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Na Estrutural, turma do lixão se reúne para ver e torcer pelo Brasil

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A menos de 15 quilômetros do Estádio Nacional de Brasília Mané Garrincha, onde a seleção brasileira enfrentou o time de Camarões, a Cidade Estrutural vive o clima de Copa do Mundo. A região, uma das mais pobres do Distrito Federal, abriga o maior depósito de resíduos de Brasília, o Lixão da Estrutural, que recebe mais de 2 mil toneladas de lixo por dia.

A região fica no meio do caminho entre o centro de Brasília e o local onde é realizada a Fifa Fan Fest, pela rodovia que também leva o nome de Estrutural. Grande parte dos moradores do local sobrevive da coleta de lixo e da venda de garrafas plásticas, latinhas e sobras que podem ser recicladas.

Em casa ou nos bares espalhados pela região, os moradores da Cidade Estrutural acompanharam com empolgação a seleção brasileira. A tranquilidade prevalecia nas ruas, apesar de a reportagem da Agência Brasil não ter visto nenhum carro de polícia circulando pelo local.

Logo na chegada à comunidade, uma casa em particular chamava a atenção pelo movimento e pela animação do entra e sai de torcedores. O pedreiro Renato Alves reuniu a família de origem baiana para torcer pela seleção.

“Hoje eu nem fui trabalhar. O patrão liberou todo mundo para curtir a vitória do Brasil aí decidimos queimar uma carninha aqui em casa”, explicou ao lado de mais de 20 pessoas, entre primos, irmãos sobrinhos e a mãe, dona Júlia, que veio da Bahia acompanhar a festa com os parentes. “Fizemos um bolão e apostei em 3 a 0 para o Brasil. Camarão aqui nós vamos é colocar na brasa já”, disse Renato.

A TV ficou no quintal que virou uma sala improvisada para receber a família. Dona Júlia não sentou por um minuto durante todo o primeiro tempo e ria da alegria do filho com os gols da seleção brasileira. “Peguei os jogos desde o começo aqui. Eu venho sempre só para ver meus filhos, só que desta vez eu fico até o dia 30 de julho para ver a final [do Mundial] com eles.”

A alguns metros dali, quem comemora é Silene Silva, dona do bar que foi apontado por vários moradores como ponto de festa em dias de jogos. As grades foram pintadas de verde e amarelo e no teto as bandeirinhas marcavam o território brasileiro. “O nosso bar virou point. As mesas não davam para tanta gente, mas hoje está mais desanimado porque é segunda-feira e as pessoas trabalham amanhã”, explicou.

Segundo ela, o movimento com os jogos não aumentou muito as vendas, mas animou o bar. “Aqui na Estrutural o movimento é sempre bom, mas o que aumenta mesmo é quando fazemos forró. Os jogos nem deram mais lucro do que o normal”, disse.

Frequentador assíduo do churrasquinho da Silene, o vendedor Domingos Marques se fantasia todo de verde e amarelo, mas prefere não sair em fotos. Apesar da timidez, não escondeu a animação e o otimismo desde que os jogadores entraram em campo. “Vai dar 2 a 1. Sou brasileiro, tenho que torcer.”

Na praça central, os quiosques estavam lotados e Celení dos Santos, dona de um desses espaços, deixava claro que tinha mais de um motivo para torcer pela vitória. “Dia de jogo a venda dobra. O Brasil tem que continuar ganhando para eu continuar ganhando”, disse, animada.

A freguesia é conhecida. “Eu conheço a maior parte das pessoas que vem aqui. A maioria é família e não tivemos problemas até agora”, explicou. Ainda assim, para evitar prejuízo, Celení e o marido tiveram que mudar a forma de cobrança. À medida que os clientes pedem bebidas ou churrasco, pagam na hora para evitar garrafas quebradas e calotes.

O bolão no quiosque do casal reuniu mais de 30 apostadores. Márcia Cristina, que vende marmitex no bairro, foi uma das torcedoras mais otimistas. “Apostei em 3 a 0. Sou mesmo otimista. Assistir aqui é sempre mais animado do que em casa”, disse. Márcia liberou os três funcionários que trabalham com ela e se juntou ao sobrinho e à cunhada para ver a partida no mesmo local em que vem acompanhando os outros jogos. Mesmo sabendo que já havia perdido o bolão nos primeiros minutos da partida, Márcia continuou empolgada.

“Quando o Brasil ganhar, a gente vai continuar batendo papo e vai todo mundo trabalhar no dia seguinte, com um pouco de ressaca, mas feliz.”

Carolina Gonçalves, ABr

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