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Salvas pelo jogo

Gêmeas escaparam de Auschwitz graças a esconde-esconde

Publicado

Autor/Imagem:
Pedro Nascimento, Edição

Chechia e sua irmã gêmea Amalia sobreviveram ao campo de extermínio nazista de Auschwitz e às experiências que o médico Josef Mengele fazia ali com gêmeos porque, graças a um jogo de “esconde-esconde”, não se deixaram ver juntas nem por um minuto.

“Sonhava em ser um pássaro e voar dali e trazer no meu bico pedaços de pão para a minha gêmea e a minha irmã mais velha, mas tampouco havia pão em Auschwitz”, relata Chechia Reichman, que passou a se chamar Tzvia Cohen desde que foi viver em Israel, em um vídeo gravado recentemente.

Sua filha, Ofira Azrieli, revela à Agência Efe a história da mãe e a sua própria, enquanto mostra uma foto das gêmeas quando ainda viviam na cidade polonesa de Pabianice.

“De repente explodiu a guerra e nos levaram a guetos onde o mais terrível eram as separações”, relembra Chechia.

A idosa conta que tanto no gueto da sua cidade natal como no de Lodz, para onde foram levadas mais tarde, “toda manhã vinham os alemães e chamavam e quem descia à rua já não voltava com sua família”.

“Assim aconteceu com meu avô”, explica Ofira na sala de sua casa, em Even Yehuda, 30 quilômetros ao norte de Tel Aviv, ao lembrar que aqueles judeus poloneses faziam o que ordenavam.

“Um dia de 1944 disseram que deviam ir à estação de trem e levar uma mala pequena porque iam a um campo de trabalho. Mas quando entraram no trem se deram conta de que não iam trabalhar”, acrescenta.

Azrieli indica que “havia centenas de pessoas nos vagões, de pé, apertadas, viajaram três dias e três noites, sem comida nem bebida, sem ar, sem banho e, quando o trem finalmente chegou a Auschwitz, um terço delas já tinha morrido”.

Quando a porta do trem se abriu, acrescenta, “minha avó, Sara, escutou um dos oficiais nazistas gritar aos outros ‘Zwillings!'”, que quer dizer “gêmeos” em alemão, e se deu conta do perigo.

Com a intuição característica das mães, separou as irmãs e ordenou que nunca ficassem juntas naquele horrível lugar, lembra Ofira.

A avó de Azrieli não sabia de Mengele nem dos seus horríveis experimentos.

“Após três dias, a levaram às câmaras de gás, mas, graças às suas instruções, as meninas ficaram separadas e por isso Mengele não as capturou, embora procurasse obsessivamente por gêmeos, especialmente idênticos. Minha mãe e sua irmã gêmea ‘brincaram de esconde-esconde’ com Mengele em Auschwitz. E ganharam”, sorri uma Ofira melancólica.

“Não tive infância, mas me alegra ter sobrevivido e ter tido uma vida meio normal”, declara Chechia, entre risos.

E como foi a infância da segunda geração de sobreviventes? 

– “Viver com dois pais que passaram fome durante seis anos é raro porque meu pai também é sobrevivente. A minha casa parecia um supermercado. Compravam quilos de comida, todos os armários estavam cheios, a geladeira, o congelador… E eu também tenho essa obsessão por acumular alimento”, confessa Azrieli.

Como muitos outros sobreviventes do nazismo, seus pais também guardaram silêncio sobre o seu passado e Ofira e seu irmão tiveram que “montar um quebra-cabeça”, até que na última década Chechia começou a relatar detalhes daquela vida.

“Quando os nazistas já não tinham o que fazer conosco, nos levaram a pé, uns 15 quilômetros a cada dia, na neve, pelas florestas, e durante o caminho muitos caíram”, aponta Chechia, ao lembrar as Marchas da Morte, nas quais os nazistas, acossados pelos aliados e os soviéticos, tentaram ocultar os campos de concentração e suas atrocidades e levar os prisioneiros ao interior do país.

“Não tínhamos forças nem para ficar de pé e à noite, quando nos colocavam para dormir em algum povoado, com os animais, comíamos as batatas das vacas, e acordávamos pela manhã com forças renovadas. Havia neve no caminho, comíamos a neve, estava muito boa”, conta a idosa.

Ofira, por sua vez, lamenta: “Quando era menina, ficava ansiosa para ir ao acampamento de verão na floresta, mas meus pais não me deixavam ir porque para eles a palavra floresta era morte. Eu era a única menina do colégio que nunca foi a um acampamento na floresta”.

Hoje, no Dia Internacional da Lembrança do Holocausto, no qual são lembrados os cerca de seis milhões de judeus, 200mil ciganos, 250 mil pessoas com problemas mentais e 9 mil homossexuais exterminados pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), Ofira relata o que aconteceu à sua mãe porque teme que a história se repita.

“Nós judeus tivemos Hitler, mas atualmente há outros que não são menos maus que ele”, alerta. Maya Siminovich.

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