Música na cura
Hospital da Criança vira palco para Orquestra Sinfônica
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emO saguão central do Hospital da Criança de Brasília José Alencar (HCB) se transformou em palco de um concerto musical de um quarteto de cordas. Com arranjos de composições populares entre o público infantil, como Trenzinho, de Heitor Villa-Lobos, músicos da Orquestra Sinfônica de Brasília do Teatro Nacional Cláudio Santoro buscaram desanuviar a carga tipicamente associada a ambientes clínicos.
“Esse projeto está sendo inaugurado pela Secretaria de Cultura [do Distrito Federal], em parceria com a Secretaria de Saúde, para levar os músicos até hospitais e casas de saúde, para trazer um pouco de alegria, mudar um pouco a cabeça de quem está aqui – às vezes, em situação um pouco difícil, complicada -, para fazer pequenas apresentações”, explicou na sexta, 27, o instrumentista Marcos Guedes.
“No programa, geralmente, a gente coloca algumas peças de música clássica, como [Wolfgang Amadeus] Mozart, e também peças mais conhecidas, como cantigas de roda, já que aqui é um hospital infantil.”
O concerto contou com dois violinistas, uma violoncelista e uma violista.
“Minha relação com a música sempre foi muito forte. A música é a minha vida. Então, faço com o maior prazer, o maior amor. Estou muito feliz de poder participar desse projeto”, afirmou Mariana Gomes, jovem de 36 anos que compõe o quarteto e toca viola há 28 anos.
“Desde pequena, meu pai colocava LPs de música clássica e, para mim, era uma coisa muito especial. Eu ficava extasiada, ouvindo. Sou apaixonada por Brasília e poder contribuir com a cidade é muito bacana”, completou.
Com perfis e histórias de vida distintos, pacientes, acompanhantes e mesmo funcionários da instituição hospitalar acompanhavam o repertório, que chegou a provocar o choro de alguns deles.
Moradora de Águas Lindas (GO), a 50 quilômetros da capital federal, Isabela Ferreira, elogiou a iniciativa. “Seria bom se todos os hospitais de Brasília tivessem algo parecido”, afirmou, entre afagos e risadas da filha, Sofia, de 1 ano e 7 meses.
“Desde quando eu estava grávida, ouvia muita música. Somos cristãs e, sempre que ela ouve, ela põe a mão no coração, aprecia. [O projeto] É algo diferenciado e, realmente, acalma. Você sente mais paz, não tem gritaria”, disse Isabela que estava no local procurando tratamento para dermatite atópica da menina.
Benefícios – Igualmente seduzido pela melodia tocada no salão, Marcos André, anestesista do hospital, afirmou que os benefícios da música se confirmam cientificamente e que, atualmente, a complementação de procedimentos médicos com técnicas menos convencionais já tem se consolidado como uma prática geradora de resultados positivos.
“Hoje em dia, tem o que a gente chama de terapias integrativas, como a musicoterapia, a aromaterapia, a equoterapia, que são feitas por outros profissionais e, de fato, diminuem o limiar de dor desses pacientes. Então, torna o hospital, que é, muitas vezes, um ambiente hostil, principalmente para a criança, mais acolhedor.”
Além de reconhecer a qualidade da música para os pacientes, o anestesista revelou que usufrui dela para si mesmo, como modo de aplacar os sentimentos de angústia acumulados por uma rotina que, por vezes, ocupa sua mente mesmo após o final do expediente. “A gente trata de pacientes que têm um prognóstico reservado, que já não têm possibilidade de cura da doença, apenas controle. A gente não usa música diretamente no consultório, mas a minha vida, particularmente, é sempre com música.”
Oncologia – Chamada de Estação Golfinho e decorada com painéis coloridos de acrílico que contrastam com câmaras de refrigeração de medicamentos, a ala de oncologia do HCB onde ficam os pacientes internados, destaca-se como a zona que mais recebe músicos e musicistas voluntários, relatou a enfermeira Ana Paula Pacheco, há três meses na função.
“Os pacientes gostam muito. Isso faz toda a diferença no tratamento. Como eles não têm cura por agora, há pacientes que ficam depressivos e, com as visitas, eles ficam mais alegres”, disse.
Maioria entre os acompanhantes, as mulheres com algum grau de parentesco com as crianças acabam, por extensão, colhendo os efeitos benéficos das canções, avalia a enfermeira. “O câncer é uma doença muito agressiva, tanto psicológica como fisicamente. Então, essa parte de voluntariado é um diferencial”, finalizou a enfermeira.