Blocos de rua
Sol faz brilhar ainda mais domingo do folião brasiliense
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emAproveitando o dia ensolarado, pequenos foliões saíram neste domingo (11) para acompanhar o desfile do já tradicional bloco da Baratinha, no circuito infantil do carnaval brasiliense. Com concentração no estacionamento do Parque Ana Lídia, no centro da cidade, o bloco também levou para as crianças brincadeiras, pintura de rosto, além das tradicionais marchinhas de carnaval.
Em seu primeiro Carnaval, a pequena Júlia já demonstrava disposição para cair na folia momesca. “Ela nasceu no ano passado, no dia 9, que este ano foi sexta-feira de Carnaval, então ela acabou tendo o aniversário em meio a folia”, disse Patrícia Ferreira, mãe de pequena Júlia. “O Carnaval está muito tranquilo. Ontem, foi o meu dia de sair e não vi nenhum tipo de problema e hoje estou aproveitando o dia da Júlia”, acrescentou.
Fantasiada de baiana, a pequena chamou atenção pela disposição e alegria. “A ideia é que, como esse é o primeiro carnaval dela e somos baianos, resolvemos fazer essa homenagem. A avó dela fez a fantasia e ela gostou muito”, contou Patrícia.
Na concentração do bloco, piratas, princesas, bailarinas, bichos e personagens de desenhos animados. A pequena Pietra, por exemplo, escolheu a fada Sininho, personagem do clássico Peter Pan. “O que eu mais gosto do Carnaval são as minhas fantasias. Tenho Moana, Ariel, Minnie, acho que só”, contou Pietra. “Ela que pediu pra vir aqui hoje. Ela que falou: ‘já tá na hora’. E ela vem sempre com a fantasia, com o espírito de Carnaval”, explicou o pai de Pietra, Thiago Nunes.
Calebe Ferreira escolheu sua fantasia inspirado em dois super-heróis. Com cabelos verdes e escudo na mão, ele foi de Capitão Hulk: “Gosto do Hulk e do Capitão América, quando ele joga o escudo e também quando ele se protege com ele”. Calebe foi pra rua acompanhado pela mãe, a administradora Daniela Dias, que conta porque optou pela baratinha. “Pela tradição do bloco que já acontece há algum tempo, além de o parque ser um local já conhecido da gente”, disse Daniela.
O pequeno super-herói foi uma das crianças que recebeu a identificação infantil no posto móvel da Polícia Militar. A pulseira auxilia, os policiais a encontrarem os pais ou responsáveis pelos pequeninos, caso eles se percam. A previsão da polícia é de entregar pelo menos mil pulseiras em cada dia de desfile do bloco.
“Temos aqui mais de mil pulseiras e se precisar temos mais material para distribuir”, disse à Agência Brasil a soldado Mayara Chelles. Trabalhando pelo segundo Carnaval no bloco, Mayara informou que as pulseiras estarão disponíveis em todos os blocos infantis do circuito do Carnaval. “Eles [os responsáveis] aderiram bem à ideia. Entenderam que é um mecanismo que facilita, em caso de alguma necessidade. No nosso caso, quando identificamos alguma criança sem a pulseira vamos atrás dos pais para entregar”, disse.
Além da Baratinha, o público infantil também brincou no Bloco da Tesourinha, na quadra residencial da 410 Norte. Criado em 2007, o bloco surgiu para comemorar os 100 anos do Frevo. O nome do bloco é uma homenagem a um passo do ritmo pernambucano e também às famosas tesourinhas de Brasília. Desenhadas por Lúcio Costa, com o objetivo de facilitar o escoamento do trânsito entre as vias conhecidas como eixinhos, elas se tornaram um dos símbolos da arquitetura da cidade.
Tocando frevo e marchinhas tradicionais, o bloco é embalada pela banda de pífanos Ventoinha de Canudo. Frequentadora assídua da Tesourinha, a decoradora Kalina Maurer fez dupla na fantasia com a filha, Beatriz. As duas se inspiraram em personagens do desenhista Maurício de Souza: “Minha mãe disse que queria sair de Magali e eu resolvi acompanhar saindo de Mônica”, disse Beatriz.
Mesmo com o apoio e acolhimento de boa parte da comunidade, o bloco foi alvo de reclamações de alguns moradores próximos à quadra e também da polêmica envolvendo a Lei do Silêncio. Por este motivo, não desfilou no ano passado. “Sempre tem aqueles que não querem a escola, a creche ao lado de casa ou então o bloco [de carnaval] e acabam usando algum mecanismo para impedir. Infelizmente”, lamentou Kalina.
Este ano, em razão de outros compromissos, o organizador do bloco Renato Fino, passou o bastão para um grupo de moradores. “A gente defende a ocupação dos espaços, das praças e, o que a gente tem visto, é que muita gente tem cobrado, perguntando se vai ter o bloco ou não”, disse a servidora pública Ana Paula Carvalho, irmã de Fino.
Com o apoio da prefeita comunitária, Ana Maria Carvalho, a Tesourinha voltou com força. “O bloco é uma herança da comunidade. É um bloco muito bonito que agrega as pessoas que moram nas proximidades da quadra e de outros lugares também, relata.
Além da animação infantil, o Carnaval brasiliense também tem espaço para o público que gosta de outros ritmos, em especial o rock. É o caso do bloco Eduardo e Mônica, inspirado em um dos maiores sucessos da banda brasiliense Legião Urbana, lançado na década de 1980.
Em seu segundo ano, o bloco reúne jovens e adultos, muitos dos quais viveram o período do rock nacional chamado BRock, quando dezenas de bandas embalaram as festas e fizeram a cabeça de toda uma geração.
Um exemplo é o casal Anderson e Solange Rodrigues. Nascidos no Rio de janeiro, os dois vieram morar em Brasília no final da década de 1970, quando já havia o embrião da cena que daria a Brasília o título de capital do rock. “Cheguei aqui bem jovem e acompanhei toda essa vivência. Aprendi muito e hoje trouxe meus sobrinhos e amigos para relembrar um pouco”, disse Anderson.
Fantasiado de Arlequina do rock, o servidor público resumiu a ideia do bloco, enquanto aguardava o início do show do cantor e guitarrista Philippe Seabra, integrante de outra banda ícone do rock do Distrito Federal, a Plebe Rude. “’Tem uma festa legal e a gente quer se divertir’, é o que diz a letra da música [Eduardo e Mônica] da Legião Urbana e é isso o que a gente vê aqui”, disse. Questionado se tem vontade de desfilar em outros blocos Rodrigues emendou: “Como somos do Rio, a gente adora o Carnaval e também tem disposição para aproveitar toda a diversão”, concluiu.