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Amor e Música

Maria Rita se consolida no samba com seu novo disco

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Autor/Imagem:
Adriana Del Ré

Maria Rita não precisa mais pedir a bênção para entrar no samba. Isso ela já conquistou há pelo menos dez anos, quando lançou o disco Samba Meu. Mesmo assim, ela gosta de manter o protocolo, os rituais. A cantora lembra que, na época de Samba Meu, Arlindo Cruz, ao seu melhor estilo, lhe aconselhou sem rodeios: “Tudo bem respeitar, mas não precisa respeitar tanto assim. Você já é nossa, já chegou”. Maria Rita se lembra da frase, imitando o jeito de falar de Arlindo. Aliás, a maneira despojada, bem-humorada da cantora está na essência de qualquer sambista. Por isso, talvez, ela tenha essa sensação de pertencimento no meio do samba, que vai muito além da música.

Apesar de ter cantado sambas em seus primeiros discos, foi em Samba Meu que ela, de fato, mergulhou no gênero – e que lhe abriu alas para outros projetos, como o disco Coração a Batucar, o CD e DVD O Samba em Mim – Ao Vivo na Lapa e a turnê Samba da Maria. Agora, no 8º álbum, Amor e Música, que será lançado nas lojas e plataformas digitais nesta sexta, 26, ela não só prossegue sua trilha no samba como se consolida nele. São 12 músicas, a maioria delas inédita, incluindo de autores como Batatinha – espécie de regalo dado pela família do compositor baiano a ela -, do sogro Moraes Moreira, do marido Davi Moraes, de Marcelo Camelo, Carlinhos Brown e Zeca Pagodinho, além de regravações como de Saudade Louca, de Arlindo Cruz, Acyr Marques e Franco, e Amor e Música, outra de Moraes Moreira com Luiz Paiva (que ganhou ainda versão bolero nas plataformas digitais), e a faixa-bônus Cutuca, de Davi, Fred Camacho e Marcelinho Moreira, que já é conhecida dos shows da cantora e da trilha da novela Pega Pega.

Como sua identificação com o gênero se fortaleceu ao longo dos anos, a ideia é seguir a carreira pelo samba? “É difícil projetar, porque sou muito inquieta. E sou uma intérprete. Brinco que sou uma cantadora de histórias. A minha relação com o samba passa por uma questão de relevância, de entendimento do que é o meu instrumento, a identificação com as melodias, com a poesia do samba. Então, o samba me serve, serve ao meu instrumento”, ela explica, ao Estado. “Não adianta eu gritar para os quatro cantos do mundo: eu sou uma p… cantora e não ter uma música que sirva a esse instrumento. Acho que entendi isso durante o Redescobrir, aquele repertório com músicas da minha mãe (Elis). Sempre fui muito ‘sirvo à música, sou grata à musica, devo a vida à musica’. O movimento era muito mais nesse sentido, e passei a entender que a música tem que me servir também.”

Lançar um disco agora não estava nos planos de Maria Rita. No ano passado, ela fez grande show em São Paulo, em comemoração aos 15 anos de carreira, que seria registrado em DVD, com algumas canções inéditas. Mas o projeto não foi adiante. “A gente esbarrou numas questões de pós-produção técnicas, não valia a pena o esforço para tentar entender como aquilo poderia ser resolvido”, lamenta. A decisão de partir para um disco, no entanto, não foi imediata. “Teve um luto, um sofrimento”, diz. “Porque você entrega muito, criativamente inclusive.”

Foi-se o projeto, mas as músicas inéditas ficaram. O que não necessariamente ajudou a dar um norte para um novo trabalho. Mas, com o tempo, Maria Rita reconsiderou aquelas canções e elas entraram no álbum que a cantora lança agora: Nos Passos da Emoção, Amor e Música, Cadê Obá, Reza e Pra Maria. E os amigos, sem pestanejar, embarcaram na nova empreitada. Pretinho da Serrinha assina como coprodutor – a produtora é a própria cantora -, além de oferecer sua música, Reza, que ele já havia registrado, para a amiga gravar. Davi Moraes, filho de Moraes Moreira, aparece assinando várias composições, com amigos do casal, como Fred Camacho e Marcelinho Moreira. O arranjador Wilson Prateado mostra um trabalho precioso, como no clássico Saudade Louca, dando fôlego renovado a um sucesso tantas vezes gravado. “É um disco muito familiar, é muito amigo, é dentro de casa”, conceitua ela.

Amor e Música, o disco, mostra ainda a atuação de diferentes gerações de compositores no gênero. Muitas vezes, a distância da parceria foi encurtada por trocas de mensagens e áudios pelo WhatsApp. Em outras, o encontro não foi planejado. Caso da parceria de Arlindo Cruz e Davi Moraes, em Cara e Coragem. Pensada originalmente como blues por Davi, a canção virou samba após Maria Rita perceber o potencial “popular” dela – e Arlindo entrar na parceria. Dias depois de os dois terminarem a música, o veterano sambista sofreu um AVC – do qual ainda está se recuperando.

Transitando do samba cadenciado ao de quadra, das canções de amor às dores da saudade, o novo disco tem um fio condutor nítido para Maria Rita: a canção Amor e Música, um lado B de Moraes Moreira (do disco Cidadão, de 1991), gravado agora como um samba. “Essa música explica o que é minha vida, é o que move meu ser: é o amor e a música. Amor pelos meus filhos, meus amigos, pelas pessoas que me escolhem no trabalho, é uma mensagem de muita esperança, muito singela”, pondera a cantora. “Acho que ela tem essa coisa do fio condutor, até por conseguir migrar de um universo para outro com essa facilidade, essa força.”

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