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Fato e fake

Laboratórios vão faturar alto com a crise da Covid

Publicado

Autor/Imagem:
Wenceslau Araújo*

Tudo indica que o fato gerador do tresloucado ato de empurrar para as calendas a solução da compra de vacinas para controle da Covid-19 no Brasil foi pura incompetência do governo do presidente pirata. E deve ter sido mesmo, na medida em que em o moço parece um Midas às avessas. Onde ele toca a mão sai caca. Impressionante e vergonhoso afirmar isso, mas, lamentavelmente, suas ações não podem ser ignoradas. E se não for? E se tiver sido deliberado? E se for mais uma de suas pegadinhas contra o povo que teima em entender a vacina como único antídoto contra o vírus? E se a intenção final for abarrotar os laboratórios de dinheiro?

Tomara que não. Se for, vira caso de polícia, de impeachment ou, no mínimo de internação em um manicômio. O problema é que onde há fumaça há fogo. Como está escrito na oração de São Francisco, onde houver dúvida que eu leve a fé. Onde houver erro, que eu leve a verdade. Partindo do pressuposto das mentiras a olho nu do presidente da República que ainda não sabe o que tem de fazer para governar, os boatos que pululam pelos corredores de prédios, filas de bancos, loterias e supermercados e até nas baias de consultórios de fisioterapia são preocupantes, embora, por enquanto, permaneçam na escala de fake news produzidas a partir da inércia oficial.

Imagina-se que esse tipo de fake não tenha sido conjecturado em gabinetes por se tratar de algo hediondo. Boato ou não, a história repetida é que os laboratórios e clínicas privados que se assanharam em “baypassar” o governo na compra de vacinas chinesas, inglesas, alemãs, indianas e russas não fizeram isso de graça. Não se sabe se alguém mandou, mas, lembrando o médico exonerado no Supremo Tribunal Federal por requisitar prioridade para os ministros e servidores da Corte na campanha de vacinação, bagrinhos não assinam, pedem, determinam ou compram nada sem a aquiescência do chefe maior.

Esta semana a Associação Brasileira das Clínicas de Vacinas (ABCVAC) iniciou negociações com o laboratório Bharat Biotech, da Índia, para compra de cinco milhões de uma vacina chamada Covaxin. Interessante é que os empresários do setor acreditam que o medicamento estará disponível para o povo já em março próximo. Estranho não partir do governo federal ou dos governos estaduais uma mega operação como a anunciada. Ideologia à parte, brasileiros e brasileiras estavam se preparando para uma iniciativa do Sistema Único de Saúde (SUS), liberando para os estados propostas similares e gerenciadas nacionalmente pela Anvisa.

Parece que melou ou liberou geral. Vale lembrar que, já testada em vários outros países e mesmo no Brasil, a Coronavac chinesa faz tempo não presta para o governo Bolsonaro, apesar da insistência do governador João Dória e do seu Butantã. O mesmo ocorre com a Sputnik V, cujos testes ainda não foram concluídos na terra de Cabral. O mais interessante é o tempo recorde da negociação com a empresa indiana, que já foi visitada pelos empresários brasileiros, assinou memorando de intenção com a ABCVAC e abriu tratativas para procedimentos junto à Anvisa para questões de registros. São pesos e medidas diferentes? Questionaram a China e a Rússia e vão liberar facilmente para a Índia?

Como leigos, estamos certos de que o desconhecimento da população brasileira sobre laboratórios chineses e russos é idêntico em relação aos indianos. Afinal, certo ou errado, só nos tratamos quando lemos na bula made Estados Unidos, Alemanha, França, Itália, Inglaterra e Holanda, entre outros. O fato é que, venha de onde vier, ainda não temos qualquer definição sobre o assunto. Mais relevante na crise sanitária que assola o mundo é que, fora do SUS, teremos de pagar – e caro – pela vacina. E quem não puder comprá-la nas clínicas da ABCVAC? Vai morrer, diriam os menos otimistas com a agilidade do Governo Central.

O problema é sério. Chegamos em janeiro de 2021, um ano após a explosão de casos em todo mundo, e nada de concreto para imunização do povo. Nem seringa temos. A compra foi suspensa pelo presidente que nada sabe. Portanto, o que ainda é uma alarmista fake news pode se transformar em novo pesadelo para as famílias brasileiras, sobretudo para aquelas que têm ouvido esses burburinhos nas filas públicas e que já afirmaram que, caso o SUS não disponha do antídoto, abrirá mão dele. Em outras palavras, mais uma vez, voluntária ou involuntariamente, farão o que o mestre determina e acha mais correto: não ser vacinado contra a Covid-19. Um absurdo a mais para a conta do presidente que insiste em ignorar a crise.

*Wenceslau Araújo, jornalista, é o mais novo colaborador de Notibras

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