Embriões congelados
Fabiana, com câncer de mama, dá a volta por cima e é mãe
Publicado
emCarolina Paiva
O diagnóstico da doença foi um choque para a advogada Fabiana da Rocha Barbosa de Souza. O câncer de mama foi descoberto em 2011 quando tinha acabado de sofrer um aborto espontâneo e se preparava para tentar engravidar novamente. Aos 31 anos ela já tinha um filho, um menino de 2 anos, mas queria engravidar de novo e o que poderia ser o fim de um sonho se tornou motivação para enfrentar a doença.
“Eu querendo a gravidez e receber o diagnóstico do câncer de mama foi quase uma sentença de morte. Foi muito ruim. Tive dois momentos na vida em que achei que fosse morrer: na notícia do câncer e durante o tratamento quando me senti muito mal”, revela Fabiana.
Mas ela seguiu adiante. O câncer era na mama direita e, por indicação do oncologista, foi encaminhada a uma clínica de fertilidade para fazer um acompanhamento visando a gravidez. Fabiana foi atendida pela obstetra e especialista em reprodução humana Maria Cecília Erthal, diretora médica da clínica que procurou tranquilizar a paciente em relação ao procedimento.
“Com o avanço das terapias antineoplásicas, temos uma maior possibilidade de cura e a maioria das pacientes segue a vida normal, inclusive formando famílias. O problema é que as terapias para cura do câncer destroem o parênquima germinativo acabando dessa forma com a reserva de óvulos, o que impossibilita a gravidez de forma espontânea. Por esse motivo Indicamos a preservação da fertilidade antes do início dessas terapias, através do congelamento de óvulos (no caso de mulheres) , espermatozoides (no caso de homens) ou congelamento dos embriões”, destaca a médica.
Ainda de acordo com Maria Cecília, mesmo que o paciente não consiga congelar os embriões ou óvulos antes dos tratamentos de radioterapia ou quimioterapia é possível realizar o congelamento de óvulos ou embriões depois. Porém, a chance de êxito no procedimento diminui, já que para encontrar óvulos na quantidade e qualidade suficientes para gerar um bebê fica bem menor.
Fabiana passou por duas cirurgias e fez todo o tratamento indicado contra o câncer. Agora aos 38 anos e depois de ser liberada dos medicamentos, ela aguarda o fim do período de seis meses indicado pelos médicos para que possa fazer a transferência dos embriões congelados e enfim engravidar.
“Esse período tá sendo de ansiedade. É uma ansiedade misturada com alegria com um sentimento de que tudo deu certo. É a realização de um sonho”, afirma emocionada.
O procedimento – O embrião se forma quando o óvulo é fertilizado pelo espermatozoide. A técnica de congelamento consiste na utilização de substâncias químicas (crioprotetores) para proteger as células do frio e assim permitir que elas sejam conservadas congeladas. O embrião é formado por várias células, e caso algumas dessas células não sobreviva, ele consegue se corrigir e continuar seu desenvolvimento.
A principal diferença é em relação ao descarte. Enquanto os óvulos podem ser descartados livremente, o descarte de embriões envolve questões legais e éticas. Para se ter embrião, é necessário ter óvulos e espermatozoides. Logo os embriões são de responsabilidade do casal. E qualquer atitude quanto a eles tem de ser autorizada por ambos. Já os óvulos são propriedade exclusiva da mulher e ela decide o que fazer com eles.
Outra questão importante é que a legislação brasileira impede o descarte de embriões com menos de cinco anos de congelamento, ou seja, o casal tem que arcar com os custos de manutenção do congelamento, ou então, optar pela doação dos embriões que está prevista em lei. “A indicação de congelamento de óvulos ou embriões é uma decisão individual e que tem de ser tomada em conjunto com o médico”, conclui a especialista.