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Meu nome é Alexandre, mas pode me chamar só por Cristiano

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O pior de tudo são as facadas nas costas: Em 1950, os três principais candidatos à Presidência da República eram Getúlio Vargas (PTB), ex-ditador de inspiração nazifascista que a mão oculta dos EUA contribuíra para expelir do poder ao fim da II Guerra Mundial, daí ter assumido o nacionalismo como seu novo figurino político, com o apoio oportunista do PCB (convenientemente esquecido de que fora a principal vítima da bestialidade de Filinto Müller e sua polícia política); o brigadeiro Eduardo Gomes, que conferia alguma respeitabilidade ao moralismo rançoso da UDN por ser, pessoalmente, um homem íntegro; e Cristiano Machado (PSD), deputado mineiro em duas Constituintes.

Percebendo que as chances de Cristiano eram ínfimas, muitos líderes do PSD mantiveram seu apoio formal a ele, mas, por baixo do pano, favoreceram descaradamente a candidatura de Vargas. Foi como se originou o uso da palavra cristianização para, no jargão político, designar candidatos traídos pelos próprios partidos na campanha eleitoral.

O mais novo exemplar desta fauna é o ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha, com quem o PT (leia-se Lula) contava para, finalmente, enxotar os tucanos do Palácio dos Bandeirantes, no qual estão empoleirados há duas décadas.

Mas, ao constatar que a candidatura de Padilha dificilmente decolaria, o partido oPTou (lembram-se dos adesivos? Bons tempos…) por sua cristianização, igualmente descarada. Qualquer semelhança…

Primeiramente, estimulou a decisão do PSD de Gilberto Kassab, de trair Alckmin e apoiar o peemedebista Paulo Skaf; e do PP de Paulo Maluf, de renegar a aliança já firmada com Padilha, pulando para o galho do Skaf.

O tiro de misericórdia veio com a entrevista do ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Ricardo Berzoini, à Rede Brasil Atual.

Berzoini simplesmente informa que o PT adotará uma posição de neutralidade em relação às duas candidaturas, a própria e a peemedebista, evitando indispor-se com a segunda, pois (admite, mais uma vez descaradamente) pretende apoiá-la no 2º turno. Leiam e constatem:

“Onde há mais de um [candidato da base governista], nós temos que definir como nós vamos nos relacionar sem atrapalhar as campanhas de cada um (…). Em São Paulo, não haverá uma escolha, haverá o reconhecimento de que nós temos duas candidaturas fortes. (…) Hoje, uma delas se apresenta com mais intenção de votos (…), mas nós acreditamos que isso é muito dinâmico e não necessariamente se manterá assim. Vamos trabalhar tanto a relação com a campanha do Skaf quanto com a campanha do Padilha.

Não ter conflito é o desejo. Isso se constrói. (…) No primeiro [turno], cada um tem de buscar todas as positividades possíveis. No segundo, dependendo de quem for, se estabelece o contraditório. Então não há razão a priori para ficar Skaf procurando problema com o Padilha e o Padilha com o Skaf”.

Berzoini: “Nós temos duas candidaturas fortes”. Ou seja, o candidato da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, além de ser mais rico (seu patrimônio pessoal declarado cresceu 60% desde a última eleição, estando hoje na casa de R$ 17,7 milhões), mais simpático aos ricos, mais charmoso e melhor situado nas pesquisas eleitorais, contará com a neutralidade do partido que detém o poder federal e com a certeza de que o candidato do dito cujo evitará bater pesado nele, pois a ordem para o Padilha é não ficar “procurando problema (…) com o Skaf”.

O que lhe restará, como trunfo para tentar virar este jogo de cartas marcadas? Apenas o programa Mais Médicos (que é polêmico em demasia para ser trombeteado ad nauseam em campanha, havendo risco de, sob contra-ataque dos adversários, tornar-se um tiro no pé). Pois, quase desconhecido, Padilha é samba de uma nota só.

Nos bons tempos, o PT só vinha aqui para protestar. Poderia, certamente, unir os eleitores petistas em torno de si lembrando que o partido nasceu das refregas com a Fiesp e que Skaf é um inimigo de classe por excelência. Só mesmo na geleia geral brasileira os ditos defensores dos trabalhadores se mancomunam descaradamente (o termo é novamente obrigatório…) com os baluartes do patronato.

Mas, se as mãos do cristianizado Padilha estarão atadas pela política de não-agressão ordenada por Berzoini, que chances ainda lhe restam? Nenhuma. Seria melhor desistir de uma vez, dando ao PT liberdade para celebrar desde já o pacto mefistofélico com o grande capital, se este é seu desejo.

Sartre dizia que fazer política é enfiar a mão no sangue e na m… Finda a ditadura, sobrou a segunda, cada vez mais abundante, pois o descaramento não tem limite.

 Celso Lungaretti

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