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Palácio x Câmara

Estilo trator de Ibaneis provoca primeira crise

Publicado

Autor/Imagem:
Marc Arnoldi

Estamos só na terceira semana dos novos mandatos, e acaba de acontecer a primeira queda-de-braço entre o governador Ibaneis Rocha e a Câmara Legislativa, renovada e mais plural na sua composição.

A relação começou bem. O Buriti tem um aliado na presidência, e a oposição é reduzida. É uma praxe. Raramente os novos governadores não conseguem pelo menos a maioria simples na Casa. É que ele tem um poder mágico: o de nomear um montão de gente num montão de lugares.

Como os deputados distritais mal saíram de uma campanha que mobilizou dezenas ou centenas de apoiadores, os pedidos de empregos são numerosos. Ainda mais num Distrital Federal de mais de 300 mil desempregados.

Ibaneis não esperou o fatídico primeiro de janeiro para vestir o terno de governador. Já começou a articular seu secretariado, seus projetos e até suas finanças enquanto ainda era só “eleito”. No dia em que o Diário Oficial passou a ser seu, não revolucionou, até para a decepção de alguns de seus admiradores: fez composições, recebeu indicações, agradeceu amigos de longa data e alguns bem mais recentes.

Para as Administrações Regionais também seguiu um roteiro conhecido, mesclando pessoas de sua confiança fora da política partidária, e sugestões de distritais. O Buriti indicou ter mandado levantar os candidatos mais votados por cada uma das 31 Regiões Administrativas (afinando os resultados oficiais do Tribunal Regional Eleitoral que funciona em 19 Zonas Eleitorais) para avaliar quem podia falar razoavelmente em nome dos habitantes daquele local.

Alguns certamente ficaram frustrados. O governador deve ter invocado a “cota pessoal” e provavelmente negociado contrapartidas em outros órgãos. Também é a praxe. Mas após o turbilhão do primeiro dia e seu cortejo de encontros e posses, houve um descompasso constitucional entre a fome de governar do advogado, e a Lei Orgânica do Distrito Federal.

Contrariamente ao Poder central, que instala sua legislatura em fevereiro e começa seus trabalhos no mesmo dia, a CLDF já deu posse aos novos mandatários… que saíram de férias por 30 dias. Tudo legal, está no artigo 65 de nossa Carta Magna Distrital. Mas não deixa de ser surpreendente gozar de um mês de descanso remunerado quando mal se entrou no emprego. E que há um outro mês de fechamento previsto em julho. E que o ano, para eles, termina em 15 de dezembro.

A impaciência do novo Buriti que, uma vez investido de fato na administração, descobriu alguns esqueletos em armários, mais uma praxe, se traduziu por um chamamento ao trabalho, pelo menos por um dia, numa convocação extraordinária dos deputados. Recebida friamente, a proposta ia sendo empurrada com a barriga de um lado da Praça, e negociado do outro.

O destino da Orla do Lago e o embate com o Ministério Público fez diversão. Vários projetos estariam na pauta desta sessão extraordinária, mas o mais comentado é aquele que faz passar o estatuto do Hospital de Base de exceção à regra. O que até pegou o contrapé de alguns distritais, ainda surpresos com a mudança radical de Ibaneis sobre o assunto. O pequeno grupo que se declarou oposição ao governo já tinha o discurso contrário na ponta da língua, mas houve constrangimento por parte de integrantes da bancada considerada governista.

Mas o tom subiu na quinta, 17, e sobretudo na sexta-feira, 18. O governador relembrou seus tempos de OAB para considerar que “os deputados escolhem o que querem, a partir daí eu vou entrar com uma ação contra cada um pela morte de cada cidadão”. Palavras fortes, que causaram reações dos parlamentares, em grande parte presentes em Brasília apesar do período de férias.

Talvez mais ainda forte, a decisão de Ibaneis de “congelar” as nomeações no Diário Oficial. Os segundo e terceiro escalões ainda estão em formação, as equipes das administrações regionais também, e alguns dos deputados fizeram chegar ao Buriti no início da semana suas lamentações quanto ao ritmo das publicações nominais no DODF. Foi a gota d´água. Sentindo-se chantageado, o dono da caneta recolocou a tampa.

A queda-de-braço está instalada. Não vai durar, porque não interessa a ninguém que continue, mas deve servir para identificar, nestes novos tempos, qual ou quais vestirão as roupas de bombeiros.

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