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Vestígios de vida

Nasa fica mais perto de contato imediato com marcianos

Publicado

Autor/Imagem:
Fábio de Castro

O veículo espacial Curiosity, da Nasa, descobriu evidências de matéria orgânica complexa em rochas de Marte, de acordo com um novo estudo publicado nesta quinta-feira, 7, na revista Science.

Segundo os cientistas, embora não se trate de uma evidência direta de vida, a revelação sugere que o planeta pode ter abrigado seres vivos no passado. A descoberta foi feita em rochas sedimentares que eram o fundo de um antigo lago marciano há cerca de 3 bilhões de anos.

As moléculas orgânicas contêm carbono e hidrogênio e, eventualmente, podem conter nitrogênio e outros elementos. De acordo com os cientistas, embora sejam popularmente associadas à vida, as moléculas orgânicas também podem ser produzidas por processos não biológicos e não são necessariamente uma indicação da existência de vida.

“Com essa nova descoberta, Marte está nos dizendo para mantermos nossa trajetória e para continuarmos a buscar evidências de vida Estou confiante de que nossas missões atuais e também as que estão planejadas renderão cada vez mais descobertas de tirar o fôlego no planeta Marte”, disse Thomas Zurbuchen, administrador do Diretório de Missões Científicas da Nasa, em Washington.

“O Curiosity não determinou a fonte dessas moléculas orgânicas. Essa matéria orgânica pode guardar um registro de vida ancestral, pode ter sido alimento de seres vivos, ou pode ter existido na completa ausência de vida. De qualquer maneira, ela nos fornece pistas químicas das condições e processos planetários de Marte”, disse um dos autores do artigo, Jen Eigenbrode, do Centro de Voo Espacial Goddard, da Nasa.

O Curiosity realiza pesquisa na superfície marciana desde 2012. Em 2014, o veículo espacial já havia descoberto oscilações na concentração de metano na superfície de Marte e também confirmou a existência de compostos orgânicos, ricos em carbono, em amostras de rochas, pela primeira vez. Na época, foram encontradas evidências de clorobenzeno. Em 2015, foram descobertas moléculas orgânicas em meteoritos que se originaram em Marte.

Em 2014, cientistas também haviam descoberto moléculas orgânicas complexas soltas no espaço interestelar, utilizando para isso o maior radiotelescópio do mundo, o Atacama Large Milimeter Array (Alma), localizado no deserto do Atacama, no Chile. Em 2017, também utilizando o Alma, detectaram mais uma vez, no espaço, moléculas pré-bióticas – um dos ingredientes necessários para a existência de vida – a uma distância de 400 anos-luz da Terra.

De acordo com os autores do novo estudo, embora a superfície marciana seja inóspita atualmente, há claras evidências de que em um passado distante o clima marciano tenha permitido a existência de água líquida em sua superfície, segundo os cientistas. A água líquida é considerada um ingrediente essencial para a vida como ela é conhecida.

Os dados do Curiosity revelam que, há cerca de 3 bilhões de anos, um lago de água liquida no interior da cratera Gale possuía todos os ingredientes necessários para a existência de vida, incluindo as os “blocos de construção” químicos e as fontes de energia.

“A superfície marciana está exposta à radiação do espaço. Tanto a radiação como os compostos químicos corrosivos são capazes de quebrar a matéria orgânica. Descobrir antigas moléculas orgânicas nos cinco centímetros superiorores de uma rocha que foi depositada na época que Marte poderia ter sido habitado é auspicioso para nossas futuras missões que têm o objetivo de perfurar a superfície marciana para compreender a história das moléculas orgânicas no planeta”, afirmou Eigenbrode.

Em um outro artigo na mesma edição da Science, um grupo de pesquisadores descreveu a descoberta, também feita pelo Curiosity, de variações sazonais das concentrações de metano na atmosfera marciana nos últimos três anos marcianos, que correspondem a quase seis anos na Terra.

Processos químicos produzidos pela interação entre a rocha e a água podem ter gerado o metano, mas os cientistas dizem não poder excluir a hipótese de que o metano tenha uma origem biológica. O metano já havia sido detectado na atmosfera de Marte anteriormente. O novo artigo revela que os níveis de metano na cratera Gale aumenta nos meses de verão e diminui nos meses de inverno, todos os anos.

“Essa é a primeira vez que observamos alguma repetição na dinâmica do metano, o que nos ajuda a entender seus ciclos. Descobrimos isso graças à longevidade do Curiosity. A longa duração da missão nos permitiu observar esses padrões sazonais”, disse um dos autores do segundo artigo, Chris Webster, do Jet Propulsion Laboratory (JPL), da Nasa.

Para identificar o material orgânico no solo marciano, o Curiosity perfurou rochas sedimentares de quatro áreas da cratera Gale. As amostras foram analisadas por um equipamento do veículo espacial, que utiliza um “forno” para esquentá-las a cerca de 500 graus, liberando as moléculas orgânicas da rocha pulverizada.

O equipamento mediu moléculas orgânicas pequenas que saíram da amostra, já que os fragmentos maiores não se vaporizam tão facilmente. Alguns desses fragmentos continham enxofre. Os resultados também indicaram concentrações de carbono orgânico da ordem de 10 partes por milhão – uma quantidade 100 vezes maior que a das detecções anteriores de carbono orgânico na superfície de Marte. Algumas das moléculas identificadas contêm tiofenos, benzeno, tolueno e pequenas cadeias de carbono como propano e butano.

Em 2013, o Curiosity detectou algumas moléculas orgânicas contendo clorina em rochas localizadas em um ponto mais profundo da cratera. A nova descoberta aumenta o inventário de moléculas detectadas nos sedimentos dos antigos lagos de marte.

Descobrir metano na atmosfera e carbono preservado na superfície, segundo a Nasa, dá aos cientistas confiança de que o seu veículo espacial Mars 2020 e o veículo espacial ExoMars, da Agência Espacial Europeia, descobrirão mais matéria orgânica tanto na superfície como no subsolo raso do planeta.

“Há sinais de vida em Marte? Nós não sabemos, mas esses resultados mostram que estamos no caminho certo para encontrá-la”, afirmou Michael Meyer, cientista chefe do Programa de Exploração de Marte da Nasa.

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