Obituário
Morre no Rio, aos 63, jornalista Jorge Bastos Moreno
Publicado
emCarolina Paiva, Edição
O jornalista Jorge Bastos Moreno, morreu na madrugada desta quarta, 14, no Rio de Janeiro. Ele tinha 53 anos, e foi vítima de edema agudo de pulmão decorrente de complicações cardiovasculares. Um dos mais respeitados repórteres políticos do Brasil, Moreno nasceu em Cuiabá e viveu em Brasília desde a década de 1970. Há 10 anos morava no Rio.
Com mais de 40 anos de carreira, a grande parte em O Globo, onde dirigiu a sucuiral de Brasília, Moreno era dono de uma invejável agenda de fontes, que inclui os principais políticos e os grandes nomes do mundo artístico do país.
Seu primeiro grande furo de reportagem foi no “Jornal de Brasília”: a nomeação do general João Figueiredo como sucessor do general Ernesto Geisel. Foi apenas o primeiro de grandes furos, conseguidos graças à sua capacidade de conquistar fontes.
Sua importância era tamanha – revelam colegas da velha guarda do jornalismo brasuileiro -, que nos corredores do Congresso, enquanto repórteres costumavam chamar “Senador, Senador” ou “Deputado, Deputado”, em busca de uma informação, com Moreno era o contrário: ao entrar no Congresso, eram os políticos que o chamavam, “Moreno, Moreno”.
Venceu também o Prêmio Esso de Informação Econômica de 1999 com a notícia da queda do então presidente do Banco Central Gustavo Franco e a consequente desvalorização do real. Moreno teve acesso à noticia no início da madrugada, avisou aos diretores e conseguiu um feito com que todos os jornalistas sonham: parou as máquinas do jornal para que seus leitores tivessem ao acordar a notícia explosiva.
No fim da década de 1990, estreou sua coluna de sábado, em O Globo. O primeiro título – “Nhenhenhém” – era inspirado num desabafo do então presidente Fernando Henrique Cardoso para que os jornais “parassem de nhenhenhém” e tratassem do que ele considerava temas mais importantes. Apesar do título, a coluna nada tinha de superficial: no seu estilo irônico, publicava as notícias mais relevantes do bastidor político brasileiro. A coluna, publicada até o último sábado, passou há alguns anos a levar o nome do próprio Moreno. Mais recentemente, passou a escrever o “Cantinho do Moreno”, na coluna “Poder em jogo”, de Lydia Medeiros.
Era um apaixonado por todas as plataformas de notícia. A todo instante, abastecia também o Blog do Moreno. Desde 10 de março, comandava o talk show “Moreno no Rádio”, na CBN, às sextas-feiras à tarde. Era também o âncora do programa “Preto no Branco”, do Canal Brasil. E fazia imenso sucesso com suas participacões frequentes na GloboNews.
Também em março, Moreno lançou o livro “Ascensão e queda de Dilma Rousseff”, transformando em relato histórico aquela que talvez seja a forma mais efêmera de comunicação dos tempos digitais: as mensagens de Twitter. Em centenas de microtextos de até 140 caracteres, Moreno teceu comentários que remontam a meados de 2010, quando Dilma se preparava para sua primeira eleição à Presidência da República, e vão até agosto de 2016, mês em que a petista teve seu mandato cassado no Senado.
Moreno era também autor de “A história de Mora – a saga de Ulysses Guimarães”, lançado em 2013, após ser publicado em forma de série pelo GLOBO. O livro, que mistura realidade e ficção, traz episódios em torno da figura de Ulysses contados por um narrador especial: dona Ida Maiani de Almeida, carinhosamente apelidada de Mora.