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Governador acordou tarde

Rollemberg ajusta passo da volta para depois que entregar o Buriti

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Autor/Imagem:
Marc Arnoldi

Recadastramento de mais de 130 mil inscritos na CODHAB, lançamento de editais de licitação para o plano de saúde dos Servidores e de concessão do autódromo, campanha de publicidade institucional, as últimas semanas do Governo Rollemberg mostram uma atividade incomum. Afinal, Rodrigo não foi derrotado pelo que fez em quatro anos, mas pelo que não fez. Ou não conseguiu. Ou não quis decidir.

O símbolo da inação do atual Governo de Brasília está bem no coração da cidade, capital do Brasil. É um pedaço de viaduto caído, abandonado, cercado de tapumes que, por sua vez, também ameaçam desabar por apodrecimento da madeira. Uma tragédia evitável, que começou com um grande susto. E virou um abacaxi cada vez maior. Não, um limãozão. Que no entanto tinha tudo para virar uma limonada. Pelo menos política.

Primeiramente, o milagre foi não termos vítimas humanas. Ninguém caiu lá de cima, como na Itália meses depois, ninguém foi esmagado por toneladas de concreto, como em Belo Horizonte em 2014. Sobre a responsabilidade da queda, a diluição em todos os governos precedentes também funcionou. Afinal, manutenção tem que ser constante.

Mas o que podia ser grande chance para o Governador se mostrar decisivo e incisivo foi desperdiçada. Roriz ou Arruda teriam acampado na obra, capacete de operário soldado na cabeça, dando ordens e cobrando agilidade. Rollemberg preferiu consultar. Criar comissões, chamar conselheiros, ouvir palpiteiros. Pareceu hesitante, impotente. Não exerceu a prerrogativa prioritária de um governante: decidir.

O Brasil (e o mundo) de hoje não é para os “conciliadores”. Putin, Trump, Bolsonaro, Witzel ou Doria não chegaram ao poder com discurso de moderação ou mesmo de concertação. Eles carregam ideias e posições, muitas vezes polêmicas, mas firmes. E pretendem não medir esforços para conseguir implantá-las.

Os tempos atuais de redes sociais e saturação de informações levam ao radicalismo e à obrigação de ter posicionamento sobre todo e qualquer assunto. Se as ideologias morreram, elas deixaram lugar a conjuntos de valores nem sempre coerentes entre si, mas defendidas com unhas e dentes. Dentes de tubarão, prontas para devorar quem se atrever a enfrentar a goela bem aberta.

À articulação e aos conchavos, sempre suspeitos de encobrir acordos pouco ou nada republicanos, hoje prefere-se a imposição. A razão do mais forte sempre é a melhor, já dizia Jean de La Fontaine no Século XVII. Até para a oposição um poder forte é mais proveitoso: fica mais fácil ser contra alguém que toma decisões claras, do que ter no trono um desses governantes que adora propor reuniões e debates abertos. O estilo Itamar Franco saiu de moda, Michel Temer sairá do Planalto escapando da chuva de tomate mais em razão do alto preço do fruto do que graças a sua popularidade.

A história sendo sempre um eterno recomeço, os mitos de hoje podem rapidamente perder a majestade, e voltar à vala comum em questão de meses. Os tempos dos “negociadores” (alguns diriam empurradores-com-barriga) talvez são estejam atravessando um deserto político. 2022 é logo ali.

Rodrigo Rollemberg é jovem, tem carreira e talento político. Muito. Só o fato de ter chegado ao segundo turno, apesar da sofrível avaliação de seu governo, mostra como ele sabe operar nos corredores da política. Ele é um dos poucos nomes fortes de um partido integrante de uma corrente que terá um papel determinante nos próximos meses: a esquerda não-petista. Nos últimos dias de poder, ele pretende deixar passos para uma nova caminhada.

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