Palavras da barbárie
Dias do rei fraco que fez fraca sua forte gente estão por um triz
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emTenho muito medo das palavras. Elas têm a força de um torpedo teleguiado. Como na canção de Vanessa da Mata, saem quase sem querer, fogem se deixarmos e geram impactos além de nossos próprios limites. Por isso, devemos pensar e escolher sempre o que vamos dizer, de modo que os versos saiam para o bem e não para o mal. Não esqueçamos jamais que as palavras violentam, agridem, enlouquecem, adoecem e nos fazem dormir. Pior é acordar e perceber que não tivemos absolvição. Pelo contrário. Sonhamos, sonhamos e despertamos com o circo pegando fogo e com o parquinho triste e sem a natural alegria do povo brasileiro. Palavras mal pronunciadas imortalizaram esta semana o cantor Sérgio Reis. O áudio vazou e mostrou o patético artista sem forças até para explanar seu desejo incontrolável de invadir o STF e derrubar os ministros. Acabou passando mal com o exagero das bobagens que pronunciou.
Sem meio termo, Sérgio Reis mostrou o que muitos descobriram apenas dois anos e meio após as eleições de 2018. Com a consciência democrática e com o peso do voto, escolhemos uma impensável involução, daquelas que a reabilitação, se vier, será longa e dolorosa. Não faz muito tempo, a direita raivosa divulgava aos quatro ventos que a insistência com governos de centro-esquerda nos levaria com facilidade e rapidez ao que eles chamavam de venezuelização. Ainda não havia a cultura das fake news, mas muitos brasileiros desavisados ou desaculturados social e politicamente chegaram a acreditar que um governo qualquer pudesse quebrar uma nação cuja economia é considerada a oitava do mundo. Analistas, socialistas, políticos de correntes variadas e até pais de santo faziam pilhérias sobre as administrações petistas.
Fazia parte do jogo de caça ao gato. Entretanto, jamais um deles imaginou o Brasil na penúria econômica da Venezuela ou em situação de desajuste social como no quintal da ratazana Nicolás Maduro e seu bando. Pelo menos há dois anos e meio não havia essa hipótese. Volto ao poder das palavras. Água mole em pedra dura tanto bate até que fura. Pois é, o que parecia utopia em relação a Terra Brasilis está bem próximo de cada um de nós. E não é culpa do PT. Até recentemente achávamos que, com governos sérios e capazes, nunca perderíamos bens inalienáveis, entre eles nossas riquezas naturais, a solidariedade e, sobretudo, a alegria. Ledo engano. Já não temos água com fartura. Nossos mananciais estão secando. A consequência são os aumentos nas contas de luz, os apagões e os racionamentos.
Com apoio do governo federal, nossas florestas estão virando pastos ou se transformando em cinzas e em fortunas para madeireiros tacanhos e inescrupulosos. O resultado é a devastação de biomas ricos e que fatalmente farão muita falta a gerações futuras. Enquanto brincam de governar, nada é feito para recuperar o que perdemos diariamente. E o que dizer da divisão política gerada por supostas ideologias, cuja definição a maioria que a utiliza como discurso não conhece. Como sequela, herdamos duas terminologias idiotizadas e absolutamente fora das curvas da sensatez e do equilíbrio entre os povos. Refiro-me aos adjetivos criados para dividir em dois o Brasil: esquerdopatas e direitopatas. São adjetivações dignas de psiquiatria, possivelmente de manicômio, que contribuem cada vez mais para aniquilar com um dos mais sentimentos de humanidade do povo tupiniquim: a solidariedade.
E a alegria, cartão de visitas de qualquer brazuca? Foi engolida pelas reiteradas ameaças golpistas, pelas zombarias fundamentalistas e agora pelo desemprego, pela fome e pela volta da inflação. Definitivamente não é o Brasil com o qual sonhamos. Com o poder de reação do povo, a fertilidade de nossa terra e ausência de mazelas naturais, dificilmente os idiotas de plantão conseguirão a banalização político-econômico-social experimentada pela Venezuela ou por nações lideradas por ditadores, terroristas, celerados, mitos ou aproveitadores dos bens alheios. Independentemente da vontade de alguns, a força e a robustez da maioria do brasileiro evitará que o Brasil seja entregue à barbárie. Não há mais tempo para isso. O mundo torce para que retomemos o status quo, que voltemos a crescer e a pensar como grande nação.
Bastou massificar a imunização contra a Covid-19 para que os brasileiros parassem de morrer em série. Isso quer dizer que havia – e há – algo de neurastênico com aqueles que negavam – e negam – a doença. Além da sordidez espalhada pelos corpos, pregavam o ódio, a bestialidade e remédios ineficazes. Ou seja, a intenção era a morte em massa. O país, as instituições e alguns políticos despertaram. A esperança começa a vencer a dor. Em breve, a República de Bananas será apenas uma triste lembrança. O Haiti e o Afeganistão não nos farão ter mais pesadelos. Fez-se luz onde havia involução. Nossas palavras serão de otimismo. Estamos próximos do fim do fraco rei que um dia fez fraca sua forte gente. Como na canção de Vanessa da Mata, as palavras adoecem, curam ou dão limites. Nosso limite foi ultrajado e ultrapassado. É hora de reabilitar o coração.