Curta nossa página


Déjà vu

Rock in Rio acaba ao som de guitarras, protestos e rock tímido

Publicado

Autor/Imagem:


Guilherme Sobota, João Paulo Carvalho, Pedro Antunes, Renato Vieira, enviados especiais, e Roberta Pennafort

Acabou. Galvão Bueno gritaria “é tetra”, com a mesma empolgação com a qual o fez quando Roberto Baggio chutou aquele pênalti para o alto, na final da Copa do Mundo de 1994. Sete dias de Rock in Rio, sete dias de música – pop, rock, principalmente -, da tal experiência da qual a organização do festival gosta tanto de se orgulhar.

Depois de um fim de semana dominado por batidas dançantes e experimentações com beats, com Maroon 5 tocando duas vezes (na primeira, na substituição repentina da Lady Gaga) e Justin Timberlake, e uma enxurrada de comentários “mas não é ‘Rock’ in Rio?”, as guitarras voltaram a dominar a escalação para os últimos quatro dias de festival. Com a noite encerrada por Aerosmith, na quinta-feira, 21, o som da distorção e dos riffs mostraram que seriam os protagonistas. E, tal qual a quinta, o instrumento de seis cordas foi esmerilhado a partir das 15h de domingo, com a banda Ego Kill Talent, criada em 2015.

As duas maiores bandas da noite distanciavam da ‘direção guitarrística’, digamos assim. No caso do Red Hot Chili Peppers, a força está no groove do baixo de Flea, ainda mais depois da saída do guitarrista John Frusciante, em 2009. Substituído por Josh Klinghoffer, de 37 anos (17 a menos do que o vocalista Anthony Kiedis), está mais seguro no instrumento, mas sabe que o protagonismo não é com ele. Flea, logo nos primeiros segundos de apresentação, já deixa claro. Ele e o bigodão de Kiedis recebem todos os holofotes – “Can’t Stop”, música que abre a apresentação, na qual Flea esmurra e puxa as cordas do o instrumento em uma técnica chamada de “slap”, já diz tudo. Era o domínio rebelde do baixo, quando todo o resto das atrações fazia o oposto.

Já o Thirty Seconds to Mars é algo a ser estudado. A banda liderada pelo também ator Jared Leto vive de um gênero musical ultrapassado (como o show do Fall Out Boy, que também bebe razoavelmente de uma fonte “emocore”, embora ambas sigam para direções bastante distantes a partir dela), mas se mantém na ativa – há um novo disco, o quinto da carreira, programado para sair ainda neste ano.

Pediu-se muito, muito mesmo, pelo retorno do rock. Mas o que se viu, em grande parte desses quatro dias, foi pouquíssima novidade e muito mais do mesmo. Assim se repetiram as cenas neste domingo, 24: um monte de distorção repetida e pouquíssima novidade. Até mesmo quando o Thirdy Seconds to Mars subiu ao palco, esperava-se uma nova descida de Jared Leto na tirolesa. Ele não desapontou. Repetiu o feito de 2013. É a vida em looping que o tal rock contemporâneo de massa é capaz de produzir atualmente. Foi uma apresentação poderosa, com 100 pessoas no palco, mas não expôs novidades.

E na sensação de repeteco, tal qual Pabllo Vittar se mostrou uma força “esquecida” no primeiro fim de semana do festival, e fez estrago por onde passou – pelo palco do banco Itaú, pequenino, e ao lado da Fergie, no gigantesco Palco Mundo -, o Raimundos mostrou que deveria ter um lugar de destaque na programação.

A banda de Brasília levou, de surpresa, uma multidão ao mesmo palco do patrocinador. Ao mesmo tempo, a banda República, que tentava ousar, exibia as canções do novíssimo disco, “Brutal & Beautiful”, lançado na sexta, 22, em uma manobra arriscada quando a maré está na direção contrária.

Também foi ao Raimundos para quem o Capital Inicial recorreu durante sua apresentação no Palco Mundo, ao mostrar um cover de “Mulher de Fases”. Foi um acerto. As ovações, afinal, vinham o que pode ser considerado clássico. Supla, ao subir no palco da banda Doctor Pheabes, chamou a atenção para si e não foi culpa cabelos espetados e platinados ou do paletó cor verde limão. O que levantou o público foram as versões para “Imagine” e “Heroes”, e canções (antigas, sim) “Green Hair” (Japa girl) e “Garota de Berlim”.

Levantou a plateia, que já espera com ansiedade pelo Sepultura, o pesadíssimo encerramento do palco Sunset – outra figurinha repetida do Rock in Rio. Com a fusão de violinos e a voz demoníaca de Derrick Green, o Sepultura fez as guitarras gritarem. Um grito que ouvimos outras vezes? Sim, mas ainda barulhento. É o que pediram, afinal.

2019 já está confirmado? Sim. A edição seguinte já está marcada para setembro de 2019, na mesma Cidade do Rock montada no Parque Olímpico com suas instalações.

“Vamos ficar aqui. A aposta está ganha, deu muito certo. O parque está super aprovado. Hoje, a gente passa pela antiga Cidade do Rock e pensa: ‘como era possível?’”, avaliou Roberta Medina, vice-presidente do Rock in Rio.

Comentar

Leave a Reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

Publicidade
Publicidade

Copyright ® 1999-2024 Notibras. Nosso conteúdo jornalístico é complementado pelos serviços da Agência Brasil, Agência Brasília, Agência Distrital, Agência UnB, assessorias de imprensa e colaboradores independentes.