Crise Venezuela
Maduro quer regular venda de gasolina, a mais barata do mundo
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emO presidente venezuelano, Nicolás Maduro, pretende regular a venda de gasolina, a mais barata do mundo. Em discurso no sábado, Maduro não falou objetivamente de um aumento, mas mencionou que o preço atual não paga os custos de produção. Hoje, com US$ 1 é possível pagar mais de três milhões de litros de gasolina no país.
Ele sugeriu que a distribuição do combustível subsidiado, não está claro se no patamar atual, estará vinculada à carteira da pátria, um instrumento de identificação paralelo ao oficial usado pelo chavismo. Esse registro garante subsídios e bonificações a quem se cadastra nele e é usado pelo partido governista para controlar, por exemplo, a participação de sua militância em eleições.
Nas eleições que deram novo mandato a Maduro, em maio, cada portador da carteira devia escaneá-la em uma tenda do partido próxima dos centros de votação. Muitos eleitores diziam que o faziam para não perder os subsídios e bonificações.
“Dizer que doamos gasolina é pouco, a gente paga para jogá-la fora. Temos de adotar um uso racional e isso vai impactar todo o transporte automotivo”, declarou o presidente durante o Fórum do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), que se encerra hoje.
Para isso, Maduro disse que entre sexta-feira e domingo será realizado um censo – por meio da carteira da pátria – para “todos que têm um veículo”.
Ele pediu a todos os donos de qualquer veículo no país participem da consulta e façam uso “racional” da gasolina. “Temos de ter um uso racional, justo, sempre justo (da gasolina), e isso vai levar a mudanças em todo o transporte automotivo e a carteira da pátria é a resposta, o censo é a resposta”, disse.
A Venezuela tem a gasolina mais barata do mundo e o governo socialista denuncia que as máfias contrabandeiam o combustível para outros países.
Maduro anunciou na semana passada que em 20 de agosto o país eliminará cinco zeros da moeda – dois a mais do que o esperado – e um novo cone monetário surgirá em meio a uma inflação que, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), poderá chegar a 1.000.000% este ano.
Com a nova moeda de menor valor, de 0,5 bolívares (50.000 bolívares hoje), pode-se comprar 50.000 litros de nafta – derivado do petróleo usado na indústria petroquímica. Analistas dizem acreditar que essa distorção torna muito provável que o governo seja forçado a ajustar os preços dos combustíveis.
O aumento da gasolina é um tema tabu no país onde estão as maiores reservas de petróleo conhecidas no mundo. Em fevereiro de 2016, Maduro aumentou pela primeira vez em duas décadas a um bolívar por litro.
Flexibilização cambial – A instalação do fórum da PSUV, que acontece a cada quatro anos e será concluído hoje, foi feita em meio a uma guerra verbal entre o presidente Maduro e dirigentes do chavismo, que pediram uma flexibilização da política intervencionista do Estado.
O ministro da Educação, Elías Jaua, da direção nacional do PSUV, confirmou que seriam discutidos dois temas sensíveis: o regime cambial, uma vez que o Estado monopoliza as divisas desde 2003, e o preço da gasolina.
Enquanto o governo controla as divisas da economia, dependente de importações e em grave crise – com escassez de alimentos e remédios – o mercado paralelo dita o preço de vários produtos básicos.
O primeiro vice-presidente do PSUV, Diosdado Cabello, advertiu, no entanto, que o governo manterá as políticas socialistas. “Nossa proposta é o socialismo do comandante Hugo Chávez”, disse.
Dirigentes do chavismo pediram uma mudança econômica, causando a reação de Maduro, que atribui a crise a uma guerra econômica promovida pelos EUA para tentar derrubá-lo.
Maduro defendeu que, com a reconversão monetária, inicia a recuperação econômica que se aplicará “para o bem ou para o mal”. “O Partido propõe que eu nacionalize de maneira revolucionária parte da economia do país, e essa possibilidade não está afastada”, afirmou.
Maduro também pediu ao seu vice-presidente econômico, Tareck el Aissami, que promova mudanças nas empresas estatais para que superem o “capitalismo de Estado corrupto” e os “modelos falsos” de socialismo aplicados. “Pedi um estudo meses atrás e as 70 empresas (estatais) que estavam no vermelho são de nossa responsabilidade, não vou negar”, disse.