Bill Clinton faz escola. Agnelo, um compulsivo sexual, é aluno nota 10
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emO ex-soldado João Dias, promovido a cabo após o episódio que derrubou o ministro do Esporte Orlando Silva, e transferido para a reserva, contra a vontade, ao fragilizar o governo de Agnelo Queiroz com uma série de denúncias, acaba de desembarcar em Brasília após uma curta viagem.
João Dias voltou com a língua afiada e a metralhadora engatilhada. O alvo é Agnelo Queiroz e todos aqueles que fazem parte da confraria do petista que governa o Distrito Federal. Sob os braços, documentos que começam a receber a forma de um dossiê.
Novas revelações ganham vulto para alicerçar denúncias que deixaram dúvidas no ar. Foi o que João Dias mostrou a Notibras, durante uma conversa que se estendeu por mais de três horas em um shopping de Brasília.
A entrevista foi descontraída. As espantosas assertivas foram gravadas com a autorização de João Dias. A conversa, nítida, está sendo degravada. E à medida em que a voz sair da fita para ganhar a forma de letras, Notibras vai revelando tudo numa série de reportagens.
Não há o que duvidar do que foi dito pelo carrasco de Orlando Silva. E que pode sepultar definitivamente a carreira política de Agnelo Queiroz. A confraria é grande. João Dias não deixou escapar ninguém.
Na lista dos confrades de Agnelo Queiroz, segundo João Dias, estão Abdon Henrique, Luiz Carlos Alcoforado, um grupo de coronéis capitaneados pelo chefe da Casa Militar Rogério Leão, delegados de polícia, jornalistas e lobistas. O ex-soldado falou muito. E muito será escrito.
Mas o dossiê de João Dias não revela apenas a corrupção que, segundo ele, transformou Agnelo Queiroz em um facínora. O governador tem um lado até então desconhecido da sociedade: a promiscuidade enquanto homem que faz as vezes de animal irracional quando o assunto é sexo.
– Agnelo é execrável. Um maníaco que tem compulsão por sexo, diz João Dias.
As palavras do ex-confidente do governador brasiliense, que tenta a reeleição, fazem de Agnelo um fiel discípulo de Bill Clinton, ex-presidente dos Estados Unidos. Lembra o episódio do marido de Hillary com a estagiária da Casa Branca Mônica Lewinsky.
– Por muitos anos fui amigo do Agnelo. Levei dinheiro sujo para ele e parte desse mesmo dinheiro foi levada por mim para terceiros. Eu era um profissional a serviço dele. E fazia tudo o que era possível – e o impossível, enfatizou o ex-soldado na entrevista.
A presença de João Dias na vida de Agnelo Queiroz, portanto, não esteve restrita apenas à condição de ‘carregador da mala’. Ao longo de muitos anos foi assessor e consultor. Participou diretamente da elaboração do programa Segundo Tempo, quando o governador estava à frente do Ministério do Esporte. E fez as vezes de interlocutor de negócios escusos na época de Agnelo na Anvisa.
Entretanto, revela João Dias, essas ações não o deixaram com a consciência pesada. O que ele não aceita, e até hoje se recrimina, é de ter feito o papel de cafetão para levar mulheres de programa para Agnelo Queiroz.
– Fiz favores pessoais e hoje me constranjo. Agnelo selecionava garotas em sites pornográficos, acertava o preço e me avisava. Por eu ser, na época, pessoa da confiança dele, ia buscar a mulher e levar ao encontro dele.
João Dias, sem precisar de nenhum esforço de memória, reproduz as conversas de Agnelo:
– Pega a fulana em tal local. Marquei agora. ‘Tá aqui o telefone dela se houver desencontro. E deixa ela em tal local, recorda o ex-soldado.
Para saciar o lado sexualmente compulsivo, Agnelo Queitoz, conta seu ex-colaborador, recorria a garotas de programa ao menos uma vez por semana.
– Invariavelmente o encontro se dava em um posto de gasolina. Na maioria das vezes, na região do Colorado, porque ficava mais perto dos motéis. Ele era ministro, era diretor da Anvisa, é (como é ainda hoje), casado, pai de família. E de tudo o que eu fiz, com isso não me conformo.
Porém, não apenas João Dias se encarregava dessa missão.
– Não era só eu. Eduardo Tomaz, Demétrius, Vieira… uma gama de amigos, todos de confiança. Quando eu estava impossibilitado, um deles pegava (no sentido de ir buscar) as garotas. Havia um verdadeiro time escalado para se encarregar de levar as moças até o ponto combinado, sublinha o ex-soldado.
Até hoje João Dias diz não se conformar com esse seu lado fraco. E se penitencia.
– Ele (Agnelo) é da pior espécie de gente que tem sobre a terra. Ir a público, pedir votos, falar em família e fazer essas coisas. O cara sai candidato, expõe toda a família dele na televisão, dizendo que trabalha pela família, que é um cara de família e fazer isso quase que semanalmente. Eu precisava desabafar, tirar esse fardo das costas.
O dossiê do ex-soldado, apelidado por muita gente de oficial superior de quatro estrelas, promete ser vasto. A fita continua a ser degravada. O fio da meada começa aparecer.
Elton Santos, repórter
José Seabra, editor