Pele
Psoríase e dermatite exigem mais cuidados
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emCoça um pouquinho aqui, um pouquinho ali, e de repente vem a ferida. Tudo consequência da psoríase e dermatite atópica, doenças com causas e consequências diferentes, mas que têm em comum os efeitos na pele das pessoas afetadas por elas. As duas demandam cuidado durante todo o ano, mas o inverno é um período que exige atenção redobrada para evitar desconfortos.
O cenário que a estação mais fria do ano cria acaba sendo favorável para uma piora do quadro de quem possui as enfermidades, mas qual a diferença entre as duas?
A dermatite atópica é uma doença que tem duas fases: uma aguda, com crises de inflamação e coceira, e outra crônica, com uma estabilização das inflamações. Valéria Aoki, professora do departamento de dermatologia e diretora do laboratório de imunodermatologia da Universidade de São Paulo, explica que a pele dos afetados fica úmida durante a fase aguda, e seca durante a crônica.
“É uma doença comum em crianças, pode começar a partir dos três meses de idade. Dos afetados, 60% melhoraram ao redor dos dez anos, mas 40% podem continuar [a ter a doença] na adolescência e fase adulta, só 10% desses 40% terão uma doença na forma grave”, pontua a médica.
A doença costuma afetar principalmente a face e a região das dobras, gerado uma coceira incontrolável, em especial no período da noite. Além desse efeito, ela costuma acarretar problemas para dormir, afetando também a dinâmica familiar.
Valéria explica que a dermatite atópica está ligada a uma alteração na chamada barreira cutânea, que atua como um mecanismo de defesa da pele contra agressores. “Isso favorece infecções e penetração de agentes exógenos [externos], que são irritantes”, comenta ela.
Existem algumas causas para essa mudança, como alterações genéticas que levam à perda de água e óleos na pele. Uma pele ressecada fica parecida com um “muro com buracos”, e aí por isso que a entrada de agentes externos inflamatórios fica facilitada.
A doença também pode se agravar com exposição à poluição, estresse ou contato com substâncias na alimentação como corantes e conservantes. Geralmente também está ligada a doenças respiratórias, como asma e bronquite.
Já a psoríase é uma doença inflamatória, não contagiosa, que está ligada à existência de fatores genéticos e de influência de fatores externos, como estresse, infecções, remédios e clima seco. Paulo Oldani, dermatologista e responsável pelo ambulatório de psoríase do Hospital Federal dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro, explica que são esses elementos que causam o processo inflamatório ligado à doença.
O médico explica que a doença atinge principalmente a pele, podendo levar à artrite, mas também está associada a uma prevalência maior de diabetes, obesidade e colesterol alto, que desencadeiam processos inflamatórios, inclusive em outras partes do corpo.
“Muitos acreditam que [a psoríase] seja algo psicológico, mas isso é errado. Ela é inflamatória e tem alto impacto na vida do doente, em casos mais graves reduz muito a expectativa de vida do paciente e gera outras doenças”, alerta Oldani.
O tratamento da psoríase teve grandes avanços nos últimos anos. O médico comenta que nas décadas de 1980 e 1990 uma melhora de 50% era vista como “excelente”, e hoje já é possível ter uma melhora de 100%, eliminando as lesões na pele, que parecem grandes placas vermelhas.
Cuidados
Por estarem associadas com a pele e a sua hidratação, os especialistas destacam que o primeiro problema é o fato do inverno ser uma estação seca. Como há pouca produção de água pelo corpo, é recomendado que quem possui as doenças mantenha uma grande hidratação da pele, com uso de cremes hidratantes.
“O hidratante tem água e óleos, ou seja, repõe o que falta na pele. Mesmo se toma medicação para isso [dermatite atópica], precisa do hidratante”, ressalta Valéria. Tanto a psoríase quanto a dermatite atópica podem gerar inflamações mais graves e constantes, e aí é necessário incluir no tratamento remédios anti inflamatórios, geralmente por via oral.
Outro problema da estação é a diminuição da exposição a raios solares, que possuem raios ultravioletas, com caráter anti inflamatório. A chamada fototerapia, por exemplo, pode ser usada no tratamento das doenças exatamente por envolver a exposição a raios ultravioletas.
Os médicos também recomendam evitar banhos quentes, já que a água quente leva à perda da própria umidade da pele, com evaporação da água existente nela. O recomendado é tomar banhos mais curtos e mais frios, a medida do possível.
Para quem tem dermatite atópica, Valéria Aoki aconselha evitar o uso de sabonetes que podem ser muito abrasivos, pois eles tiram mais óleos da pele. Esses sabonetes tem ph alcalino, acima de sete. O ideal é procurar sabonetes com ph abaixo de sete, geralmente indicados como ph próximos ou iguais ao da pele. No caso da psoríase, é recomendável também evitar usar tecidos mais ásperos, em especial os de lã, e usar roupas de algodão e mais folgadas.
Outra dica para quem tem dermatite atópica é evitar exagerar no uso do umidificador e do ar condicionado, já que um aumenta a umidade do ambiente e o outro, diminui. “Precisa de um ambiente ideal, não pode ser muito úmido e nem muito seco”, explica a médica. Um bom ambiente também deve ser ventilado, para evitar acúmulo de poeira e ácaros, que podem causar crises inflamatórias. É importante manter as unhas higienizadas, para evitar a transmissão de bactérias e outros agentes infecciosos pelo contato com a pele em caso de coceira.
Além desses cuidados básicos, Paulo Oldani destaca que é sempre necessário que a psoríase e a dermatite atópica sejam tratadas a partir de um acompanhamento médico. “As doenças têm um impacto psicológico, na qualidade de vida, quanto mais cedo tratar, melhor. Elas alteram até opções profissionais, casamento, filhos. Isso gera um impacto que se acumula ao longo da vida, quanto mais cedo controlar, melhor.”
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