Brilho individual
Passarelas evidenciam o melhor e o pior da moda em passos diferentes
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emQue tipo de roupa merece estar na passarela? Na maioria das vezes uma bem feita, que transmita alguma mensagem interessante e que renda imagens impactantes ou inspiradoras. Nesse sentido, na quinta-feira, 25, o penúltimo dia da São Paulo Fashion Week, nenhuma coleção brilhou tanto quanto a do estilista Luiz Cláudio para a marca Apartamento 03.
Conhecido por misturar decorativismos barrocos com modelagens minimalistas sempre em tons sóbrios, Luiz decidiu se arriscar numa coleção altamente colorida. Mostrou looks lindos em degradês do verde para o vermelho e do pink para o azul cobalto, decorados com babados de ondulações delicadas e franjas, que conferiam leveza e movimento às peças.
Estampas florais, quase abstratas, geométricas, em cores primárias e secundárias renderam vestidos e conjuntos de alfaiataria igualmente sublimes.
“Comecei a desenhar a coleção e as estampas a partir do feedback do inverno: as clientes me pediam cor”, diz o estilista. “Resolvi terminar o desfiles com vestidos que remetem a flores”, diz ele sobre a sequência de longos de seda em tons vibrantes de amarelo, rosa, verde e laranja, com aplicação de pequenos babados que remetiam a pétalas. O casting todo de modelos negras foi outro gesto significativo.
Outra boa surpresa foi a Cotton Project, que fez um desfile mais maduro e estreou oficialmente sua linha feminina na passarela. Já era hora. Há algumas temporadas que a marca parecia acomodada em discursos sofisticados de coolness que não se materializavam
Desta vez, o mote da coleção é um documentário da BBC sobre hiper-realidade (Hypernormalisation, de Adam Curtis) e como ela vem borrando a apreensão do que é verdadeiro e falso, de real e ficção. Mais pertinente impossível.
Na coleção, a alfaiataria ganha destaque em criações de leitura tropical, informal e suave, que emulam uma elegância acessível e possível para as altas temperaturas do verão.
Se Apartamento 03 e a Cotton Project foram pontos altos entre as apresentações de ontem, não faltaram também pontos baixos. A passarela não perdoa. Com todos os holofotes e olhares voltados para os modelos, o talento se sobressai e a falta dele também se amplifica. Principalmente nesta temporada, na qual poucos têm orçamento suficiente para montar cenários e investir em artifícios que tirem o foco da roupa.
Como o próprio nome sugere, a principal plataforma da grife Two Denim é o jeans – o que gera uma certa expectativa em relação às interpretações dadas ao material. A roupa mostrada na SPFW, no entanto, não trouxe o frescor que se espera em uma semana de moda, com lavagens e modelagens comuns e óbvias. Apesar de algumas peças metalizadas e com aplicações de cristais trazerem (literalmente) algum brilho à passarela, a sensação é de que o desfile deixou a desejar.
Projeto estufa. Na incubadora de talentos promovida pelo evento, o carioca Victor Hugo Mattos mostra adereços de cabeça e colares maximalistas, assim como as roupas com aplicações de pedrarias que passeiam por um território que mistura etnia, street e glamour noturno.
Formado em moda na Bélgica e estagiando na Louis Vuitton Paris, o mineiro Fernando Miró, da marca Mipinta, fez um mix de aviação, sportswear e cultura queer. Na sua passarela, entram em cena macacões esportivos com náilon de paraquedismo, calças assimétricas, bombers, saias e capas desconstruídas infladas de ar.