Quem leva a melhor
Mustang e Camaro, o tira-teima das duas feras
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emO Mustang, que a Ford finalmente passou a oferecer no Brasil – no ano passado –, é um fenômeno: somou 988 emplacamentos até dezembro. Seu arquirrival Camaro é vendido no País pela Chevrolet desde 2010 e acaba de receber atualizações. Com entregas a partir de março, o modelo com retoques no visual e novo câmbio automático desafia o concorrente em um tira-teima – no duelo publicado em maio de 2018, o Mustang levou a melhor.
Como o novo Camaro ainda não está nas concessionárias, os quesitos preço e valores de seguro e manutenção não foram considerados neste comparativo. Mesmo com as bem-vindas mudanças, mais uma vez não deu para o Chevrolet.
Houve empate no critério câmbio, pois os dois têm caixa automática de dez marchas. O Camaro levou vantagem em quesitos subjetivos, como desenho e acabamento, mas na maioria dos demais, só deu Mustang.
Com tabela de R$ 315.900, o Ford tem motor mais moderno. Seu 5.0 V8 traz duplo comando variável de válvulas, solução não disponível no já defasado 6.2 V8 do Chevrolet. A diferença de potência é pequena. São 461 cv no Camaro e 466 cv no Mustang. Em relação ao torque, o Chevrolet leva vantagem. Tem 6,2 mkgf a mais e entrega a força total mais cedo, a 4.400 rpm.
O Camaro é um pouco mais leve que o Mustang. Na prática, isso se traduz em um décimo de segundo a menos para acelerar de 0 a 100 km/h, conforme dados das fabricantes. São 4,2 segundos para o Chevrolet e 4,3 segundos para o Ford.
Além do câmbio automático de dez marchas, o Camaro passa a vir na linha 2019 com o controle de largada, que o Mustang também já tinha.
O Ford é bem superior no equilíbrio entre esportividade e conforto. Com respostas de direção mais diretas e amortecedores adaptativos, que o Camaro não tem, é firme em curvas, mas pode ser ajustado para uma “pegada” mais macia – há seis modos de condução. O Chevrolet é sempre ríspido nas respostas. Assim como no Mustang, o câmbio e a direção do Camaro podem ser ajustados para entregar ímpeto menor, mas os amortecedores, não.
Por causa do amortecimento menos eficiente, os impactos contra pavimento imperfeito são transferidos o tempo todo à cabine e, consequentemente, a quem está a bordo. Mas, mesmo sendo “pesadão” e com tração traseira (como a do Ford), o Chevrolet é um verdadeiro devorador de curvas.
No visual, o Camaro traz nova grade, mais robusta, e a gravatinha da Chevrolet agora é vazada. As linhas do Mustang são mais harmoniosas, mas as do rival são mais imponentes, algo que “casa” melhor com o conceito de “muscle car” (carro musculoso, em tradução livre). A cabine do Chevrolet tem materiais de qualidade superior e sistema de iluminação com 24 cores.
O conteúdo esportivo e tecnológico do Mustang é superior ao do Camaro. Só o Ford tem, além dos amortecedores magnéticos, controlador de velocidade adaptativo. Há ainda o Line Lock, que trava as rodas dianteiras para permitir o “burnout” (queimar pneu, em tradução livre) e sistema que altera o som do escape.
O Chevrolet contra-ataca com freio de estacionamento elétrico (manual no Ford) e teto solar. Apenas o Mustang traz painel virtual. O do Camaro é analógico, com uma tela central de TFT.
No Camaro, há um Head Up Display (projeta informações do painel no para-brisa, para que o motorista não tire os olhos na via) configurável que mostra até a aceleração lateral. Já a central multimídia do Ford, com tela integrada ao painel, é mais fácil de usar que a do Chevrolet, que fica sobre o painel central.
A melhor posição de dirigir é mais fácil de ser encontrada no Mustang, que oferece ajuste de altura do banco mais amplo. Além disso, seus comandos estão mais à mão. O consumo é algo pouco importante para quem compra um “muscle car” V8. Ainda assim, o Ford é menos gastão. Mas, como tem 12 litros a mais no tanque, o Camaro oferece maior autonomia.
Mustang e Camaro não são carros para usar no dia a dia. Após mais de uma semana rodando com os dois, até senti um certo alívio ao assumir o volante de um confortável Corolla. Embora possa ser ajustado para uma tocada um pouco mais suave, o Ford pula muito em pisos irregulares. É também muito comprido e tem carroceria cheia de vincos, que dificultam a missão de estacioná-lo em vagas apertadas (os “músculos” do Camaro são ainda mais proeminentes).
Mas quem disse que esportivo é para o dia a dia? Quando o assunto é frio na barriga, Camaro e Mustang são gigantes. Bem mais acessíveis que esportivos europeus, eles andam muito. Além disso, eles urram alto (o som do V8 do Ford pode ser ajustado), graças aos cada vezes mais raros motores aspirados, que nem a Fórmula-1 tem mais. E, mais que tudo, geram adrenalina.