Posto Ipiranga?
Lula, o João-sem-braço no caso do tríplex do Guarujá
Publicado
emFausto Macedo e Julia Affonso
No longo interrogatório a que foi submetido pelo juiz Sérgio Moro na quarta-feira, 10, o ex-presidente Lula declarou que a Bancoop (Cooperativa Habitacional dos Bancários) pode esclarecer sobre documentos encontrados pela Polícia Federal na Operação Lava Jato, inclusive um com rasuras apreendido em seu apartamento, no município de São Bernardo do Campo, no Grande ABC, em março de 2016.
Lula respondia perguntas do procurador da República Roberson Pozzobon, um dos três procuradores que representaram o Ministério Público Federal na audiência histórica – foi a primeira vez que o petista depôs como réu da Lava Jato no caso tríplex.
Pozzobon fez referência a duas situações ao indicar o que chamou de prova documental lançada no anexo 197 da denúncia. Primeiro, ele citou uma planilha apreendida na 22ª fase da Lava Jato na sede da Bancoop, a cooperativa que lançou o empreendimento Mar Cantábrico/Návia no Guarujá, mais tarde transferido para a empreiteira OAS e rebatizado Condomínio Solaris, onde fica o polêmico tríplex atribuído a Lula, o que ele nega peremptoriamente.
A planilha encontrada em uma sala da Bancoop, no centro de São Paulo, é datada de 9 de dezembro de 2008 e consolida a situação dos apartamentos do Solaris. O documento mostra a relação de todas as unidades do edifício e nele consta os nomes dos proprietários ou a expressão ‘estoque’ – em referência exclusivamente a apartamentos disponíveis para venda. A planilha indica o apartamento 174 ao lado da anotação ‘vaga reservada’.
Depois, o procurador informou que na residência de Lula, em São Bernardo do Campo, no Grande ABC, foram encontrados documentos relativos ao apartamento 174. Aí dirigiu a pergunta a Lula. “Considerando que no próprio Termo de Compromisso há uma rasura na proposta de adesão que foi assinada por sua esposa, sra. Marisa Letícia, em que a Polícia Federal detectou que havia um número 174 embaixo do número 141 sobreposto, rasurado, eu pergunto se era para o sr e para sua família que essa unidade tríplex 174 estava reservada?”
“Eu digo pro sr., não”, respondeu secamente o ex-presidente.
Lula sugeriu. “Só tem alguém que pode responder que é a Bancoop.”
O procurador insistiu na linha de acusação, agora destacando o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto e ex-presidente da Bancoop – preso desde abril de 2015 na Lava Jato. “O sr. mencionou que tinha contatos frequentes com o sr. João Vaccari…”
Lula interrompeu. “Eu vou repetir, eu vou repetir. Eu só tive contato sobre o famoso apartamento lá no Guarujá no ato da compra da cota (em 2005) e em 2013 quando Léo (Pinheiro, ex-presidente da OAS) me procurou que eu tinha que cuidar de ver o apartamento. Só! Qualquer outra pergunta você pergunta pro Léo ou prá Polícia Federal ou…”
Pozzobon foi adiante. “Eu pergunto porque cumprimos aqui uma função constitucional, precisamos esclarecer, o sr. fica à vontade para esclarecer.”
Lula devolveu. “Eu sei, eu conheço o papel do Ministério Público.”
O procurador insistiu. “Só finalizando, esse documento que foi encontrado na sua residência, por ocasião da busca e apreensão (apartamento de Lula em São Bernardo do Campo, março de 2016), em que consta a informação do apartamento 174 Edifício Návia, o sr não tinha conhecimento?”
“Eu tenho a certeza que a Polícia Federal conheceu mais o dito lugar que ela diz que encontrou esse documento do que eu”, ironizou o ex-presidente.
E lançou um desafio. “Procurador, deixa eu dizer uma coisa ao sr. Eu me preparei pra não ficar nervoso como algumas pessoas ficam. Eu vim aqui pra dizer a mais absoluta verdade. É que às vezes a gente recebe a mesma pergunta tantas vezes que sem querer você vai ficando irritado. Ou seja, eu espero que o dr. Moro tenha recebido do Ministério Público a prova concreta, material, de que o apartamento é meu.”