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Fuga do fogo

Ibama remove jacarés para evitar morte no Pantanal

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Autor/Imagem:
Leandro Barbosa e Victor Del Vecchio/Via El País - Foto Gabriel Schlichmann

Ao entrar na MT-060, estrada de terra de 147 km conhecida como Transpantaneira é possível notar o impacto da pior seca dos últimos 60 anos que o bioma enfrenta. Situação que levou o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Renováveis (Ibama) a uma ação emergencial neste domingo (19), inédita na região, de realizar a translocação de mais de 200 jacarés para outros locais da estrada que ainda possuem água e alimento, a fim de evitar a morte dos animais. A MT-060 é porta de entrada para o Pantanal matogrossense, em Poconé, cidade a 104 km de Cuiabá.

Apesar dos jacarés serem resistentes aos períodos de seca no Pantanal, a condição atual do bioma não permitiu que estes animais se alimentassem o suficiente para o momento da brumação ― período de letargia e baixa atividade metabólica a fim de poupar a energia em situações adversas. Com isso, muitos deles não têm a força necessária para encarar a falta de água e a fome, duas situações que já são uma realidade entre eles desde 2020, mas que se intensificaram neste ano.

“A gente entende que este animal passa por esta situação de seca todos os anos, mas não nesse nível tão dramático. E isso vem em uma sequência de dois anos. É necessário a gente ponderar a necessidade de manejá-los. Lógico que quando você pensa num contexto de população não faz diferença nenhuma. Agora, quando você pensa no indivíduo, na qualidade de vida deste animal, você começa a ponderar que é pertinente tirá-lo daqui e levá-lo para outro lugar”, afirma o servidor do Ibama, Bruno Campos. Os jacarés seguem nos carros do Instituto para uma distância de até 30 quilômetros para encontrar um ambiente propício para sua alimentação.

Campos explica que está sendo feito o monitoramento de água diário da ponte 3, local onde estão os jacarés, e que a água diminui em uma quantidade razoável a cada dia. “Devido a quantidade de animais que estão ali, a escassez de água aqui e em outros locais no entorno, a gente resolveu fazer a translocação destes animais e realocá-los em lugares com disponibilidade de água e alimentos para ver se melhora a chance deles de sobrevivência”, afirmou.

De fevereiro a maio, o Pantanal norte costuma viver inundações. Por isso, a Transpanteneira conta com 120 pontes, várias delas ainda de madeira. Os rios formados pela inundação e que passam por debaixo delas são chamados de corixos. Mas, praticamente todos eles estão secos, pelo fato do Pantanal não ter alagado neste ano e no passado.

Há animais ilhados pela seca, que permaneceram em pontos de água sem condições de migrarem para outros locais por não haver disponibilidade hídrica por vários quilômetros de distância. “Essa seca vem do ano passado e possivelmente vai perdurar pelos próximos dois, três anos”, diz Campos. “Quando você analisa a situação destes animais tem uma somatização de situações: desmatamento, supressão de água do lençol freático, as queimadas que acaba reduzindo o alimento que ele precisa. No ano passado o rio não entrou aqui por uma série de fatores. Por ele não ter entrado, não teve a disponibilidade de alimento que é normal ano a ano”, pontua.

Ações humanitárias
ONGs estão atuando de forma incansável a fim de garantir a sobrevivência dos bichos no bioma com maior densidade por quilômetro quadrado de mamíferos no mundo. Caminhões-pipas estão enchendo corixos onde ainda há resquícios de água o suficiente para alguns animais viverem. Uma corrida contra o tempo encarando um solo arenoso, a baixa umidade do ar e um calor de mais de 40ºC, um conjunto de situações que culmina na evaporação de milhares de litros d’água por dia.

De acordo com a coordenadora do Grupo de Resgate de Animais em Desastres (GRAD), a médica veterinária Carla Sássi, a decisão de translocação dos animais aconteceu diante de um cenário difícil de morte de vários animais diariamente. “Foi feita a análise da água. O resultado foi que este lugar está totalmente impróprio para a sobrevivência destes animais, mesmo eles sendo muito resistentes”, disse Sássi. Para a veterinária, a situação em que os jacarés estão é totalmente incompatível com a vida. “Todos os dias chegamos aqui e há cinco, seis deles mortos com características de desnutrição e desidratação”, afirmou Sássi.

O GRAD é formado por profissionais voluntários com o objetivo de promover ajuda humanitária a animais em circunstâncias de vulnerabilidade, e está atuando junto ao Ibama na realização dos jacarés. Em campo, estão 11 profissionais do grupo, divididos entre captura e atendimento primário aos animais. Junto a eles estão as organizações Brigada Norte SOS Pantanal e Ecotrópica. Para a traslocação está sendo usada uma van climatizada, onde estão sendo levados ao menos 15 jacarés por vez. A estimativa é que a ação dure de 2 a 3 dias.

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