Intolerância religiosa
Brasil tem uma denúncia a cada período de 15 horas
Publicado
emA ialorixá Vivian Tybara teve seu terreiro, na Baixada Fluminense, destruído “em nome de Jesus” em outubro. “É uma guerra santa desnecessária”, desabafa. “Sou nascida e criada no candomblé e conheço o histórico de perseguições”, diz.
Desde que foi criado, no início de agosto, o disque-denúncia contra intolerância religiosa da Secretaria Estadual de Direitos Humanos do Rio recebeu 44 informes – 40 de ataques violentos contra terreiros de umbanda e candomblé. Na maior parte das agressões, os responsáveis são ligados ao tráfico e a correntes evangélicas fundamentalistas, que usam a religião para propagar discursos de ódio. Segundo especialistas, a inusitada aliança entre crime e religião tem sido celebrada há muito tempo dentro de presídios.
Segundo o secretário de Direitos Humanos, Átila Alexandre Nunes, o nome de Jesus é usado para fechar terreiros por traficantes fundamentalistas.” Só na última semana, foram quatro no Colégio (bairro da zona norte) e os religiosos, proibidos de usar guias e vestir roupas brancas. A Polícia Civil, que investiga os atentados, já identificou suspeitos ligados ao tráfico. Muitos teriam se convertido na prisão. “É inegável a ascensão política do discurso de intolerância religiosa e a disseminação dos pensamentos de ódio”, diz o babalaô Ivanir dos Santos, da Comissão Contra a Intolerância Religiosa do Rio (CCIR). “Mas também temos uma inércia muito grande do Estado diante desse fenômeno, do Legislativo, do Judiciário.”
Também membro da CCIR, o pastor Marcos Amaral lembra a diversidade de posições na comunidade evangélica. “Não podemos dizer que os neopentecostais, em geral, nutrem a intolerância”, afirma Amaral.
Carmen Flores, a ialorixá Carmen de Oxum, de 66 anos, deixou o País após ser vítima de agressão, filmada e compartilhada nas redes sociais. No vídeo, ela é humilhada e forçada a quebrar imagens do próprio terreiro. Ela havia sido surpreendida por sete homens armados ao voltar das compras. “Fizeram a destruição completa da minha casa: disseram que se eu continuasse lá, matariam todos”, conta Carmen, por telefone, da Áustria. A mãe de santo não registrou denúncia. “Estou com medo de voltar ao Brasil.”