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Uva e vinho

Baco desce do Olimpo e planta sementes em Brasília

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Autor/Imagem:
Carolina Paiva, Edição

Nos últimos dias, o governador Ibaneis Rocha anunciou a criação do projeto que pretende transformar o Distrito Federal em um dos maiores produtores de vinho do Brasil. O projeto Desenvolvimento de tecnologias para o fomento da vitivinicultura no DF e Ride contará com investimento de R$ 786 mil da Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAP-DF) para aprimorar toda a cadeia produtiva e estruturar o enoturismo na capital federal, consolidando a cidade como parada obrigatória na rota do vinho.

O projeto busca aproveitar o grande potencial que o DF tem para a produção de vinhos finos, em virtude do clima com elevada amplitude térmica, o que contribui para a intensidade na coloração da bebida e na produção de tanino, substância responsável pela estrutura dos vinhos tintos.

“Nós temos aqui vários produtores que já estão entregando vinho aqui na região e vamos incentivar, agora, também através da FAP-DF para que tenhamos uma produção cada vez melhor, estudando os terrenos, os solos e as melhores uvas para plantar na região”, declarou o governador.

O mercado já tem atividade relevante na região desde 2019, quando um conjunto de empreendedores criou a Vinícola Brasília no Programa de Assentamento Dirigido do DF (PAD-DF). Localizada na região leste, a área tem vocação agrícola com aplicação de alta tecnologia, enquanto a cooperativa já trabalha na construção de um complexo vitivinícola. A safra de 2020 bateu recorde e renderá cerca de 1,7 mil garrafas de vinhos genuinamente brasilienses.

“Enxergamos que os investimentos em tecnologia e inovação formam uma valiosa ferramenta para a geração de conhecimento e riquezas para todos os setores da nossa sociedade. Nosso intuito é direcionar cada vez mais os investimentos do GDF para projetos e pesquisas aplicadas que atendam a este objetivo. Nosso apoio ao projeto Desenvolvimento de tecnologias para o fomento da vitivinicultura no DF segue essa estratégia, pois vai acelerar os estudos sobre as características únicas da nossa região, como de solo e clima, potencializando a capacidade de produção e qualidade dos vinhos finos, transformando Brasília em uma rota de turismo vinícola e gastronômico”, afirma o diretor-presidente da FAP-DF, Marco Antônio Costa Júnior.

Marco Antônio cita, ainda, o desdobrar dessa cadeia: “Existe um potencial real de desenvolvimento desse novo polo econômico para aquecer esse mercado, gerar novos negócios, empregos e oportunidades”.

Vocação vinícola
Tudo começou com a descoberta, por pesquisadores mineiros, de uma nova metodologia de cultivo de uvas. De acordo com a enóloga da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig) Isabela Peregrino, o ambiente do cerrado é propício para uvas devido a características do solo arenoso e com boa drenagem, além do clima e da amplitude térmica entre dia e noite. A produção de vinhos comuns no bioma, os chamados vinhos de mesa, existe desde os anos 1980, principalmente em Goiás. Porém, a introdução do método da dupla poda, técnica desenvolvida pelo pesquisador Murilo Albuquerque (Epamig), proporcionou a plantação e a colheita de uvas no local que dão origem a vinhos finos.

Depois de cerca de 20 anos de pesquisas, a uva que se mostrou mais adaptada à produção no cerrado foi a Syrah, tipo que embasará o projeto de pesquisa Desenvolvimento de tecnologias para o fomento da vitivinicultura no DF e Ride, coordenado pela pesquisadora da Universidade de Brasília (UnB) Márcia Terezinha Longen Zindel e financiado pela FAP-DF. O trabalho vai mapear os processos produtivos, elaborar cartas de controle estatístico da produção, estabelecer um planejamento enoturístico da região do DF e Região Integrada de Desenvolvimento (Ride) e detalhar a estrutura regulatória do vinho e produção vitivinícola no Brasil.

O programa de pesquisa é estruturado em três principais eixos: a adequação da produção às melhores práticas de gestão da qualidade por meio da aplicação estudos técnico-científicos ao solo, vinicultura e métodos de gestão da produção; o estabelecimento de um mapeamento enoturístico da região e análise regulatória do vinho e produção vitivinícola no Brasil.

Com esse objetivo, os pesquisadores vão trabalhar para desenvolver seis objetivos específicos:

1. Pesquisar e implementar uma metodologia qualitativa e quantitativa de mapeamento de processo e elaboração das cartas de controle para este segmento da vitivinicultura;

2. Compreender o contexto técnico dos solos de plantio, garantindo um tratamento adequado da terra e a maximização dos nutrientes disponíveis. Ainda, as formas de poda que deverão ser utilizadas e a definição das melhores plantas que se adaptem às características geoclimáticas do Centro-Oeste;

3. Adequar os parâmetros de produção de vinhos conforme as melhores práticas, levando em consideração as restrições impostas pela região, desde restrições de equipamentos, logística e climáticas;

4. Estabelecer catálogo de atividades e empreendimentos para compor a oferta enoturística da nova região produtora de vinhos;

5. Elaborar proposta de alteração legislativa relativa ao arcabouço regulatório de vinhos no Brasil;

6. Estabelecer procedimento de submissão para registro de propriedade industrial (Denominação de Origem Controlada).

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