Goiaba e laxante
Papel rasurado deixa Damares com prisão de ventre
Publicado
emVítima recente de diarreia de fundo emocional provocado por documento rasurado, a ministra Damares Alves, da Mulher, Família e Direitos Humanos, tem reclamado nos últimos dias de cólicas intestinais. Não mais, porém, por uma suposta infecção no grosso ou delgado, mas por ter se excedido na goiaba. Com prisão de ventre aguda – é notório que os frutos da Psidium guajava prendem o intestino -, ela se vê obrigada agora a trocar sua garrafa de Perrier por jarras de poderosos laxantes.
O mal que acometeu a ministra veio logo após a sumária demissão, sem justa causa, de servidor que manifestou, em um grupo de WhatsApp, a suspeita de ter sido contaminado pelo novo coronavírus. Irritada, Damares tentou justificar seu gesto de mandar o assessor para o olho da rua alegando que não queria em sua equipe disseminadores de notícias falsas, o que poderia, na insensata opinião dela, provocar pânico entre os funcionários do ministério.
A injusta demissão, como não poderia deixar de ser, foi parar na justiça. E a ação, iniciada logo após a viagem do presidente Jair Bolsonaro aos Estados Unidos, vem se arrastando até agora. Fruto da viagem – iniciando a época das vacas gordas com diárias internacionais – a comitiva presidencial trouxe da terra de Tio Sam, na bagagem, uma infinita quantidade de cepas só comparada aos imigrantes ilegais que pulavam o muro de Trump.
A suspeita da contaminação do servidor era razoável. Até porque, o caso deu-se no momento em que era crescente a circulação de funcionários federais em áreas nitidamente infestadas pelo vírus. Não bastasse isso, o servidor, sempre zeloso de suas obrigações, começou a apresentar sintomas compatíveis com o de alguém infectado pela Covid, já descartadas, por outros exames, dengue e gripe suína.
O caso é emblemático. Da Justiça Federal, a ação pode passar, a pedido da ministra, para a alçada do Superior Tribunal de Justiça, onde Damares espera conquistar mais visibilidade do que o hilário episódio da goiabeira. As dores de Damares, que se espalharam dos intestinos para a cabeça, provocando inclusive síndrome de consciência pesada, ficaram mais latentes quando o ministério que ela comanda anexou ao processo documentos rasurados.
Esses papéis – exames clínicos, atestados médicos, receitas -, receberam o carimbo de ‘sigiloso’ sem qualquer amparo legal. E como o assunto envolve saúde, o caso foi parar no Conselho Regional de Medicina do Distrito Federal. É fato que médicos têm obrigação de sigilo sobre prontuários, incluindo atestados que justifiquem a ausência de qualquer profissional da sua atividade. Supõe-se que, em razão disso, a ripa da goiabeira pode bater no lombo de quem errou.
Por isso, o CRM-DF, que tem também a atribuição de investigar e punir o médico que, supostamente, não deu o tratamento adequado às informações sigilosas do servidor, juntando o documento, ou permitindo que terceiros o fizessem, quer saber quem, e a mando de quem, agiu como um estabanado. Mas o ministério, acreditando-se firme como uma goiabeira, não revela o nome do responsável nem tendo os seus galhos retorcidos.
Enquanto o processo corre, o preço da goiaba está subindo, assim como seu consumo, para aliviar as cólicas provocadas pelos movimentos peristálticos nas tripas do séquito em volta da ministra, como as tripas da própria Damares. Alguns, na esperança de ‘aliviar a barra’, já tentam se aproximar de um procurador da República cuja foto e telefone foram expostos no print vazado com a finalidade de jogar o servidor na frigideira. O motivo da fritura, espera-se, virá nas informações sem rasuras.