Dupla perdida
Patinhas e Patalógica vão definhar juntos
Publicado
emJolivaldo Freitas
Não vou entrar no mérito do Caixa 2, do trabalho que dá receber dinheiro de campanha quando se trabalha com qualquer tipo de político e só quem sabe o que é enfrentar uma campanha como marqueteiro, tem na pele o sofrimento de ver que as dívidas assumidas pela campanha vão aumentando e o candidato, seja vereador, deputado, senador, governador, prefeito ou presidente, e pode ser até campanha para síndico, começa pagando e depois vai desaparecendo, dando desculpas, dizendo que o cheque molhou com a chuva, que o cachorro comeu o talão, que a mulher descobriu uma conta num motel e rasgou o cartão de crédito, que o gerente só porque viu que a transferência bloqueio, sustou o maldito cheque; manda o marqueteiro cobrar do presidente do partido, que manda que fale com o candidato, que coloca a mulher para atender, que diz que vai enviar pelo cunhado, e este diz que a verba está na mão do padre que manda o credor para o inferno.
Aí o cara fica pirado e vai receber pelo caixa 2 e se lasca todo. Mas, deixo claro que não estou defendendo o marqueteiro João Santana, que conheço de outros tempos – eu no A Tarde e depois na Tribuna da Bahia e ele no mitológico Jornal da Bahia -, mas nunca tivemos proximidade que ele era mais antigo que eu na profissão de repórter.
Mas estou escrevendo preocupado que estou é com o casal. Como se não bastasse ter de pagar uma multa de mais de seis milhões de reais, terão de devolver dois milhões de dólares para a justiça, o que significa que no final das contas trabalhou – se trabalhou certo ou errado é outro papo – e vai ver que na reta final trabalhou de graça; sabe lá o que é ver da conta, como um rio feroz, como antigamente era o São Francisco, seguindo em frente e desaguando nos cofres dos outros, eles vão ter de conviver cerca de dois anos sem sair de casa.
Imagine a cena: primeiro mês dentro de casa, tudo indo mal, porque fica a dor de ter perdido boa parte do que ganhou, arrecadou, recebeu, colheu, depositou, aplicou para gastar numa vida nababesca, restrita a poucos escolhidos pelos destino; o assunto sendo o dinheiro que se foi, vários prêmios da Megasena, a delação se foi certo ou errado fazer, Moro, a inimizade agora da ex-amiga do coração Dilma, do ex-amigo do coração Lula e de tantos políticos que se beneficiaram em certo período eleitoral. Tendo ainda como inimiga a Odebrecht, a OAS e vá lá mais saber quantos.
No segundo mês, pois como se sabe o tempo cura todo o mal e sofrimento, já acostumados com os prejuízos e que os inimigos que se lasquem, pois fizeram certo ao delatar, passam a procurar meios de passar o tempo. Os poucos amigos de verdade, que restaram, aparecem para ver, mas somem aos poucos e ficam indo para um almoço, um jantar, um queijos e vinhos; os amigos amorosos, uns de infância e outros feitos na lida profissional insistem na amizade.
No terceiro mês começa a rodada de filmes no Netflix, as séries, por sorte começou o Campeonato Brasileiro, conversam amenidades, discutem, o prosseguimento da Lavajato; novidades aparecem, até que do quarto mês em diante o casal já não tem mais conversa que não seja política, que até perde certa importância. Descobriram que nem todo mundo vai virar as costas e que haverá uma outra consultoria para uma campanha, pois não foi crime de morte, e a Mônica mesmo aparentando – e tomara que seja senão o inferno será no apartamento da Vitória – ser uma pessoa extremamente bem-humorada, já não quer fazer amor todo dia – nem Patinhas é mais menino, tempo quando bastava ver uma nesga de coxa para ficar que nem pau-brasil ou jacarandá. O sexo começa a rarear, a conversa a se limitar. Os filmes repetitivos e a cara de William Bonner fica mais intragável, Então os dias de TPM de Mônica são esperados com resma de alho, cruz, escapulário e água benta. Não tem oferenda a Iemanjá – que só pode ser dada pela internet (se Moro não proibir). E aí caro leitor, minha senhora, até chegar ao fim da remissão dos pecados… Os empregados que se preparem.