Pés pelas mãos
Delegado inventa moda e polícia vira bagunça em Brasília
Publicado
emBartô Granja
Brasília não pode servir de laboratório experimental na área da segurança pública. Aliás, nenhuma cidade que se preze. Principalmente quando são copiados projetos mal sucedidos em outros centros urbanos. E é isso o que está acontecendo na capital da República, onde o secretário Edval Novaes insiste em uma fórmula que já foi adotada em vários estados, em diferentes oportunidades, e nunca deu certo.
Vindo do Rio de Janeiro para suceder a pernambucana Márcia Alencar, o carioca Edval, delegado da Polícia Federal e um dos mentores das fracassadas UPPs nas favelas do Rio, agora inventou que a Polícia Civil deve fazer o trabalho da Polícia Militar, e vice-versa. A chance de dar certo, avalia o Sindicato dos Policiais Civis do Distrito Federal (Sinpol), é nula.
Esse é um dos muitos problemas que estão sendo discutidos pelos policiais civis, que entram em estado de greve exigindo que o governador Rodrigo Rollemberg leve a segurança pública mais a sério. Especialistas avaliam que os índices de criminalidade, violência e da sensação de insegurança aumentam a cada dia. Segundo eles, a integração entre as forças de segurança não será a solução mais plausível.
De acordo com relato do Sinpol, diariamente equipes de policiais militares, policiais civis, bombeiros militares e agentes de trânsito têm sido escaladas para aumentar a presença do Estado nas cidades de todo o Distrito Federal. A ordem é abordar suspeitos, checar antecedentes e aumentar a sensação de segurança.
“A Polícia Civil, contudo, enfrenta a maior crise de recursos humanos da história. Delegacias foram fechadas pela primeira vez na capital. Hoje, dezesseis delas não funcionam à noite e aos finais de semana. As que ficam abertas os plantões contam com um número muito aquém daquele determinado pelas normas. Os agentes de polícia não conseguem atender a nenhum chamado de crime que chega à delegacia”, pontua o presidente do Sinpol, Rodrigo Franco.
Da mesma forma, as seções de investigação contam com número reduzido de agentes, o que gera atraso nas investigações e demora nas prisões. A consequência é o aumento da impunidade e da violência – uma vez que, impunes, os criminosos continuam agindo.
O problema tem obrigado, ainda, os agentes de polícia e escrivães a desenvolverem as atribuições dos delegados, como realizar oitivas e solicitar perícia.
A Polícia Civil conta com um efetivo de cerca 4 mil 300 policiais – 300 deles trabalham em desvio de função. O quadro ideal de servidores seria de 8.900 policiais civis na ativa.
Na Polícia Militar também há falta de efetivo. Ainda assim, há notícia de que centenas de policiais militares trabalham sem uniforme, em viaturas descaracterizadas, tentando fazer o trabalho da PCDF, ou seja, a investigação.
Além disso, cerca de trezentos PMs guarnecem o batalhão do Buriti, a serviço Rodrigo Rollemberg. Em cidades como o Guará, a PM já realiza uma atividade que era exclusiva da Polícia Civil – o registro de ocorrências menos graves.
Não bastassem todos esses problemas, a Secretaria de Segurança, agora, coloca os policiais civis para realizar o trabalho que é dos policiais militares, como policiamento ostensivo e preventivo, patrulhamento, rondas e abordagens a suspeitos, normalmente moradores de rua ou desempregados.
– O secretário demonstra, dessa forma, contar com o oportunismo dos comandantes da PM, que querem continuar avançando nas atribuições da Polícia Civil e resolver o seu problema de efetivo. Por outro lado, a prática conta com a conivência e abandono do diretor-geral da PCDF, Eric Seba, para com a instituição à qual comanda. Ao invés de se impor no sentido de que a PCDF cumpra seu papel constitucional, ele se dobra, mais uma vez, aos projetos de desmonte da instituição à qual diz pertencer, denuncia Gaúcho.
Ainda segundo o presidente do Sinpol, o Palácio do Buriti e a Secretaria de Segurança Pública dão provas que preferem adotar políticas equivocadas. “Ao invés de investirem mais na área, valorizando os profissionais, contratando mais policiais e estimulando uma carreira que não conta nem com plano de saúde, preferem adotar fórmulas que nunca deram certo. E com isso, segue o cortejo”, enfatiza Rodrigo Gaúcho.