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O circo da democracia

Jogo bruto de caminhoneiro é adorar o mito e afundar o país

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Autor/Imagem:
Wenceslau Araújo - Foto Alan Santos

Patriota convicto e das antigas, jamais precisei de simbolismos para mostrar a correligionários ou opositores meu amor pela minha pátria. Me enrolar na bandeira nacional, pendurar flâmulas ou similares nas janelas de meu apartamento e amarrar pedaços de panos verdes e amarelos na antena do carro são gestos que ultrapassam qualquer senso de normalidade. Me perdoem os que assim agem, mas, além da cafonice, essas ações são intimidatórias, excedem o fanatismo barato e se aproximam rapidamente da idiotização. São feitos abjetos que se aplicam aos dois ou mais lados da política brasileira. Por obra e graça de um cidadão que não sabe conjugar o verbo respeitar em todos os tempos, hoje o modismo virou sinônimo de ufanismo, substantivo masculino que significa se orgulhar exageradamente por alguma coisa.

Eu torço, vibro e defendo o Brasil sem o compromisso do exagero, sem a emoção do torcedor de futebol. Resumindo, como cidadão consigo separar ideologia de pessoas, competência de comportamento, roubalheira de discursos de falsa honestidade. Consigo, sobretudo, lamentar e sofrer com as desigualdades. Sou apartidário e, portanto, defensor de governos sérios e comprometidos com o povo. O que menos importa é a legenda que os abriga. O que não dá para engolir é a proteção exagerada a baluartes de coisa alguma. No jargão jurídico, lembra tutela antecipada de alguém que erra corriqueiramente, mas exige de seus apoiadores uma constante salvaguarda para tentar evitar o julgamento do mérito.

Tudo isso para chegar ao Dia da Independência dos bolsonaristas raiz. Eles não conhecem a árvore, mas defendem e se apoiam nos seus troncos como se eles fossem seguros. O grupo que ajuda o presidente a conduzir o país a partir dos jardins do Palácio da Alvorada é o mesmo que contribui com o desvio do foco do próprio desgoverno. Não saí de casa no 7 de Setembro, mas não foi difícil perceber que a ordem do dia era o confronto, ameaças às pessoas e às leis e intimidações ao Supremo Tribunal Federal. Nenhuma palavra sobre a fome, o desemprego, a inflação e ao preço dos combustíveis. Não houve uma única proposta para resolver os numerosos problemas dos brasileiros. Aliás, nunca houve. Associado à horda e aos clãs, a grande preocupação do comandante da operação é se agarrar ao poder para fugir das barras dos tribunais, consequentemente de algo muito pior.

É essa a democracia que a quadrilha autodenominada patriota defende? Parece que sim. Sorte que seus integrantes representam apenas de 12% a 15% do eleitorado. Ainda que cheguem a 20%, não serão suficientes para reeleger o mito de barro. Enquanto isso, reitero a pergunta que faz tempo não tem resposta. Presidir ou incendiar o país? Eis a questão. Tudo indica que o incêndio é mais fácil e até mesmo bíblico. O problema é que morreremos todos, inclusive os quadrilheiros, os ateus e os agnósticos, entre eles os rotulados de raiz de uma árvore apodrecida, mas que insiste em se apegar a Deus acima de tudo. Antes de cumprir mais essa narrativa em defesa do verdadeiro patriotismo e do progresso do Brasil, tenho de responder a um grosseiro aprendiz de feiticeiro do Maranhão. Ele parece escolado, mas, como os demais de sua trupe, parecem os rebeldes sem causa de minha infância. Combatem o comunismo sem ter noção alguma do que o vocábulo representa. Talvez o governador Flávio Dino posso informá-lo a respeito.

Não moraria na China porque sou brasileiro. Desse modo, se vocês deixarem, quero ser democrata aqui. Lembro ainda que seu negacionismo transformou em números 584,2 irmãos que você fez – e faz – questão de ignorar. Estou imunizado contra a Covid graças a uma vacina que você e seu presidente queriam impedir de chegar ao Brasil apenas por ser produzida na China, país que você chama de comunista, mas que, por conta das inúmeras parcerias econômicas, ajuda o nosso a fechar as contas no fim do mês. Orgulhoso de ser brasileiro, acrescento que não tenho qualquer vinculação partidária, tampouco medo de registrar, como profissional de imprensa, os erros da esquerda. Agora culpá-la pelo desmazelo do seu presidente – o pior da história brasileira – é demais, beira a insanidade. Sobre o desvio de recursos do combate à Covid, a esquerda não é governo faz mais de cinco anos.

A respeito dos protestos do dia 7 de Setembro, lamento informá-los, mas vocês ainda têm muito a aprender. O cúmulo do amadorismo de querer o poder pela força foi o fechamento de algumas rodovias. Vocês protestam contra o vosso próprio governo. Obrigam o presidente aloprado a pedir arrego publicamente, sob pena de a economia nacional e as finanças públicas acabarem definitivamente no buraco. Vocês realmente não sabem o que dizem, muito menos o que fazem. Uma pena o país estar entregue a uma turma de fanfarrões, liderados por um maestro que não consegue reger a família. Resumindo, está dado o tiro no pé. E não me venham com churumelas. Vocês não vão enganar mais ninguém. Talvez – e só a esses – os vestibulandos do desvario.

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