Adjetivação absurda
Comunismo no Brasil é utopia inventada pelo bolsonarismo
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emComo sempre faço nas manhãs sem alguma atividade rotineira, despertei hoje com um vocábulo consumindo o restinho de sono. Vencido pela necessidade de responder à minha conhecida ansiedade, fui direto para a Wikipédia consultar a lógica do termo comunismo. Primeiro passo foi saber onde ainda existe esse tal estado unipartidário. Dos 195 países do planeta, apenas cinco têm sistema ligados ao comunismo: China, Vietnã, Laos, Coreia do Norte e Cuba. Enquanto madornava, imaginei algo absolutamente fora de propósito, nojento, pernóstico, marxista, russo, chinês, cubano, petista. As primeiras leituras me levaram à certeza do exagero da adjetivação relativa aos brasileiros. Não temos e jamais tivemos essa vocação. É uma ameaça que povoa exclusivamente a cabeça de pessoas resistentes ao progresso educacional de um povo.
São aqueles que não têm a menor ideia do que dizem, mas sabem bem o que querem: a eterna subordinação de seus comandados, o que, no mundo moderno, só se consegue por meio do poder pela força. Na prática, os que afirmam combater o comunismo onde ele não existe são déspotas, ditadores, tiranos, isto é, muito mais sanguinários. Do ponto de vista didático, pelo menos no Brasil, o comunismo é uma utopia inventada contra o crescimento de ideologias mais populares. O sistema consiste em uma doutrina política e socioeconômica que defende o “estado natural”, ou seja, uma sociedade igualitária, sem propriedades privadas e com direitos iguais para todos. Realmente tudo a ver com o Brasil de ontem, de hoje e de sempre. Portanto, saber falar é bom, saber ficar em silêncio é ainda melhor.
Faço meu o texto a partir de um antigo pensamento: “Antes ficar calado e te acharem um tolo do que começar a falar e terem certeza disso”. Tornou-se prática comum para o clã Bolsonaro ter o PT, os petistas e Luiz Inácio como parâmetros comunistas. Fácil pensar assim. Difícil é dar ao pessoal do cercadinho respostas lógicas para ovações ilógicas e meramente bajuladoras. Meus caros compatriotas, no comunismo as desigualdades são sistematicamente abolidas. A experiência desse sistema parte da premissa de que desigualdades geram problemas como a violência e a miséria. Então, fôssemos realmente afeitos a essa doutrina seríamos tão desiguais como somos? Teríamos quase 15 milhões de pessoas na extrema pobreza? Dizer que o PT é comunista é mais do que exagero. É uma aberração, uma burrice política.
Como pode um partido socialista governar se aliando ao grande capital e favorecendo abusivamente empreiteiras e banqueiros? Será que estou exagerando? Foi uma gestão popularesca, mas muito distante dos ideais de Karl Marx e Friedrich Engels. Como democrata, fecho com todos os que defendem o voto direto, participativo e representativo como forma de poder. Não há outro caminho para a soberania e liberdade do povo. Por exemplo, temos o dever de combater os corruptos, independentemente de onde eles estejam. Não basta admitir malfeitos de filhos. É preciso aceitar que eles sejam investigados e, se for o caso, punidos exemplarmente. Como dizia o dirigente esportivo Vicente Matheus, quem está na chuva tem de se queimar. A alusão ao esporte me faz lembrar de uma infância e juventude pródigas em conhecimentos variados, em informações conseguidas com alguma dificuldade.
Foi um período triste de viver, mas de algumas boas lembranças, principalmente porque sabíamos em que tipo de terreno estávamos pisando. Também me lembro das vezes em que, silenciosamente e às escondidas, me insurgi contra a ditadura iniciada em 1964. Era rebelde, tinha causa, mas, com absoluta certeza, jamais vesti a carapuça de comunista ou de subversivo. Como a maioria de minha época, queria viver em uma nação livre. Queria o direito de andar pelas ruas de minha cidade ou do meu país sem medos ou preocupações. Desde aquela época sempre gostei das peladas informais de fim de semana. Também me deliciava com as formais. Perna de pau assumido, tomei conta da camisa 13, normalmente destinada ao terceiro, quarto e, às vezes, décimo reserva. Continuo nas peladas, mas fui obrigado a aposentar o número.
Embora não seja petista – na verdade não tenho filiação partidária alguma -, temo ser confundido e perder a vida por conta da ignorância alheia. Afinal, vivemos em uma pátria que odeia quem aparece bem ou ocupa espaços deixados pelos que ignoram a paz. Por isso, o ódio e o rancor do mito e da família a Lula e ao conglomerado Globo. Para Jair Messias, até o cachorro que não late diante dele é comunista. O ostracismo é o preço a ser pago por quem nada produziu de útil para o país. Tudo bem. E o que tenho a ver com isso? Porque sou insistentemente taxado de comunista? A razão é simples: sou contra quem só aceita bajulação e reverência e não acredito naqueles que se vendem como a alma mais honesta. Foi assim no passado, é assim e será sempre assim, principalmente se a referência for a política.
*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978