter regalias que muita gente presa por suas estripulias com o dinheiro público, não tem. É o caso do doleiro Lúcio Bolonha Funaro. Amigo de carteirinha de gente que tem influência sobre o governador Rodrigo Rollemberg, ele, que está preso na Papuda e ameaçava uma delação premiada, vendeu seu silêncio em troca de favores especiais.
A informação foi transmitida a Notibras por membros da cúpula da Secretaria de Segurança Pública e da Polícia Civil, que denunciam manobras do novo secretário Edval de Oliveira Novaes, para beneficiar não apenas Funaro, como também seu colega de cela Luiz Estevão, que se ‘vinga’ de uns ‘petelecos’ ao conseguir transferir da direção do Sistema Penitenciário seu algoz Anderson Espíndola.
O cérebro das mudanças, segundo confidenciaram alguns delegados, é o próprio secretário Edval Novaes. Para atender Funaro e Estevão, Novaes, que foi o segundo em comando na fracassada política de segurança pública do Rio de Janeiro, deslocou o delegado Espíndola para a Subsecretaria de Inteligência, nomeando para a vaga aberta na direção do Sistema Penitenciário o delegado aposentado Osmar Mendonça de Souza.
Recordações más – Se fosse um conto de fadas ou uma história baseada na mitologia, o caso das mudanças que beneficiam Funaro e Estevão transportaria Brasília para a antiga Roma. Mas é tudo real. E assim como Rômulo, que matou o próprio irmão e criou o Capitólio – um refúgio para banidos, devedores e assassinos – o Distrito Federal também vive seus tempos de lobos.
A história mais recente começa com a decisão do governador Rodrigo Rollemberg de tentar baixar os assombrosos índices de violência que assolam Brasília. Para isso ele trouxe da Cidade Maravilhosa o novo secretário de Segurança, Edval de Oliveira Novaes Júnior. Novaes saiu cabisbaixo do Rio, ao ver naufragar a política de UPPs instaladas nos morros cariocas.
Com carta branca do Palácio do Buriti, Novaes designou para mandar no Sistema Penitenciário o delegado Osmar Mendonça de Souza, ex-Diretor do Centro de Detenção Provisória – CDP. Porém, revelam informantes na condição de manter o anonimato, a passagem do hoje subsecretário por aquele cargo, em meados do governo de Agnelo Queiroz, não deixou exemplo de boas práticas.
A esse respeito, policiais de diferentes níveis recordam que em outubro de 2011, cinco Agentes de Atividades Penitenciarias – AgPen, ao saberem, com antecedência, de suas ordens de prisões por supostas irregularidades, decretadas no âmbito da Operação Resgate da Ordem, dormiram literalmente na cadeia. Mas não como presos, mas sim como ‘foragidos’ atemporais.
A investigação apurava suposta coação praticada contra um preso que depôs, como testemunha, num processo que apurava crime praticado por um terceiro agente, suspeito de repassar dois instrumentos cortantes para serrar as grades da ala de segurança máxima do Presídio do Distrito Federal 2 (PDF2). Isso se deu em março daquele ano, permitindo a fuga de seis detentos.
Após o depoimento – é o que se conta – os dois investigados, além de outras pessoas, teriam coagido e gravado um vídeo, posteriormente divulgado, em que a testemunha inocentava os suspeitos.
Com base nas apurações foram expedidos mandados de busca e apreensão e de prisões. Entretanto, na noite anterior ao desencadeamento da operação por parte do Ministério Público e da Polícia Civil, ao menos dois agentes penitenciários se esconderam Centro de Detenção Provisória – CDP, onde, sem qualquer autorização, dormiram no alojamento e saíram escondidos na manhã seguinte, evitando assim serem presos.
Mesmo tendo tomado conhecimento do fato, o então Diretor do CDP Osmar Mendonça, não tomou qualquer providência administrativa, nem mesmo comunicou a ilegalidade à cúpula da SSP. Por essa suposta omissão, ele perdeu o cargo.
Boca fechada – O retorno do delegado Osmar, nesse momento, se dá em virtude de que, segundo as mesmas fontes ligadas à segurança pública, o doleiro Lucio Bolonha Funaro estaria negociando uma delação premiada com o Ministério Público Federal, que poderia envolver próceres do poder instalado no Buriti.
A ira de Funaro teria se aguçado após uma operação realizada pelo então subsecretário do Sistema Penitenciário Anderson Espindola, que flagrou o doleiro e Luiz Estevão com regalias proibidas aos presos. Como castigo e em nome da disciplina, passaram um longo período na solitária da Papuda.
Agora – essa é a opinião de gente que circula livremente na área da segurança pública de Brasília -, com a ida de Osmar para a Sesipe, crescem as expectativas de que os ânimos de Funaro se arrefeçam, e que ele, calado, tenha tranquilidade para cumprir sua pena, sem espantar a loba e deixar muita gente sem tetas.
Quanto a Espíndola, por mais respeito que tenha na categoria dos delegados, foi promovido para baixo. Deixou de comandar uma forte estrutura penitenciária para responder por um serviço de inteligência no âmbito da Secretaria de Segurança Pública que se restringe a monitorar movimentos sociais. Porque investigação mesmo, conforme garantem as fontes de Notibras, quem faz é a Polícia Civil.