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A vez delas

Chapa de mulheres desafia política patriarcal do Líbano

Publicado

Autor/Imagem:
Kathy Seleme

Pela primeira vez no Líbano, uma chapa formada só por mulheres concorre nas eleições parlamentares, previstas para o dia 6 de maio, desafiando a política patriarcal que ocupa a maioria das cadeiras e onde as mulheres quase não têm voz.

A chapa, chamada “Mulheres de Akkar”, foi apresentada em Akkar, uma região rural e pobre do extremo norte do Líbano, fronteiriça com a Síria, e conta com cinco candidatas: três independentes e duas do Partido 10.452, uma pequena legenda feminista e cujo nome corresponde à área total do Líbano.

A fundadora do partido e líder da chapa, Rola Murad, explicou à Agência Efe que pretende “provocar uma revolução mental” no país e se transformar em um “símbolo” que inspire outras mulheres para que “lutem pelos seus direitos”.

“Nossa presença nestas eleições serve para enviar essas mensagens: a mulher é livre e, embora provenha de uma zona rural, tem o direito de se candidatar nas eleições para mudar a vida política e social”, destacou.

Murad afirmou que, desde que fundou seu partido em 2014, “houve muitas mudanças nas mentalidades”, mas mesmo assim não conseguiu reunir as sete mulheres que poderiam se candidatar, já que algumas possíveis candidatas se retiraram temendo as críticas de seu entorno, muito conservador.

A circunscrição de Akkar é representada por sete cadeiras, distribuídas de acordo com uma divisão confessional em vigor no Líbano: três para os muçulmanos sunitas, uma para os alauitas; uma para os cristãos maronitas e duas para os grego-ortodoxos.

Na “Mulheres de Akkar” ficaram vagas a candidatura alauita e a segunda destinada à comunidade grego-ortodoxa.

A chapa é integrada por três sunitas: a própria Murad, formada em Letras, com um mestrado em estudos estratégicos e diplomáticos; Suhad Hassan Salah, professora e advogada especializada em Assuntos Religiosos, e Gulai Khaled al Assad, de 22 anos, a candidata mais jovem no Líbano, formada em Relações Internacionais.

Também a integram Nidal Karam Skaff, grego-ortodoxa, advogada e militante em organizações femininas, e Marie Salem Jury, maronita, professora de Filosofia e ecologista militante desde 1979.

Murad denuncia que as candidatas estão sofrendo “pressões” e inclusive receberam ofertas em dinheiro e outros cargos para que desistam, mas afirma que “nunca conseguirão” convencê-las.

“Quando decidi formar um partido político, era a única mulher entre 200 e 300 homens. É uma mentalidade social, mas agora estamos otimistas, dispostas a lutar para chegar. Queremos ser um símbolo para as outras mulheres”, frisou.

Entre as candidatas sujeitas a pressões está Jury, independente, que no início hesitava em se unir à chapa de Murad, apesar de contar com o apoio de sua família.

“Estou sendo alvo de provocações, tiram meus cartazes, ameaçam as pessoas que trabalham comigo, enviaram alguém que me ofereceu uma grande quantia dinheiro para que me retirasse, mas quando se tem a vontade de fazer algo, como no meu caso e no de outras candidatas da nossa chapa, nunca conseguirão”, disse a candidata.

Jury explicou que decidiu seguir em frente porque sua região está “abandonada, com pobreza extrema e onde os jovens não têm trabalho e emigram”, caso do seu único filho, que agora vive nos Estados Unidos.

Skaff, a candidata grego-ortodoxa, declara que as mulheres estão determinadas a pôr em prática o programa eleitoral que apresentaram para tirar Akkar da pobreza e do abandono, que tem se agravado com a chegada em massa de refugiados da vizinha Síria.

“Queremos que sejam construídos hospitais, dispensários, que reforcem o ensino público, modernizem as técnicas agrícolas, melhorem a produção, desenvolvam o turismo rural, a redução das desigualdades e empréstimos e ajuda para reformar as casas em mal estado que a qualquer momento podem desabar”, detalhou.

Esta candidata, que também sofreu pressões, afirma que não desiste pelo bem da mulher em Akkar, “que é forte e educada”, e das libanesas em geral.

Entre os 976 candidatos a uma cadeira nas eleições, 111 são mulheres, um número que representa um recorde no Líbano, que, apesar de ser considerado o país árabe mais liberal, ainda conta com uma reduzida presença feminina na vida pública.

Nas últimas eleições legislativas, realizadas em 2009, só havia 12 candidatas, todas elas familiares de conhecidos líderes políticos, das quais quatro foram eleitas para um parlamento formado por 128 deputados; e a elas se soma uma única ministra.

 

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