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Moda ambulante

Estilo de Harry Styles ajuda a quebrar padrões de masculinidade

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Autor/Imagem:
Natália Guadagnucci

A primeira turnê solo de Harry Styles chega nesta terça-feira, 29, a São Paulo, depois de passar pelo Rio de Janeiro e por países da América, Europa, Ásia e Oceania. Os ingressos, que começaram a ser vendidos há mais de um ano, esgotaram em poucas horas. Tem sido assim com grande parte dos shows da Harry Styles: Live on Tour, que teve início em setembro de 2017.

Desde que a boy band One Direction anunciou uma pausa em 2015, todos os membros têm dedicado seu tempo a projetos solo, a exemplo do que já havia feito Zayn Malik, que abandonou o grupo um ano antes. Nenhum deles, no entanto, construiu algo tão consistente quanto Styles.

Seu álbum homônimo, lançado em maio do ano passado, é o mais vendido entre os trabalhos individuais de seus colegas de banda. Só na primeira semana, Harry vendeu 230 mil cópias, contra as 156 mil de Zayn. Foi a melhor estreia de um disco solo de um artista masculino britânico desde 1991 (quando as vendas começaram a ser registradas pelo sistema de informação Nielsen Music).

Alguns anos antes da carreira solo, Harry Styles já começava a se destacar pela maneira como se vestia. Enquanto os outros integrantes do grupo-sensação usavam moletom, jeans e camisas xadrez, ele aparecia ora com uma camisa de seda estampada, ora com botas de salto. A evolução de seu estilo foi gradual, e atingiu o primeiro grande ápice no American Music Awards de 2015, quando vestiu um terno com estampa floral em preto e branco da Gucci.

A partir daí, o look de alfaiataria se tornaria quase um uniforme. No palco, é raro vê-lo sem um terno, e quanto mais rebuscado, melhor: cores fortes, estampas inusitadas e texturas brilhantes são recorrentes nas peças. Para completar o visual, ele lança mão de blusas de seda com laços no pescoço e sapatos tão excêntricos quanto as roupas, em uma clara referência a visuais das décadas de 1960 e 70. Algo que o Mick Jagger daquela época facilmente vestiria.

Mas as referências vão além. Há muito de Prince e também de David Bowie nas produções de Styles, especialmente no que se refere à androginia de sua estética. Assim como eles, o membro do One Direction leva a imagem de rockstar muito além da jaqueta de couro e do jeans surrado, e faz mais do que isso: ajuda a quebrar padrões de masculinidade com suas escolhas. Em entrevista à revista Bizarre, do jornal britânico The Sun, em 2017, o cantor já havia afirmado não sentir necessidade de rotular sua orientação sexual: “É algo que nunca senti precisar definir sobre mim mesmo. Todo mundo deveria apenas ser o que quer ser”. Com a mesma naturalidade com que defende pautas progressistas, Harry veste camisas femininas, pinta as unhas e usa sapatos com salto.

Para o jornalista britânico Alim Kheraj, no entanto, “é preciso lembrar que Harry ocupa um lugar privilegiado [na sociedade]”. “Ele é, afinal de contas, um homem branco cisgênero, que publicamente só namorou mulheres. Não sei se usar algumas roupas justas e pintar as unhas significa derrubar padrões”, questiona. O jovem de 24 anos está longe de ser o primeiro frontman a apostar nesses elementos de estilo, mas a facilidade com que passeia pelas barreiras de gênero – em especial aquelas impostas por uma etiqueta – representa bem os novos tempos. Se optasse por um estilo seguro, ele certamente ainda teria seus ingressos esgotados e shows lotados. Ao assumir o risco, Styles abraça também o papel de inspirar outros jovens – especialmente os LGBTQ – a se sentirem confortáveis na própria pele.

Na moda, cada vez mais marcas se desprendem dos rótulos de feminino ou masculino em suas coleções. Lá fora, a Burberry e a Balenciaga decidiram abolir as divisões e unificar seus desfiles nas semana de moda. Por aqui, lojas como a Handred, a Beira (estreantes da última edição da São Paulo Fashion Week) e a Cotton Project oferecem roupa unissex com interessância, sem se ancorar em peças básicas.

As grandes grifes também estão atentas ao movimento de Styles. A Gucci chamou o músico para ser garoto-propaganda de sua linha de alfaiataria, além de desenvolver modelos exclusivos para sua turnê mundial. Marcas como Calvin Klein, Givenchy, Saint Laurent e Alexander McQueen seguem caminho parecido, criando peças sob medida para compor as produções dos shows. “Harry é a personificação moderna do estilo do roqueiro britânico – ousado, exuberante e com uma atitude que não pede licença”, define o estilista norte-americano Michael Kors.

Se antes seu visual o diferenciava dos outros membros do One Direction, hoje Harry parece querer se distanciar de seus contemporâneos. Pense em Justin Bieber, Shawn Mendes e no próprio Zayn: em termos de estilo, nenhum dos cantores pop de sua geração faz escolhas tão inesperadas quanto ele, nem se divertem de maneira tão genuína com a moda. A roupa funciona como uma grande aliada do processo de amadurecimento do cantor: não é mais importante que suas canções, mas ajuda a contar uma história para lá de interessante.

Se ele aprendeu algo com Prince, Bowie e companhia, sabe o quão importante pode ser a moda para quebrar padrões. Assim, sem pressa, Styles vai conquistando seu espaço na música. Um terno extravagante por vez.

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