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Ritmo acelerado

Mesmo com fim da política do filho único, China continua a envelhecer

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Autor/Imagem:
Pedro Nascimento, Edição

Dois anos depois do fim da política do filho único que durante décadas afetou milhões de mulheres na China, as taxas de natalidade do país continuam caindo, e agora as são as próprias famílias, asfixiadas pelas pressões econômicas, que resistem a ter um segundo bebê.

Dados do Escritório Nacional de Estatísticas da China mostram que o número de nascimentos caiu cerca de 630 mil em 2017 na comparação com o ano anterior. No mesmo período, o percentual da população com mais de 60 anos passou de 16,7% para 17,3%.

O fato de o país seguir envelhecendo sem parar disparou os alertas demográficos dentro do governo.

A reforma legislativa que encerrou quatro décadas de estrito controle de natalidade entrou em vigor no dia 1º de janeiro de 2016, permitindo que todos os casais chineses pudessem ter dois filhos. Segundo estimativas, a política do filho único evitou 400 milhões de nascimentos, contudo, provocou muitas distorções na pirâmide populacional.

Ficaram para trás as imagens das crianças abandonadas em cestos nas portas de orfanatos, mas hoje a China precisa de jovens para frear o envelhecimento da população. No entanto, o custo elevado da educação e novas prioridades trabalhistas das mulheres estão fazendo com que as famílias pensem mais na hora de ter um bebê. E mais ainda para dar à luz o segundo filho.

“Temos que nos preparar muito, ter muito planejamento e fazer os cálculos do quanto isso vai custar”, disse à Agência Efe Sun Zeyu, um jovem de 28 anos que é pai de uma menina e que gostaria de ter um segundo filho.

Para ele, o mais importante para os casais é contar com a ajuda dos pais. Ter filhos, disse Zeyu, exige muita dedicação, e, atualmente, as mulheres também querem trabalhar.

“A China deveria criar políticas para promover a natalidade, proibir o aborto e solucionar a dificuldade das crianças de entrar nas creches”, sugeriu.

Pesquisas publicadas nas últimas semanas pela imprensa local apontam as preocupações econômicas, o impacto nas carreiras dos país e a educação como as principais razões pelas quais as famílias evitam ter um segundo filho.

Um relatório do Comitê de Trabalho Psicológico Social de Pequim indica que só 10,8% dos casais têm dois filhos e que 58,6% gostariam de ter mais um bebê. Em 2001, porém, 70,4% tinham o desejo de ampliar a família com mais uma criança, uma época que a política do filho único seguia em vigor.

Para a Comissão Nacional de Saúde e Planejamento Familiar, no entanto, o sucesso da nova política adotada a partir de 2016 pode ser vista em outros dados: dos 17,2 milhões de bebês vivos em 2017, 51% têm irmãos, uma alta de 5% em relação ao mesmo período do ano anterior.

Os especialistas em demografia acham pouco e defendem que a China deveria promover mais políticas para incentivar os casais a terem filhos. O professor James Ling, da Universidade de Pequim, sugeriu à agência “Xinhua” duas medidas: reduzir os impostos e oferecer subsídios para auxiliar nos custos de criar as crianças.

Se o governo não fizer nada para estimular as pessoas a terem filhos, a previsão é que a população da China perca 800 mil pessoas por ano na próxima década.

O que ajuda quem decidiu ter filhos no país atualmente são as famílias, como explica à Efe Ran Ran, de 29 anos, mãe de uma menina.

“É muito importante ter familiares que ajudam a cuidar das crianças. Quando a mãe precisa voltar ao trabalho, se os avôs não são aposentados ou não estão bem de saúde, as despesas com uma babá são muitas”, indicou.

Desde a educação básica, as crianças chinesas são submetidas a uma grande pressão por causa da falta de vagas nas creches, o que obriga muitas famílias a recorrerem a alternativas privadas, com custo bastante elevado.

Por isso, o investimento na educação, especialmente nas creches, é outra das medidas apontadas como prioridades pelos demógrafos para que a China reverta o envelhecimento de sua população.

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